StatCounter

View My Stats

01/08/25

217

CARTESIANISMOS

António Mesquita

(René Descartes por Frans Hals)



"Com a excepção do abade Meslier e do seu Testamento póstumo publicado em 1729, é preciso esperar pelo século XIX para encontrar pensamentos ateus dignos desse nome – Feuerbach, Nietzsche e Marx, por exemplo. Quando Franz Hals pinta seu famoso retrato de Descartes em 1649, ele retrata muito mais do que um rosto: expõe numa pequena tela os grandes efeitos da nova metafísica. A Idade Média mostra o filósofo cercado pelos seus livros, conversando com seus discípulos ou a professar em púlpito, vestindo o hábito da sua ordem, como o dominicano Tomás de Aquino, ou ostentando a mitra do bispo como Santo Agostinho, escrevendo como Ambrósio, majestoso em seu vestuário pastoral, ou com a cabeça apoiada na palma da mão, meditando diante duma estante, como Boécio da Dácia. O filósofo é um leitor, de Aristóteles ou da Bíblia, de Platão ou das Escrituras, de Porfírio ou dos Evangelhos, mas é um leitor que se insere na tradição literária. Pensar é, então, o que Montaigne nomeia como um dedicar-se à glosa, ou seja: comentar os comentários. O pintor flamengo rompe com essas maneiras de fazer, assim como Descartes também cortou os laços com a escolástica. O que diz esta obra? O mestre de Haarlem pinta um filósofo quase inteiramente em preto e branco: negro uniforme o fundo da tela, negros os cabelos longos que caem sobre os seus ombros, negro o seu bigode e a pinta sob o lábio inferior, negras as sobrancelhas, negra a capa dissolvida no fundo negro também, negro o seu chapéu segurado na mão; branco o colarinho que se destaca nessa escuridão e leva o rosto do pensador como se fosse uma bandeja. Este rosto cor de carne, assim como a sua mão,  destaca-se na escuridão de todo o resto. Não há nada aqui além do filósofo, pois este homem, precisamente, e essa é toda a sua revolução, extrai toda a sua filosofia de si mesmo e de nada mais do que dele. Não há lugar para Deus nesse dispositivo pictórico. Descartes olha para o espectador; alguns acreditam notar um traço de ironia no desenho da boca: no entanto, não se encontra nada mais neste rosto do que o olhar firme e confiante de quem sabe ter virado a página de um mundo e aberto outro capítulo da história do pensamento, portanto, da história, portanto, da humanidade. Pois Descartes inventa o sujeito moderno que não deve mais nada a Deus, mas tudo a si mesmo: quando ele saiu em busca de sua primeira verdade, a pedra sobre a qual ele iria construir a sua igreja deísta, Descartes reivindicou o uso de uma dúvida metódica. Precaução útil, pois Giordano Bruno acabara na fogueira da Igreja Católica em Roma trinta e sete anos antes e, três anos antes, Galileu teve problemas com os seus Diálogos sobre os dois grandes sistemas do mundo. Tratava-se de não reivindicar uma dúvida sistemática que teria levado consigo a monarquia e o catolicismo, mas de poupar a política e a religião duvidando de tudo, excepto disso." (Michel Onfray, traduzido de "Décadence, Vie et mort du judéo-christianisme")

O retratado no quadro de Frans Hals (peço desculpa pela extensa citação, mas não pude resistir, tão feliz me parece) é bem o símbolo da primeira modernidade, a que deixou para trás os demónios e a cegueira da Idade Média e nos abriu um período de incomparáveis descobertas tecnológicas e científicas.

Mas os sucessos da "idade da razão" mudaram de escala neste nosso século XXI. Percebemos, com alguma surpresa, que o chamado progresso pode ser ilimitado, mesmo se não nos deixa incólumes, mesmo se continua para além de nós, o que quer que isso queira dizer.

Ao mesmo tempo, ao lado da aventura do que é sempre conhecimento, mesmo que cada vez mais especializado, mais "ventríloquo" e divergente duma 
qualquer sageza, outros demónios, em nada diferentes dos que aparecem à solta nos quadros de Hyeronimous Bosch, outra cegueira que nos antolha para os efeitos das várias corridas que competem no armamento, no desperdício e nos fanatismos religiosos ou sectários, num planeta que deixou de ser maternal para nos hostilizar abertamente. Como saída, alguns já gastam fortunas e meios essenciais  numa futura diáspora para...Marte.

Confiámos demasiado no "Cogito  ergo sum" daquela figura que nos olha da sua realeza e independência soberana no quadro de Hals? E a razão pode ainda salvar-nos, sem o auxilio duma força outra que só podemos encontrar naquilo que nos une enquanto "filhos da Terra" (porque já não é razoável dizer "filhos de Deus)?

Descartes elidiu com muito tacto, ou porque nunca deixou de crer, o problema do ser. Quem somos, e quais os títulos da nossa inteligência para ultrapassar os limites de tudo que tem uma existência física. É-se cartesiano quando acreditamos que podemos fundar o conhecimento numa separação entre o sujeito e tudo o que o rodeia. Quando podemos, pela simples vontade, iniciar uma ordem do mundo. Sem que a ideia de Deus tenha que fazer obstáculo.
Acreditamos que foi assim que Deus nos fez e que só assim podemos estabelecer um "diálogo".

Embora Einstein seja um dos grandes artífices da segunda modernidade  em que a razão encontrou os seus limites, sem deixar de ser essencial para compreender esses limites, ele é ainda cartesiano, no sentido de que deixa Deus de fora dos seus cálculos, sendo deísta declaradamente, à maneira spinozista. Simone Weil diz mesmo que Descartes, a exemplo de Poincaré, já no século XX, não parece exigir que as teorias científicas sejam verdadeiras, mas simplesmente cómodas. Porque, como diz, "pode encontrar-se a solução dum problema sem que isso seja ciência". E a relatividade consistiria em 'introduzir' na expressão da lei, as condições da própria constatação, a definir o ponto de vista, a totalidade das perspectivas, de maneira que a lei se complicasse quase ao infinito, até à não-lei e ao facto singular.

Cartesiano, sim, mas consciente de que todos os paradoxos dessa posição são a nossa medida e condição.

CINEMA

A UMA TERRA DESCONHECIDA






"Apoderou-se da Turquia e da Síria, declarando que as libertava do jugo persa. Conquistou a franja da Palestina e da Fenícia; todas as cidades se renderam sem oferecer resistência, salvo duas: Tiro e Gaza. Quando caíram, depois de sete meses de assédio, o libertador aplicou-lhes um castigo brutal. Os últimos sobreviventes foram crucificados ao largo da costa - uma fileira de dois mil corpos agonizando junto ao mar. Venderam como escravos as crianças e as mulheres."

(sobre Alexandre, Irene Vallejo, " O infinito num junco")




Um filme desesperado sobre um impasse que não pode ser visto, sem fechar os olhos, de um só ângulo.

Dois refugiados palestinianos em Atenas que sonham em gerir um café na Alemanha. Mas a capital em que se encontram não é a da Antiguidade clássica, nem a do turismo de massas ou de elite. O cenário são as vielas sujas e enlouquecidas pelos graffitis e os slogans . 

Vivem de expedientes de ocasião, como vender o corpo num parque, roubar a mala duma velha no jardim ou fugir com uma caixa dos sapatos que fingem experimentar. A descida até à última degradação, leva-os a enganar  e a torturar outros refugiados, parasitando uma rede de passadores clandestinos. 

O mais novo dos dois, na véspera do voo ambicionado, sucumbe a uma dose de droga.

O realizador, Mahdi Fleifel, de origem palestiniana, dedica o filme à sua mãe.

E o espectador - a palavra  parece até injuriosa para a "causa" - só pode esquecer a empatia que durou uma hora e quarenta e cinco minutos e voltar ao seu ramerrão.

A imagem do Cristo, enquanto simbologia do supliciado, acompanha-nos, alguns momentos, através da arte e do rito. 

Para que aceitemos, como condição humana, ou nos revoltemos?

NO CORRER DOS DIAS

Marques da Silva

Mister Risti
Igor Vlasof



Liinarramari, Península de Kola. O caminho para os sonhos parece-se demasiado com a vida, a qualquer instante muda o rumo da jornada e torna-se mais distante o destino. E neste deslizar da bússola, procuramos não ficar retidos na surpresa, mas antes avivar a arte de viver e de sonhar, perante as novas coordenadas. Foi assim que, pensando o oposto, não abandonei o Árctico, pese embora a mudança de lugar que me trouxe a esta aldeia perdida no globo, de escassos habitantes, mas de continuada posição estratégica. Já foi espaço fechado enquanto base de submarinos. Hoje só lhe restam patrulheiros e barcos de pesca. Ao que parece, sendo um porto que nunca gela, conheceu vários ocupantes e já mudou de país. Poucos quilómetros a norte, numa reentrância da costa que quase forma uma ilha, surge-nos uma outra aldeia dedicada à pesca tradicional e submarina. Com caminhos terrestres que nos deixam ainda longe da pequena enseada, procuro veredas e bocados de terra entre a pedra para evitar seguir pelo mar. Neste recanto, o sossego é ainda mais elevado e por ali vivo entre silêncios e os pequenos ruídos que chegam diluídos no respirar do mar. As horas passam, mas não sentimos que nos leve o corpo. Permitindo que o pensamento repouse em reflexões prolongadas, vejo que entre as imagens, o mundo aparece no estertor da decência e da humanidade. Ao recordar o que chamas de ética ou moral, verifico como o sentido de tais palavras aparece agora tão distante e incompreendido, tão esfarrapado, na mente e nas acções dos psicopatas que alcançam o poder para semear a barbárie e a sua insânia demencial. Como afirma Lídia Jorge numa recente entrevista, “Calcem as galochas. Vamos Atravessar a lama”. Estamos enlameados, não por um acto voluntário, mas por terem-nos empurrado para um pântano. Quis acreditar que me visitarias como em tantas ocasiões ocorreu, mas compreendi que neste lugar, só o silêncio me pode fazer companhia. Unamuno, descreveu numa das suas viagens, um momento de fraqueza da sua alma quando no mesmo instante em que sentiu a necessidade da presença de um amigo para compartilhar o sentimento emocional que de si se apoderou, logo rejeitou a ideia, dizendo, “Viajar em companhia de alguém não é viajar porque tira a viagem o seu mais íntimo encanto: a solidão. Não conhecer ninguém, não ser conhecido”. Mas que fazer quando num destes silêncios a nossa alma tem uma recaída?  Não o silêncio, mas os silêncios que me ensinaste a escutar quando um dia paramos no deslumbramento da meditação nas montanhas azuis. O silêncio da manhã é primaveril, transportando o sol nascente, o canto das aves, a alegria da vida; o da tarde aparece carregado de melancolia, de saudade, aproximando-nos do declínio do dia; o da noite é um silêncio sonhador, povoado de luzes estelares, das danças galaxiais e aqui, da fantasia das auroras boreais. Vivo entre estes silêncios e há dias, num desses momentos de devaneio, alguém se aproximou e perguntou o que fazia ou procurava no isolamento deste espaço. Respondi com a palavra que por aqui aprendi: любоваться, a ideia de olhar em admiração, expandir o pensamento ou o sonho para além do que é visível, perder-nos em lugares imaginados cobertos de mistério. Neste final de tarde, o postal que te envio, brinca entre os meus dedos sem conseguir decidir que palavras lhe hei-de desenhar, se um esboço do que vejo ou antes do que sinto e se desamarra numa tempestade de alienação por entre as areias que amamos e tantas vezes percorremos. Por muito que insista em concentrar as ideias presentes nos contornos destas enseadas e colinas rochosas, algo me arrasta para uma realidade que não consigo entender e que Lídia Jorge, sintetiza desta forma, “Às vezes custa-me adormecer. Quer dizer, como é que eu tenho água? Como é que eu tenho lume? Como é que eu tenho comida? Como é que eu desperdiço todos os dias um bocado de pão? E aquela gente está assim? Isto é um horror.” Tento sair deste desfiladeiro infernal que quase nos esmaga o cérebro, procurando no tempo passagens em que um naco de beleza nos fez respirar a alma, recordando quando nas areias de khorramshahr, nas margens do Chatt-el-Arab onde se perdem as águas do Tigre e do Eufrates, ainda deslumbrados pela visita à tumba de Ciro em Pasárgada, num momento de grande melancolia recitamos em simultâneo o poema em que aparece a frase tão cativante, “Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, a essa hora dos mágicos cansaços”. Fecho a tarde e prossigo a minha viagem para Ítaca. O postal segue em breve.

 

 

POESIA

Helena Serôdio



 


A MÚSICA DA FALA


Palavras são música, no seu falar.
Fazem um anel de ouro, ao permutar
As ideias de mim em ti no seu acto
E de ti em mim em psico-contacto.

Palavra... é seiva que emana da gente
Projecção da alma, realizada na mente.
Em imagens-sons, acordes, harmonia,
Solfa, comunicação e sinfonia;
Sopro e lira do pensamento,
Tecla e nota ao mesmo tempo
Palavra que actualiza, narra e conta
A mais linda cantiga de amar
Na sua música do linguajar.


AQUI

Aqui
Onde tudo é mais íntimo,
O silêncio duma muralha invisível
Que nos separa do mundo
E nos envolve em redomas de vidro,
O tempo, inadiável,
Tem a imobilidade dum corpo suspenso na vertigem dum abismo.
Aqui,
Onde o pensamento está sempre só a meditar à sombra das frondes
E se eleva para descer às entranhas da terra,
O frémito da terra é um arfar de criança adormecida.
E os ciprestes esguios,
Erectos como dedos hirtos,
Lembram filas de monges em retiro.


RESENHA

Manuel Joaquim


(https://images.app.goo.gl/Eu4XbigPQf3ySprM8)


A Livraria Bertrand, segundo diz, a livraria mais antiga do mundo, publica periodicamente uma revista “SOMOS LIVROS”, com entrevistas e com o catálogo das obras que tem à venda de diversos editores. A revista de verão de 2025, nº 40, teve uma tiragem de 35.000 exemplares.

A capa e contracapa despertaram a minha atenção. A capa apresenta uma fotografia de muitos jovens a ouvirem a leitura de um texto, presumo eu, encimada por três cravos, e o tema principal é uma entrevista de Anabela Mota Ribeiro com Domingos Abrantes, histórico dirigente do Partido Comunista Português, com o título “QUEM ESTÁ HOJE NO PODER? OS DO VERÃO QUENTE DE 1975”. Outros temas na capa: “VERÃO QUENTE DE 1975 – UM SOBRESSALTO NA DEMOCRACIA” Texto de João Céu e Silva; “A URGENCIA DA DESCOLONIZAÇÃO E O VERÃO QUENTE AFRICANO”, Texto de Rui Bebiano. A contracapa é sobre o VERÃO QUENTE DE 1975, UM VERÃO QUE AINDA NOS ESCREVE à conquista de quem ousou sonhar.

Um outro artigo que também despertou a minha atenção é do historiador Manuel Loff sobre a “REFORMA AGRÁRIA – O CORAÇÃO QUENTE DO VERÃO QUENTE”.

Outros artigos da revista são de grande interesse, designadamente, sobre José Mário Branco que a Tinta-da-china acaba de editar, “José Mário Branco – Entrevistas para a imprensa 1970 – 2019”.

A revista é de distribuição gratuita, pelo que sugiro que a procurem na Bertrand porque vale a pena. Os artigos referidos não seriam publicados no Periscópio.

Outra sugestão que faço é procurarem ver a entrevista que o Presidente da República de Angola deu em Luanda, na passada terça-feira, 22 de Julho, à CNN Portugal a um jornalista português, a propósito dos festejos dos 50 anos de Independência de Angola, onde são abordadas questões muito sérias que nos dizem respeito e avaliarem a inteligência e finura de linguagem que é utilizada pelo Presidente João Lourenço.

Mais outra sugestão é verem a entrevista do actual Governador do Banco de Portugal, Centeno, dada na sexta-feira, dia 26, ao canal 1 da RTP. As tentativas de malandrice do entrevistador sobre o investimento nas novas instalações do BP e sobre a promoção de duas pessoas, o homem esclareceu sobre as questões encomendadas.

Ao novo homem nomeado para governador, o que promoveu o pastel de nata a herói, que riscou os feriados do calendário nacional e pretendia vender ouro do BP, Centeno desejou-lhe as maiores felicidades. Hoje, sábado, 26 de Julho, um jornal económico referiu que este novo homem foi escolhido depois de cinco recusas que o governo teve. Vamos ver onde se formou e se teve aproveitamento para ultrapassar a rede de recrutamento que Centeno disse que existe no BP para a admissão de funcionários.

Vão abrir concursos para a exploração de 3 casinos para os próximos anos. Uma tal empresa de Espinho, muito falada pelas suas ligações a casinos, vai ou não intervir directa ou indirectamente nesses concursos. São muitos milhões que estão em causa. O tempo o dirá.

No passado dia 11 de Julho foi votada na Assembleia da República uma proposta para reconhecer o Estado da Palestina. Para que conste, a proposta foi rejeitada com os votos contra do PSD, Chega, Iniciativa Liberal, CDS-PP e abstenção do PS.

Sabemos quem são os cúmplices de um crime continuado. É uma situação vergonhosa. Onde estão os valores morais desta gente? 77% dos países membros das Nações Unidas já reconheceram o Estado da Palestina. Macron, presidente da França, já anunciou que na próxima Assembleia Geral das Nações Unidas, a realizar em Setembro, a França vai reconhecer o Estado da Palestina.

Estas pessoas que parecem iguais a nós mas não são, estão a contribuir para a militarização da consciência pública, aceitando levianamente os aumentos de gastos para a guerra encobrindo e mentindo sobre os seus reais objectivos. Alguns estudos que vão aparecendo apontam para o corte das pensões em Portugal na ordem de 40% do último salário.

A Alemanha não pretende reconhecer o Estado da Palestina. O senhor Merz, que foi eleito em 6 de Maio passado pelo Parlamento Alemão, está a executar uma política que nega o que defendeu durante a campanha eleitoral. Pretende estabelecer o serviço militar obrigatório, recrutando 40.000 jovens por ano para “ tornar a ter o maior exército da Europa”.  Não devemos esquecer que a Alemanha desencadeou duas guerras mundiais e em ambas foi derrotada. O que pretende Merz? Contribuir para uma nova guerra mundial? Este senhor referindo-se à guerra no Médio Oriente há umas semanas atrás referiu-se que Israel está a fazer o “trabalho sujo da Europa”. Lá sabe o que lhe vai no pensamento e nas suas obras.

Estudos de opinião feitos em Julho na Alemanha revelam que 56% dos alemães estão insatisfeitos com o dito senhor. O Senhor da BlackRock, a maior gestora de activos do mundo, americana, provavelmente a maior proprietária de terrenos na Ucrânia, não chegará certamente ao final do seu mandato.

Na semana passada os dirigentes da União Europeia, Úrsula von der Leyen, Kaja Kallas e António Costa, foram à China. Curiosamente não se vê grandes notícias sobre essa deslocação e sobre os resultados obtidos. Será que para além do chá da praxe não houve discussão? Tanto quanto se sabe  entram em reuniões como leões e saem noutras figuras. Foram metidos num autocarro e saíram a toque de caixa.

As últimas negociações decorridas este fim-de-semana na Escócia, entre Úrsula von der Leyen e Trump, depois de partidas de golf deste em suas propriedades, são relatadas por alguns como muito positivas para a União Europeia, não especificando o que realmente foi acordado. Assim o diz o português que lá está.

Para já, o que se sabe, é que em 27 de Julho foi assinado um pacto comercial sobre tarifas de 0% sobre importações de produtos dos EUA pela UE, uma tarifa básica de 15% sobre todos os produtos exportados pela EU para os EUA; a EU concordou em comprar uma “enorme quantidade de equipamento militar” (Trump), sem valores definidos, concordou em comprar “US 750 biliões” de energia aos EUA, para além de outras cláusulas. Há quem diga que os europeus se renderam às condições impostas pelos EUA e que vai continuar a caminhar para a sua desindustrialização e ser inundada com produtos agrícolas americanos. Fez-me lembrar o que aconteceu com a economia portuguesa quando acabaram as barreiras que existiam no Brasil para condicionar a entrada de mercadorias inglesas.

Foi inaugurada no sábado, 26 de Julho, a Feira de Artesanato de Vila do Conde, que vai decorrer até ao próximo dia 10 de Agosto. Tema em destaque: Benefícios da arte para a Saúde Mental, apresentando a exposição “Anjos e Demónios combater o Estigma na Doença Mental” em parceria com o Hospital de Magalhães Lemos.

Um estudo realizado sobre o tema, referido na página da internet da Feira, considera que cerca de 20% da população mundial vive com problemas de doença mental e que Portugal é o segundo país da Europa com maior taxa de prevalência de doenças psiquiátricas (quase um em cada quatro portugueses sofre de uma perturbação mental).

Como se percebe, esta doença afecta dirigentes políticos nacionais e internacionais em número muito significativo. Funcionam como o peixinho que Centeno referiu na sua entrevista, perderam a memória dos acontecimentos históricos e suas consequências para os povos. São homúnculos da política.

O trabalho desenvolvido pelo Hospital de Magalhães Lemos teria um efeito muito positivo sobre esta gente.


SOBRE O DIREITO À EXISTÊNCIA

Mário Martins

https://www.gettyimages.pt/fotos/gaza

 


O argumento, mil vezes repetido, do direito à existência do estado de Israel, tem tanto de válido como de pecaminoso.

Com efeito, a reivindicação desse direito fundamenta-se, antes de tudo, na tragédia demencial do holocausto, na desconfiança perante vizinhos que não escondem, em grau diverso, a sua hostilidade, e na defesa do objectivo, conseguido há 77 anos, de reunir o povo judeu, até então em diáspora forçada ao longo dos séculos.

Mas, se é legítimo e compreensível o direito à existência do estado de Israel, o que dizer sobre o povo palestiniano que, desde 1948, vê concretamente negada a possibilidade de se constituir em estado na mesma terra da Palestina, quer pela assanhada oposição israelita, quer pelo interesse geoestratégico dos Estados Unidos, a quem Israel serve de lança na região (talvez com a única excepção, no tempo da presidência de Bill Clinton, da promoção de tentativas de acordo entre os dois povos, embora sem êxito),  violando a resolução das Nações Unidas de aprovação da solução de dois estados?

Porque, se há povo com inteira legitimidade para reivindicar o direito a um estado, esse é o povo palestiniano.

As consequências desta situação não seriam difíceis de imaginar, como, aliás, não seria difícil de imaginar a reacção de Israel ao ataque terrorista do Hamas, de 7 de Outubro de 2023, mas não uma resposta totalmente desproporcionada e insensata.

O povo palestiniano, organizada ou espontaneamente, tem, ao longo destas décadas, lutado e resistido como pode, seja à pedrada, seja militarmente, seja até com actos terroristas. Tudo isso, porém, tem esbarrado na insensibilidade e superioridade bélica israelita (que inclui armamento nuclear não declarado).

Os fins não justificam os meios. Um povo, como o judeu, que sofreu na carne as maiores ignomínias e um genocídio organizadamente executado, a pretexto da sua pretensa inferioridade rácica e demonização ideológicas, deveria lembrar-se que está a usar, se não os mesmos, métodos equivalentes contra o povo palestiniano. A destruição e a mortandade de Gaza (que o actual inquilino da Casa Branca declarou, com o habitual desaforo, querer transformar na Riviera do Médio Oriente), e a condenação dos palestinianos à diáspora, não têm perdão.

Como disse, na altura, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, “os ataques do Hamas não surgiram do nada”.

 

01/07/25

E AGORA, ESQUERDA?

Mário Martins

https://eco.sapo.pt/especiais/fotogaleria-a-campanha-eleitoral



Os vaticínios falharam mais uma vez: o povo não só não debandou, como ordenou que a direita ou centro-direita ganhasse as eleições, que a extrema-direita ou direita populista continuasse a sua cavalgada eleitoral, e que a esquerda soçobrasse.

Muito devido à derrocada do Partido Socialista e do Bloco de Esquerda, em conjunto a esquerda perdeu, comparando com as eleições do ano passado, quase meio milhão de votos e 23 deputados, salvando-se apenas o Partido Livre, que subiu cerca de 50 000 votos e obteve mais 2 deputados. Já o Partido Comunista contínua a sofrer a erosão da sua expressão eleitoral nacional, perdendo nos últimos 10 anos cerca de 262 000 votos, não chegando, agora, aos 184 000.

Para a corrente de opinião que não considera o PS de esquerda, então esta apenas representaria cerca de meio milhão de votos (em mais de 6 milhões de votantes), com apenas 10 deputados (em 230 lugares). Ou seja, nessa perspectiva, a esquerda é, em termos eleitorais nacionais, praticamente irrelevante.

Para essa corrente de opinião, o povo está mal informado e intoxicado pelos media, escusando-se, no entanto, a esclarecer onde existe uma comunicação social (mais) livre e desintoxicada. Segue-se daqui que o povo real vota contra o seu interesse, coisa que o Partido Comunista já lembrou e “repreendeu”, que o “povo que mais ordena” é um povo ideal, e que a Esquerda não tem nada a mudar. 

Neste quadro lastimoso, os resultados das próximas eleições autárquicas, que serão vistos como uma segunda volta das legislativas, afiguram-se cruciais para a Esquerda minorar os estragos sofridos com o cataclismo eleitoral de Maio, e manter a sua influência no seio das populações locais. 

COMPROMESSO STORICO

António Mesquita


"Não importa a cor do gato, desde que cace os ratos".
 Deng Xiaoping



Neste momento da actualidade geo-política qual é o significado duma homenagem a Enrico Berlinguer, um homem de esquerda que acreditou na passagem gradual da Itália capitalista para o socialismo?

O filme de Andrea Segre, de 2024, começa pelo contra-exemplo da experiência chilena de Salvador Allende e o golpe de Pinochet de 1973. Parece ter ficado demonstrado que não era possível "fazer a revolução" através de eleições.

Por isso, mas não sobretudo por isso, a ideia do "compromisso histórico" de que Berlinguer fez o seu cavalo de batalha, foi mal recebida nos países do bloco de leste. A razão principal era que ela punha em causa a "unidade" do dito bloco e a hegemonia da URSS, surgindo aos olhos desses regimes como uma ameaça. No início do filme, Berlinguer encontra-se em Sofia é alvo dum atentado da polícia secreta búlgara.

O que torna credível o "compromisso" é a específica situação italiana. O PCI é o maior partido comunista europeu, com 1,7 milhões de inscritos e 12 milhões de eleitores. Um golpe à Pinochet não encontraria, talvez, o terreno favorável em Itália. Mas o PCUS não poderia aceitar uma dissidência como essa que poria em causa, em primeiro lugar, a necessidade da sua própria ditadura. Quando se encontra com Brejnev, durante o congresso soviético, é lhe feito sentir um profundo desagrado.

Uma das peças fundamentais para a mudança era o presidente da DC, Aldo Moro que, perante a crise política desencadeada pela escolha dos eleitores e a queda do governo Andreotti (um cínico que colecciona saquetas de açúcar e tem, alegadamente, contactos com a Máfia), pede a Berlinguer uma moratória de alguns meses. Pouco depois, as Brigadas Vermelhas deitam essa estratégia por terra, raptando Moro e, na falta de negociações (a que Berlinguer se recusa, embora fora do governo) devolve o cadáver 55 dias depois, na mala dum carro, deixado nas traseiras da sede do PCI, via delle Botteghe Oscure. Corria o ano de 1978.

Não era de modo nenhum certa a via preconizada pelo secretário-geral do PCI. Uma boa parte da classe política italiana opunha-se, com Fanfani à cabeça. O grande industrial Agnelli, o patrão da FIAT, tinha feito uma declaração peremptória nesse sentido. Mas a América, na  altura, com  Carter (de 1977 a 1981) tinha um presidente razoável. Que restaria, porém, do ideário marxista depois duma co-gestão do capitalismo como era essa do "Compromesso Storico"?

Nada de novo, não é verdade? Quando vemos a evolução da antiga União Soviética, ou sobretudo, a da China. A primeira, oficialmente, deixou de ser comunista (embora  já tenha encerrado o Museu do Gulag e reposto a estatuária estalinista no  Metro), mas o que já foi o "Império do Meio" reclama-se da tríade do movimento comunista, enquanto   deixa funcionar, com relativa autonomia, o sistema capitalista, na visão pragmática de Deng.

O filme de Segre não aborda estes desenvolvimentos, à margem das suas preocupações. Vemos Berlinguer nos comícios, nos encontros de rua com os apoiantes, e, com grande relevo, em família ou nos tempos de ócio. É o caminho dum retrato do homem inteiro. Alguns documentários da época são intercalados para maior "rigor histórico". Mas o tempo limitado do filme impõe alguns atalhos pouco recomendáveis, como fazer duma reunião de família a súmula dum curso para iniciados. Por isso, e porque a honestidade da abordagem mereceria uma outra duração, secundarizando a qualidade cinematográfica esperada, é que, como outros já propuseram, esta era uma grande oportunidade para uma série de televisão.

Grande fumador, num tempo em que essa actividade não era proscrita pelas instâncias sanitárias, Enrico Berlinguer morre aos 62 anos, dum AVC, em pleno comício, em Pádua.

No funeral, em 1984,  com grandes massas do povo e chefes de estado de todo o mundo, foi feita a devida homenagem  ao ideal dum homem, nunca realizado, mas 
que mudou o mundo. Essa homenagem foi a prova de que a política pode calar-se diante da verdadeira grandeza.

O título "La grande ambizione" é uma expressão do célebre teórico marxista Antonio Gramsci (1891/1937) que para ele era indissociável do bem social.


NO CORRER DOS DIAS

Marques da Silva





Tieribierka, Península de Kola. O destino que levamos nem sempre é aquele que os nossos passos seguem. Assim aconteceu quando me aproximei da grande cidade do Árctico. Creio que não estava preparada para o ruído do espaço urbano e segui para Leste na província de Kola, até ao Norte nesta pequena aldeia junto ao oceano. É difícil interiorizar como chegaram aqui os primeiros humanos no século XVI e se deixaram ficar. Até à década de sessenta do século passado foi uma aldeia prometedora e crescendo em população. Havia vida ligada ao mar e à criação de renas, mas quando a tonelagem dos barcos excedeu a capacidade do pequeno golfo onde desagua o rio Tieribierka, a sua pequena indústria desmoronou-se. Hoje os seus habitantes rondam as novecentas pessoas. A aldeia tem mais do que um núcleo populacional entre casas novas, recuperadas e em degradação por desabitadas. Quase diríamos que há um cemitério de barcos abandonados. Quase nos surpreendemos ao dizer que na foz do rio há uma extensa praia que no Verão é frequentada. Quando falamos de estio nestes espaços árcticos tem de ser com alguma reserva. Em Maio a neve ainda perdura pelas colinas da península e em Julho e Agosto a temperatura ronda os quinze graus, mas talvez fruto do clima que vivemos, já alcançou um máximo de 34 graus, pelo que fácil será de pensar como se sentiram quentes os que procuram este lugar recôndito. Hoje está mais ameno, nos seus sete graus. Depois de deambular pela pequena aldeia, atravessei o rio e segui para Norte onde está outro núcleo de casario e prossegui até à costa. Todo este território se desenha em colinas de pedra massacrada pelos ventos e pela rigidez da neve, mas no Verão, quando a planície de brancura se afasta, se derrete em líquido azulado, as partes baixas formam lagos pelo que a imagem aérea dar-nos-á uma ideia de imensas lagoas. É entre elas que o rio que aqui chega navega ao longo de cento e trinta quilómetros. A costa é elevada e de ambos os lados existem praias. A pedra é dura, granítica, mas picada, coberta por um manto de verde que em certos lugares tem a coragem de crescer e ondular entre figuras amarelas que lhe transmitem alegria. Hoje não é fácil estar aqui. Fazem sete graus de temperatura, está ventoso, o mar agitado e já choveu. Nos dias anteriores o sol tem visitado estes lugares e então, é possível sentarmo-nos e olhar o Mar de Barents que se espreguiça à nossa frente deixando-nos na penumbra de um horizonte infinito. Se seguíssemos em frente encontraríamos o Pólo Norte. Aparecem turistas, mas na maior parte do dia, estamos sós. Percebe-se uma solidão diferente dos desertos de areia pela variedade da natureza e dos ruídos. Quando interiorizamos o que nos envolve deixamo-nos invadir por um sentimento de profundidade. É como uma viagem ao interior da alma. Para além dos humanos, aparecem por aqui cada vez mais animais, sobretudo os ursos polares e quase há uma convivência entre ambos. Os grandes animais brancos e peludos procuram as aldeias quando escasseia o alimento e os locais contam imensas histórias da sua interacção. Percebemos a sensação de estar num tempo e num ambiente muito diferente do que nos habituamos como resultado da necessidade de convívio e de interajuda pela agressividade das forças da natureza. Num desses momentos em que procuro estas pedras tive o deslize de deixar o pensamento escorregar na procura do mundo. Ia a escrever do mundo humano, mas sinto uma mistura de receio e desânimo em assim o nomear. O que vemos, ouvimos e lemos é tão perturbador e assustador que nos deixa a dúvida se ainda podemos falar de humanidade e de seres humanos. A bestialidade da malvadez e da perfídia alcançou tal volume que nos sentimos esmagados pela impotência que se abate sobre a nossa consciência quando figuras tresloucadas se apoderam do poder. O que os judeus do chamado Estado de Israel nos têm dito ao longo de oito décadas e com uma enfâse hiperbólica nos últimos dois anos, é de que não têm lugar entre as sociedades humanas. O antro de alienação em que se encerraram, retira-os em absoluto da convivência nos espaços de humanidade. E a grande tragédia, não é a sua escolha, mas antes a Humanidade ter permitido que tal tenha acontecido. Não colocam a Humanidade de joelhos, derrotaram-na e essa derrota é algo que ficará para sempre no âmago da nossa compreensão do mundo humano. Pela segunda vez perguntamos, como é possível termos deixado isto acontecer? Mas agora não temos a desculpa de dizer como no passado, nós não sabíamos. Voltou a chover. Não é propriamente chuva, mas os salpicos da água oceânica que o vento atira para terra. Vou regressar à parte baixa da aldeia para uma conversa. Prometeram-me falar da vida de Aleksandra Andreevna Antonova, nascida em Tieribierka (Teriberka), professora, escritora, poetisa e tradutora da língua kildín Sámi que em 2012 recebeu o prémio Gollegiella, prémio fundado em 2004 pelos parlamentos Sami da Noruega, Suécia e Finlândia. Não sei quantos dias me vou deixar viver entre estes espaços de sossego e remanso. O postal vai comigo até Murmansk.

POESIA

Helena Serôdio



O GRANDE CARNAVAL

Hoje houve um eclipse total.
Desceu um manto de treva sobre o sol
E eu vou ter a coragem de enfrentar o mundo
E assistir friamente à vida!

Quero vestir o disfarce de palhaço 
E ir para a rua
Tomar parte no grande Carnaval !
Vou tirar a venda que me cega,
Para viver a paisagem sempre igual
Dos que têm olhos e não vêem,
Porque o seu horizonte é um muro branco
E o espaço uma linha imaginária.

Vou selar a minha boca com mentiras 
Para falar a verdade de outras bocas,
E transformar o meu cérebro num robot
Mecanizando todos os meus gestos.
Quero esculpir na pedra bruta
Os meus sentidos
E fazer do coração um Pierrot!
Vou enforcar-me nas ameias do meu 
Castelo de fantasmas,
Destronar todos os meus ídolos,
Deter os voos do meu pensamento
E amordaçar todos os meus gritos.
Quero não ter fome além da fome
E jamais ter sede além da sede.
Quero ser simplesmente um instrumento,
Um boneco de pano que se rasga
Numas mãos curiosas de criança,
Ou um corpo opaco
Flutuando no vazio metálico do tempo!

Hoje,
Porque se apagou a luz do sol
E a terra inteira anoiteceu,
Vou autopsiar a minha alma
Como na morgue se disseca um cadáver,
E enchê-lo de trapos e serrim!

E talvez , então , eu consiga não ser eu!...

NÃO PODEMOS IGNORAR

Manuel Joaquim




Frei Bento Domingues, no jornal Público deste Domingo, no artigo “Festa do Corpo de Deus, festa de toda a humanidade”, escreve:

““Uma das mais belas e realistas apresentações da Teologia do Corpo devemo-la ao Papa Francisco. ”Participamos, com muita fé, dedicação e respeito, das celebrações do Corpo de Cristo, mas pode ser que, às vezes façamos uma profunda cisão ou ruptura entre o que celebramos e a realidade que nos cerca, ou seja, o encontro com os corpos desfigurados, explorados, manipulados, usados, escravizados, destruídos … Pode ser que tenhamos um profundo amor e respeito pelo Corpo de Cristo vivo e presente na Eucaristia, e não O vejamos nos corpos que estão aqui, ali, lá, por todos os lados. Não nos devemos envergonhar, não devemos ter medo, não devemos sentir repugnância de tocar essa imensa carne de Cristo, essa carne da humanidade ferida.””

Todos os dias nos chegam notícias sobre essa imensa carne da humanidade ferida. Palestinianos, ucranianos, russos, sudaneses, imigrantes, pessoas de todas as idades que querem ter paz, trabalho, habitação, saúde, educação, que, segundo Francisco, são a imensa carne de Cristo.

Dinheiro para a guerra não falta para encher os bolsos de alguns, Para melhorar as condições de vida está sempre em falta. Francisco falou há bastante tempo que estávamos a caminho de 3ª guerra mundial. E há quem fale que estamos já na 3ª guerra mundial fragmentada.

É importante ter presente que muitos dos dirigentes da Europa são antigos dirigentes de organizações nazis ou descendentes de dirigentes nazis. Alguns são escolhidos a dedo para serem eleitos ou nomeados para altos cargos. O avô da líder dos Serviços Secretos do Reino Unido, que acabou de ser nomeada, era espião dos serviços secretos da Alemanha nazi. Estão a arrastar a Europa para a guerra procurando o revanchismo por terem sido derrotados na 2ª guerra mundial. Por isso, as pessoas devem estar em guarda.

Não querendo falar sobre os tempos tumultuosos que estamos a viver vou transcrever um poema de Domingos David’ Pereira, que vem a propósito, publicado no Esteiro, no boletim semestral de Setembro de 2024, com o seguinte título:

Gaza: Calar é Trair

 

GAZA: CALAR É TRAIR!

 

A todos os marinheiros,
a todos nautas do mar,
a todos os petroleiros:
- Se passarem em Gaza
façam os vossos relatos,
das bombas, das crianças e chorar:
não ignorem como Pilatos,
Urge denunciar e a matança parar!
Aos navegantes do mar,
Azul, bravo e profundo,
ALERTEM: em Gaza andam a matar!
Não calem, alertem o mundo:
- Por telégrafo, lancem para o ar,
que a barbárie, do mais imundo,
anda ali à solta, a massacrar,
a destruir o futuro, a destruir fundo.
E se à noite, a navegar, no céu
Virem lágrimas nas estrelas a brilhar,
De anjos mortos, frios, sem véu,
com fome, são mães a chorar,
sem leite para os filhos alimentar:
- Não calem, não sejam como Pilatos,
façam soar o alarme no breu,
denunciem nos vossos relatos.
Ó golfinho a saltar do mar,
ó fragata a vogar a solidão,
há crianças com medo a chorar:
- Em Gaza, não avisar é traição!
Não podemos ignorar os ais
das crianças mortas com canhão
pelos velhacos soldados chacais:
- Em Gaza: calar também é matar!
No céu de Gaza voam bombas,
voam corvos, gritos e abutres.
Matam mães, crianças e pombas,
temos de gritar o amor que nutres
na solidariedade do coração!
Porque  calar, é matar, é deixar ir:
- Porque calar é matar na traição!
- É apoiar o genocídio, é trair!
Em terra toquem sinos a rebate,
soem nos montes cordas e metais,
é preciso não deixar impune quem mate,
desmascarar os crimes animais.
Apoiem!, em Gaza há quem lute!
GRITEM: os crimes não se calam!
Os velhacos soldados chacais:
- Violam, roubam, destroem, matam!
Fez ontem cerca de dois mil anos,
Foi Jesus, pregado na cruz,
Para gáudio da usura dos fariseus.
Hoje matam crianças em Gaza,
Vítimas ontem, hoje chacais judeus.
Crianças mortas com tiros de canhão,
por gente canalha em nome dum Deus:
- Calar o genocídio é matar, é traição!
Assassinadas crianças a tiro de canhão.
Mortas sem pejo como o filho de Deus.
Ontem crucificado pelos Romanos e fariseus,
hoje pelos soldados chacais à traição.
Os palestinianos assassinados em genocídio,
cometido por actuais soldados judeus,
vítimas deste hediondo martírio,
não terão a prometida ressureição!
Então, no futuro, um dia haverá,
aquele Povo Mártir, quase exangue,
de entre a cinza e dos escombros se erguerá
da terra negra ensopada em sangue:

- Finalmente, a PALESTINA VENCERÁ!

View My Stats