Há muito que os monumentos e arte rupestre mais primitivos me fascinam, quando a cultura humana era incipiente, no sentido mais amplo usado por António Damásio, de que tudo o que os homens fazem é cultura.
É sempre uma emoção observar um monumento funerário, seja ele designado por anta, arca, dolmen, lapa, orca, ou similar, constituído por enormes pedras ao alto, a servirem de suporte a uma grandiosa pedra (a mesa) que coroa a câmara, frequentemente coberta por uma protecção de terra e pedras na forma de mama (a mamoa).
É o caso do dolmen de Antelas, em Pinheiro, Oliveira de Frades, datado de há quase 6 000 anos, a nossa jóia da coroa que Pedro Sobral de Carvalho, da National Geographic Portugal, classifica como “a grande catedral do Neolítico, (considerando) que é o expoente da arte megalítica europeia, não existindo outro monumento conhecido que possua um tão grande e preservado conjunto de motivos pintados e gravados.”
Mas, utensílios líticos, como os bifaces, com mais de 200 000 anos, ou seja, do tempo em que terá surgido o Homo Sapiens, no chamado Paleolítico Inferior, que “podem considerar-se (segundo Gonçalo Cruz), os vestígios mais antigos da presença de populações do género Homo no território do actual Noroeste de Portugal.”, constituirão, por ora, os testemunhos culturais do passado mais longínquo.
Já a arte rupestre das grutas, como é o caso do Escoural, em S. Brissos, Montemor-o-Novo, e dos espaços ao ar livre, cujo exemplo mais famoso são as gravuras do Côa, com mais de 25 000 anos, datam do Paleolítico Superior, convencionalmente iniciado há cerca de 40 000 anos.,
Recôndito significa o âmago de qualquer coisa, o que está oculto. Em geral quanto mais antigo o pré-histórico, maior a dificuldade da sua decifração. Todavia, apesar de os menires, essas grandiosas pedras ao alto, algumas delas afeiçoadas ou com expressões artísticas, e os conjuntos de menires, chamados cromeleques, serem obra do homem do Neolítico, desde há 7 000 anos, não se sabe exactamente a sua função, pelo menos com o grau de certeza com a utilidade que atribuímos a um biface criado pelo homem do Paleolítico Inferior, há 200 000 anos.
O presente é fugaz, e o futuro é sugado, a cada momento, pelo passado, esse imenso repositório do tempo.
São a arqueologia e outras disciplinas que, tanto quanto é possível, nos revelam o passado pré-histórico, identificando, como se fosse uma escrita, objectos e expressões culturais reveladores do nível de desenvolvimento e do modo de vida das populações humanas ao longo das épocas.
Como não fascinar o conhecimento, ainda que impermanente, da vida dos nossos antepassados mais longínquos?
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