Na sexta-feira passada o Major-General Carlos Branco, numa conferência realizada aqui no Porto, referiu que a Europa está a passar por tempos inquietantes. Eu digo que muitas partes do mundo estão a passar por tempos inquietantes. Além da Europa, a Ásia Ocidental e Oriental, a África, as Caraíbas, a América do Sul, o Ártico estão a passar por situações de guerras quentes, ou por instabilidades políticas e sociais, restos do colonialismo, com intervenções estrangeiras directas ou encapotadas, arrastando para a miséria e a morte milhões de pessoas.
Na Europa, os interesses derrotados na 2ª Guerra Mundial estão novamente a reagrupar-se para tentarem conseguir o que não tinham conseguido, e sacarem agora, sobretudo, as matérias-primas e a energia para recuperarem os investimentos que estão a efectuar na guerra e aumentarem as taxas de remuneração dos seus capitais. Mas, parece-me, estão cada vez mais assustados por estar a demorar demasiado tempo e estarem a ficar exauridos. O caminho é entrarem directamente na guerra ou aceitarem o que pode ser uma derrota.
Uma pessoa minha amiga, na semana passada, disse-me que está com muito medo do futuro. Não é de admirar. As pessoas estão a ser condicionadas por informações que, a maior parte das vezes, não têm nada a ver com a realidade. As vozes de quem comanda a política na Europa, sem qualquer contraditório, apontam para a iminência da guerra, que as pessoas vão ter que abdicar de benefícios que usufruem e para os quais pagam, pois os dinheiros terão que ser desviados para a guerra. É o grande capital a mandar nas nossas vidas. Mas não tem as mãos livres.
Vivemos um tempo de grandes transformações que vai ser longo. As pessoas devem acompanhar com muita atenção os acontecimentos do dia-a-dia pois fazem parte de um todo.
As lutas dos povos e dos trabalhadores estão em crescendo contra as políticas de exploração, em defesa da soberania, as manifestações de solidariedade por todo o mundo com o povo vítima da barbárie, as grandes manifestações internacionais contra a guerra e contra a degradação das condições vida e as grandes manifestações em Portugal contra o pacote laboral que pretende regredir as condições de trabalho para pior do que antigamente, e a favor da PAZ, faz-nos ter confiança que se avança para um novo mundo. Para isso os Trabalhadores, os Povos do mundo devem unir-se.
Há uma canção do século XIX, apropriada para os novos tempos e que muita gente já a esqueceu e que muitas mais nunca a conheceram.
“ A INTERNACIONAL foi composta em 18 de Junho de 1888 por Pierre Degeyter (1848-1932), operário de origem belga fixado com a sua família na cidade francesa de Lille. Naquele dia fora oferecido a Degeyter um livro de poemas de Eugéne Pottier (1816-1887), operário francês, membro da Comuna durante a qual foi eleito maire do 2º Bairro de Paris. Após o sangrento esmagamento da Comuna, em cuja defesa participou, Pottier partiu para o exílio durante o qual escreveria diversos poemas, entre os quais o que viria a constituir a letra de A Internacional.
É fundamentalmente a partir de 1896, após a realização do congresso do Partido Operário Francês realizado nesse ano em Lille e durante o qual foi tocado e cantado, que o hino se espalha por toda a França e pela Europa através de delegados estrangeiros presentes.
Não há memória da data da chegada de A Internacional a Portugal ou do autor da versão portuguesa da sua letra. É contudo claro que ela acompanha de perto o original francês, refletindo no seu fraseado a influência da literatura e poesia ligadas ao anarco-sindicalismo, maioritário no movimento operário português nas primeiras décadas do século passado.
Não se conhecendo qualquer registo fonográfico português do hino anterior a 1926 e à sua proibição pelo fascismo, é de admitir que a primeira gravação seja realizada para o LP “Cânticos Revolucionários em Português” gravada em Lisboa em 1975 pela editora Metro-Som (LP 105), com interpretação de “elementos dos coros da Fundação Calouste Gulbenkian e do Teatro S. Carlos e intervenção da Banda Portuguesa, Siegfried Sugg no acordeão e Daniel Louis em toda a percussão”. A direcção musical é de J. Machado e J. Gomes, seguindo os arranjos muito de perto as versões francesas então mais conhecidas, nomeadamente as popularizadas pelo Grupo 17.
Por altura da comemoração do 60º aniversário do Partido Comunista Português (1981), integrou-se no programa a produção e gravação de uma versão claramente portuguesa do que os estatutos do PCP definem como respectivo hino.”
Texto de Ruben de Carvalho
A INTERNACIONAL
De pé, ó vítimas da fome!
De pé, famélicos da terra!
Da ideia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra.
Cortai o mal bem pelo fundo!
De pé, de pé, não mais senhores!
Se nada mais somos neste mundo,
Sejamos tudo, oh produtores!
Refrão
Bem unidos façamos,
Nesta luta final,
Duma terra sem amos – bis
A Internacional.
Messias, Deus, chefes supremos,
Nada esperemos de nenhum!
Sejamos nós quem conquistemos
A Terra-Mãe livre e comum!
Para não ter protestos vãos,
Para sair deste antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos,
Tudo o que a nós diz respeito!
Refrão
3 comentários:
Excelente "lição".
Obrigada.nao conhecia o texto completo
vem na hora! "A cantiga é uma arma..."
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