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01/05/14

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25 DE ABRIL SEMPRE!

Mário Faria

“As comemorações dos quarenta anos do 25 de Abril, as oficiais e não oficiais, as da esquerda, as do centro e as da direita, são completamente inócuas, politicamente anestesiadas, de um conformismo idiota que serve sem a mínima reserva a reificação do passado. Por elas, não passa nem uma ligeira brisa de pensamento. Tudo desertou, ficou apenas o palco vazio de uma ideia…. Porque são festivas e pacíficas, as comemorações devem, portanto, ter um vocabulário reduzido, ficar pela língua cristalizada da maquinação “democrática”, quer por estratégia, quer porque já não se conhece outra”
“Em 1973, Sartre disse “Élections, piége à cons”, ou seja numa tradução rápida e insatisfatória “Eleições armadilhadas para idiotas”, adquiriu legitimidade e pertinência no interior do próprio regime que nos governaPodemos, com toda a propriedade, retirá-la desse contexto e colocá-la, aqui e agora, porque a “escolha sem escolha” com que estamos confrontados é da mesma ordem e o que resta é uma política que chegou ao fim. A prova mais evidente desse fim é o triunfo incontestável do argumento TINA, isto é, “there is no alternative. Votar já não é escolher, mas consentir: nada poderá sair das urnas que não seja uma política das coisas. Chama-se “política das coisas” à política que já nada decide e apenas admite.
O 25 de Abril completou 40 anos. Revisitei a baixa sem nada procurar. Foi um momento de liturgia. Os cravos e os guarda-chuvas venderam-se bem. Encontrei amigos e conversámos. A peregrinação desaguou no local do costume e as palavras de ordem mais ouvidas eram as mesmas que cantei nos anos de brasa. Mudou tudo e mudámos nós. As reivindicações nem por isso. De qualquer forma, nota-se que há um descontentamento sentido. E resignado, muito provavelmente, apesar dos gritos. Mas, não precisava de lá estar para o sentir. A celebração de uma data que mudou Portugalnunca será inócua, pelo menos para os cidadãos que a viveram de forma empenhada seguindo valores em que acreditavam. Foi dura a luta: os trabalhadores e os seus representantes foram a locomotiva de todos os avanços e conquistas realizadosanimados por experiências, doutrinas e teorias que seguiam, respeitavam e queriam aplicar. Porém, a agenda política foi ajustada ao ritmo da práxis revolucionária que iasendo escrita na rua de forma tão rápida, dinâmica e imprevisível que a maioria dos sábios apenas conseguiu acompanhar e depois influenciar, mas sempre a prioriAssistia e reagia no camarote destinado às elites. A maioria, foi desertando à medida que a normalização impunha a sua ordem.
Foi com respeito que acolhi os comentários de António Guerreiro (AG), e que constam do escrito em itálico, para servir de mote a uma conversa escrita feita a correr e ao sabor da pena. O que AG escreve dá sempre que pensar. Há nele um sentido de ruptura que me agrada. Os julgamentos que faz denunciando a “falta de uma ideia e o conformismo idiota que serve sem a mínima reserva a reificação do passado”relativamente às comemorações de Abril (e do 1 de Maio, supostamente) ou que“votar já não é escolher são certeiros, mas não me chega. Exige-se mais a quem sabe mais. É importante enxergar a maleita, mas não basta. Às elites compete desenvolver as pistas que desenhem a cura. AG não deveria ficar pela denúncia que é abrangente e mete todos no mesmo saco. Até porque, popularmente, é muito vulgar expressar quase o mesmo (que não há escolha) quando se diz, muito simplesmente:“são todos iguais”. AG coloca-se num nível superior e tem uma linguagem bem melhor elaborada. Mas falta o mais importante: a ideia que tem sobre o que a nova ideia devia cumprir. Poderá essa ideia ser realizada pelos partidos do arco parlamentar? Pelo que AG escreve, fica subliminarmente a ideia que considera que as principais forças políticas esgotaram o seu arsenal ideológico e andam à volta de doutrinas exauridaque ultrapassaram o prazo de validade. Ou será que apenas pretende beliscar a oposição? Ou apenas as forças mais à esquerda da esquerda? Seja como for, não é uma questão de actores, estilo ou encenação. É uma questão de doutrina e programa.O fim da história já foi anunciado. A perspectiva do autor parece reconhecer a veracidade do facto. Se assim for e dado que o processo político (com estes partidos e com esta gente) é imutável, como chegar à frente, com quem e como, para criar uma nova ideia (uma nova utopia) que valha a pena perseguir? É muito complicado. Não tenho respostas, apenas dúvidas. Não identifico novos sinais. Esperemos, então!

40 ANOS

Mário Martins
Cartaz de Maria Helena Vieira da Silva
(https://www.google.pt/search?q=a+poesia+est%C3%A1+na+rua+vieira+da+silva&ie=utf-8&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-PT:official&client=firefox-a&channel=sb&gfe_rd=cr&ei=Dk9RU4v7FojD8geJqICoBQ)

Quanto mais aquele “dia inicial inteiro e limpo” - como, melhor do que ninguém, Sofia o descreveu – se distancia no tempo, mais o seu simbolismo se transforma numa espécie de ruína sagrada, como em Delfos, as colunas. Para as gerações adultas, tratadas como crianças pela ditadura, mais do que as realizações que conseguiram naqueles excitantes meses, foi como que provar fugazmente o sabor da Utopia.

Mais tarde, Sofia acusa os inevitáveis erros:

“Nestes últimos tempos é certo a esquerda fez erros
Caiu em desmandos confusões praticou injustiças
Mas que diremos da longa tenebrosa e perita
Degradação das coisas que a direita pratica?”

E canta o desencanto:

“Ou poderemos Abril ter perdido
O dia inicial inteiro e limpo
Que habitou nosso tempo mais concreto?”

Cantaremos o desencontro:
A vida errada num país errado
Novos ratos mostram a avidez antiga

Tal como em Delfos idealizamos uma espécie de pureza improvável dos gregos antigos, o 25 de Abril será sempre o marco histórico simbólico da liberdade e da democracia, apesar de a contínua degradação desta nos afastar cada vez mais das democracias avançadas ou mesmo da média europeia.


CARTAS DE LONGE (4)

Alcino Silva


Estância Puerto Consuelo, Puerto Natales, Província Última Esperança, 30 de Abril de 2014

à redação da Periscópio


suponho que os vossos dias são já visitados por uma amena temperatura primaveril e recordo como por esta época as estradas do Minho se enchem dessa cobertura colorida formada pelas flores que brotam como se renascessem da profunda letargia invernal e nos fascinam o olhar com a mistura de tons como se acasalassem entre si para gerar novas cores e encher de perfumes os jardins. Por aqui, é esse rigor do Inverno a chegar, com o peso das suas chuvas que rapidamente se transformam em neve, os ventos gélidos que descem livres das montanhas e as temperaturas a não conseguirem forças para superar os 12º. É fácil, nestes dias, lembrarmo-nos do território que deixamos, com o seu clima temperado e de ameno ambiente, e o mar, o azul do mar, no horizonte abraçado ao azul do céu, perdendo-se ambos no infinito dos nossos olhares. O soprar forte da ventania não deixa em sossego o silêncio e abre-nos a solidão como quem desaperta um casaco. Com este frio acampado em redor de mim, vou pouco à cidade, deambulo por aqui, como quem procura um caminho que não existe. Uma vez por semana, desço a estrada e procuro na biblioteca os livros que me servem de consolo neste ermitério onde me escondo. Entre os últimos livros que me acompanharam de regresso, trouxe uma história bela e comovente, quase um poema em que se estende o drama da vida da Palestina e do seu povo. Em A Porta do Sol alguém nos narra a tragédia em que os judeus há 70 anos mergulharam esse território mártir entre a Síria e o Neguev. Perante a morte iminente de um herói palestiniano, o narrador vai desfiando a sua vida que é ao mesmo tempo a história da desdita da sua pátria, no seu leito de moribundo, como se esse relato lhe suspendesse a morte, retendo-lhe a vida. Conta, fala, questiona, mas sem azedume, muito menos ódio, desse que sobra como baba aos judeus, relembra apenas, com lugares, com nomes, com datas, fala dessa Catástrofe que chegou em 1948 e parece não ter fim. Os judeus sobreviventes dos campos de extermínio nazi, chegados a uma terra que nunca lhes pertenceu, rapidamente se transformam em algozes e montam os seus campos de concentração em que o extermínio é mais lento, sem deixar de ser devastador. Como se escreve no livro, até «mataram as árvores». A meio da história, escrevo a Elias Khoury, o autor e pergunto, quem é Nahila?, e na resposta, diz-me que Nahila é a Palestina, o seu sofrimento, o seu destino, o seu lamento, a história das suas mulheres enxovalhadas, torturadas, violadas, abandonadas pelos maridos combatentes, ou espalhados pelo êxodo, pelos campos de refugiados no Líbano e na Síria, Nahila representa também as mulheres que vêem os filhos crescer com o pai longe, as mulheres coragem que resistem com dignidade. Nahila é a mulher que é presa porque está grávida e se assim é significa que o marido a visitou. Lançada no isolamento sem luz durante três dias é agora interrogada. «Naquela época», diz-nos o narrador, «os israelitas ainda não tinham desenvolvido a arte da tortura das cadeiras, que só inventaram após a invasão do Líbano. Amarravam o prisioneiro à cadeira e abandonavam-no naquela posição durante uma semana, com um saco preto enfiado na cabeça. Uma vez por dia, os soldados levantavam o saco à altura da boca e davam ao prisioneiro um pedaço de pão e um golo de água e, sempre com a cabeça tapada, levavam-no à casa de banho apenas uma vez. No final, o prisioneiro já não sabia quem era, os membros tinham-se tornado rígidos e a escuridão aterrorizava-o. Era, então, levado para interrogatório, cambaleante e enfraquecido, sem qualquer sensibilidade no corpo, as costas mais pesadas do que um saco de pedras.» Mas agora só querem saber onde está Yunis. Não sei, responde de cabeça erguida Nahila. Então quem é o pai da criança? Não sei, volta a responder. Não sabes? Não, dormi com vários homens, não sei. Sou puta, porquê no vosso bonito Estado não há putas? Não tens vergonha atira-lhe o interrogador. Vergonha?, «depois de terem destruído tudo como ousam vir agora defender a honra e a reputação? Roubaram as nossas terras, expulsaram-nos delas e vêm dar-me lições de moral?» Nahila, responde-lhes com a dignidade que o Estado criminoso dos judeus não conhece. Regressa a casa e não denunciou o marido. Ao longo do livro percorremos esse sofrimento das gentes da Galileia onde os judeus até as oliveiras destruíram. «Em 1948», os palestinianos, «mudaram das suas aldeias para a escuridão», onde ainda hoje permanecem enquanto essa intrujice que dá pelo nome de «comunidade internacional» continua a deixar impune e a proteger os crimes do Estado judeu, um Estado religioso e fanático. Mas a história não perdoa e um dia, A Porta do Sol, abrir-se-á com as cores do futuro para os palestinianos. Recebam um abraço da terra da Última Esperança.

 

O CLUBE FENIANOS PORTUENSES

Manuel Joaquim

Carnaval de 1905 - Edifício do Clube Fenianos e Teatro Águia d' Ouro (monumentosdesaparecidos.blogspot.com)


Nas mesas do café/restaurante, mais tarde também cinema, Águia d’Douro, na Praça da Batalha, em actividade desde o segundo quartel do século XIX, frequentado desde sempre por liberais e republicanos, onde as senhoras fumavam livremente em público, um grupo de personalidades portuenses tomou a iniciativa de se organizar para fundar uma associação para intervir cívica e culturalmente na vida da cidade, não esquecendo aacção recreativa e beneficente.

O Clube Fenianos Portuenses foi fundado em 25 de Março de 1904, ainda nos tempos da monarquia, com o pretexto de organizar cortejos carnavalescos a exemplo dos que se faziam no Brasil e em Veneza, com o lema, inscrito na sua bandeira, “Pelo Porto”. Os seus estatutos foram aprovados pelo Governo Civil do Porto em 17 de Junho de 1904.

O Clube Fenianos realizou o primeiro cortejo carnavalesco logo em 5 de Março de 1905, com marcha de tochas, (aux Flambeaux), com a contribuição de grandes artistas, tais como Rafael Bordalo Pinheiro; Manuel Gustavo, filho de Bordalo Pinheiro; Augusto Pina; Teixeira Lopes e muitos outros. Foi uma iniciativa que teve uma grande adesão popular e repercussões em toda a região.

No campo cívico influenciou o poder político para abolir as portagens que na época existiam para atravessar a ponte D. Luís, que afectavam directamente milhares de pessoas que se deslocavam entre a cidade do Porto e Vila Nova de Gaia, e para concretizar a sua ligação com transportes eléctricos. Teve um papel importante na conquista do “descanso dominical”. Materiais de cortejos foram cedidos à cidade de Lisboa para ajudarem na realização das festas a Santo António. Defendeu a ideia da criação de sociedades de previdência social.

Em 1907 o Clube recebeu uma delegação do Grande Clube de Lisboa que veio para participar nas suas festas. Foi recebida pela Câmara Municipal com grande significado político.

Em 1908 defendeu a criação de um sanatório marítimo para tratamento de crianças, que veio a ser uma realidade passados alguns anos, que foi o Sanatório Marítimo do Norte, em Francelos, tendo sido seu fundador o ilustre médico Dr. José Ferreira Alves, feniano, democrata e revolucionário.

A convite da Câmara Municipal do Porto colaborou nas Festas pela instauração da República Portuguesa, organizando eventos para as pessoas junto à sua sede, na Praça da Batalha.

Os carros de transporte de eixo fixo, uma inovação na época; a instalação da telefonia sem fios e linha dupla telefónica entre Lisboa e Porto e sua nacionalização; a transformação do Porto de Leixões em porto comercial; o encerramento do comércio a horas certas; a falta de carne na cidade; a luta contra a pena de morte de um compatriota condenado na Inglaterra; as comemorações do 1º centenário da Revolução de 1820; a luta contra o agravamento das tarifas telefónicas; campanha contra a extinção dos tribunais do comércio no Porto; sugestão à Companhia dos Caminhos de Ferro para a criação de passagens subterrâneas na estação de Campanhã; sugestão à Companhia Carris para a substituição dos rodados de ferro por pneus; movimento na cidade a favor de melhoramentos na barra do Douro; concurso para o fornecimento de energia eléctrica à cidade do Porto; a discutida questão sobre a criação da cidade de Leixões , foram assuntos que tiveram uma importante intervenção do Clube Fenianos Portuenses.

No campo da beneficência conseguiu distribuir logo no início das suas actividades um “Bodo Feniano” a 500 pobres nas instalações do Palácio de Cristal, na presença de muita gente. Realizou um festival no Jardim Passos Manuel para obter fundos para distribuir pelos pobres. Com essas iniciativas beneficiou várias centenas de pessoas necessitadas. Organizou uma grande subscrição pública para as vítimas do terramoto de 1909 em Benavente, conseguindo condições para a construção de 18 moradias que vieram a constituir o “Bairro Cidade do Porto”, finalizadas em 1916, que foram entregues à Misericórdia de Benavente e que ainda hoje existem. Socorreu as vítimas da cidade do Funchal, atacada pela peste bubónica. Realizou no Teatro Águia d’Douro um Sarau de Arte de apoio às vítimas da Grande Guerra, que teve a participação do ilustre advogado Dr. Alexandre Braga.

Foi o Clube Fenianos quem lançou a ideia da criação do Teatro Lírico ou Teatro Modelo, influenciando a nomeação de comissões que tiveram a presidência do Governo Civil, e que veio a ser mais tarde o Teatro S. João.

Publicou um Álbum Ilustrado, “Alexandre Zé Povinho”, que deverá estar ainda no Museu do Clube, com trabalhos de artistas portuenses.

Entretanto, em 1916, todo o seu património social foi destruído por sucessivos actos criminosos. Em 1920 iniciou-se a construção do novo edifício com a presença do Presidente da República, António José de Almeida.

Nos finais dos anos trinta e princípios dos anos quarenta, o Coral Polifónico participou em várias iniciativas, algumas com fins de caridade. Colaborou com a Emissora Nacional, gravando discos com canções regionais portuguesas, e cedendo instalações para transmissão de programas. O Clube realizou cursos de línguas e de comércio destinados aos sócios e familiares. Realizou festas infantis. Realizou uma sarau de gala no Rivoli com o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra. Criou o Círculo de Arte Lírica. Comemorou o centenário do Cancioneiro Popular de César Neves. Fundou a “Editorial Fenianos” onde editou as conferências realizadas no Clube. Organizou a Biblioteca Infantil.

Em 1945 prestou homenagem ao ilustre Dr. Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina, nomeando-o Sócio Honorário do Clube.

Em 1955 criou o “Grupo de Teatro Moderno” por onde passaram Luís de Lima, António Pedro, Ionesco, Jaime Valverde e muitas outras figuras.

Está afixada à entrada da sala do teatro, no 2º andar, uma placa de homenagem a Eugene Ionesco, datada de 5 de Setembro de 1959, pelo colóquio realizado sobre “Teatro Moderno”, integrado no 1º Ciclo de Formação do Espectador.

Marcel Marceau, mímico francês, deu uma lição aos alunos do GTM, registada numa placa que também está afixada à entrada da sala do teatro com data de 15 de Janeiro de 1960.

O GTM acabou nos Fenianos em 1964, nascendo como Teatro Experimental do Porto em instalações próprias. Nasceu a Secção de Teatro dos Fenianos.

Em 1956 o Clube criou a Secção de Cultura para a Juventude, dirigida pelo Dr. Fernando Ferrão Moreira com a colaboração de muitos bons professores, com cursos de Teatro, Música, Pintura, Desenho e Cultura Portuguesa, por onde passaram centenas de jovens. Júlio Resende, Isolindo Vaz, Isidoro, Resende Dias e muitos outros registaram a sua passagem.

Foram disponibilizadas graciosamente instalações para a Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música do Porto poder ensaiar por estar em riscos de extinção.

Em 1960 em colaboração com outras instituições consegue o reaparecimento da revista “O Tripeiro”.

(continua)

A HISTÓRIA SEGUNDO PANGLOSS

António Mesquita

 

"As novas opiniões são sempre suspeitadas, e habitualmente rebatidas, sem outra razão a não ser a de que não são ainda comuns."

(John Locke, ‘An Essay concerning Human Understanding')


Não se fala aqui de verdade, mas de novas opiniões. É admissível, portanto, que, por exemplo, as questões da(e) moda estejam incluídas. Ao princípio 'estranha-se, depois entranha-se', como disse o poeta a propósito duma beberagem exótica.

Mas quanto mais isso é verdade em relação à ideia que põe em causa os nossos preconceitos! E é justo que nos protejamos duma ideia nova, quando ela exige uma 'reestruturação' profunda. Afinal, trata-se de trocar velhos preconceitos por outros novos, ou 'recauchutados'.

Interiormente, qualquer que seja o 'consenso' (que em latim tem a conotação de cumplicidade) a que somos obrigados por 'coerência', ou por simples delicadeza, não podemos deixar de admirar um insigne 'teimoso'.

Quando vemos o que nos parece uma catástrofe ser negado placidamente, porque os 'velhos preconceitos' são mais fortes, e o que nos parece, pelo menos, o fim de um mundo, é visto 'teologicamente', como uma continuidade histórica, prevista desde a mónada inicial, só podemos abrir a boca de admiração.

Pangloss, o célebre optimista de Voltaire, não foi até hoje ultrapassado e ficará para sempre como o modelo daqueles que têm uma confiança absoluta nos seus preconceitos.

Para quê mudar, realmente, o melhor dos mundos?



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