StatCounter

View My Stats

30/05/23

PALESTINA

Manuel Joaquim

https://images.app.goo.gl/aeGY2Y63SQUsdfmu8



Fez 75 anos, em 14 de Maio, que centenas de milhares de palestinianos sofreram a destruição das suas casas, a expulsão das suas terras, homens, mulheres e crianças mortos, famílias destroçadas, com a ocupação por milhares de colonos, sobretudo europeus, por decisão política da Inglaterra e dos Estados Unidos para a criação do que veio a chamar-se Israel.

Data a que veio a chamar-se Al Nakba, que quer dizer “A catástrofe”. 75 anos de luta diária, permanente, que os palestinianos desenvolvem para reconquistar as suas terras, as suas casas. Luta de ontem e de sempre que os canais de desinformação não tratam dignamente. 

Pode dizer-se que a ONU ao longo destes anos condenou sempre Israel pela sua política de ocupação de terras e de violências. Este ano, pela primeira vez, a ONU na sua sede, em Nova Iorque, comemorou o 75º aniversário do Dia da Nakba, conforme decisão da sua Assembleia Geral de 30 de Novembro de 2022, com a presença do presidente palestiniano Mahmud Abás que fez o discurso de abertura da cerimónia.

O dia 24 de Maio de 1948 foi comemorado em quase todo o mundo, na África, designadamente na Africa do Sul, Canadá, EUA, América Latina, Europa e em muitos países do Médio Oriente e Ásia. 

Em Portugal, o núcleo do Porto do Conselho Português para a Paz e Cooperação, realizou uma sessão no dia 25 de Maio sob o lema “ Paz, Liberdade e Soberania”, com a presença do embaixador da Palestina em Portugal, com José António Gomes, do Movimento pelos direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente, Manuela Mendonça, do SPN/Fenprof, e da Presidente do Conselho da Paz, Ilda Figueiredo.

Encontrei no livro “VAI O RIO NO ESTUÁRIO poemas de braços abertos” de Adão Cruz, médico cardiologista, grande escritor, poeta e pintor, com vários livros publicados e poemas premiados internacionalmente e várias exposições de pintura em Portugal e no estrangeiro, um poema sem tempo que transmite com uma sensibilidade extraordinária a situação na Palestina. 

Com a devida autorização do autor, transcrevo o poema 

Palestina  

Não há sol nos céus da Palestina não há luz nos olhos da
Palestina roubaram o sorriso à Palestina

São de sangue as gotas de orvalho da madrugada e o vento
só é vento quando as balas assobiam roubaram as manhãs à
Palestina

O céu de chumbo esmaga as almas e os ossos e é de lágrimas
a chuva quando cai não há sol nos céus da Palestina

Do ventre da lua cheia de aço e de amargura nasce a cada 
hora um menino com bombas à cintura mataram a infância 
na Palestina

Rasgam as mães os seios com arroubos de ternura para
alimentar a raiva por cada filho que perdem outro nasce da
sepultura semearam a dor na Palestina

Nas casas esventradas rompem por entre as pedras leitos de
sofrimento onde à noite se acoitam os amantes queimando a
dor na paixão de um momento fizeram em pedaços o amor
na Palestina.

Cada instante é uma vida na vida da Palestina cada
momento uma taça de vingança clandestina cada gesto um
vulcão de raiva que nem a morte amansa roubaram a paz à
Palestina

Na sombra do dia ou na calada da noite cravam os vampiros
nazis seus dentes de ferro no coração da Palestina não há
sangue que farte a fúria assassina sangraram cobardemente
a Palestina

Para atirar contra os tanques uma pedra agiganta-se o
ódio a cada bater do coração por não haver sangue de tanto 
sangue vertido outra força não há para erguer a mão…e dar
à Palestina algum sentido.

O PASSADO ESTRANGEIRO

Mário Martins

https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=25+de+abril+imagens



“O passado é um país estrangeiro: lá faziam-se as coisas de forma diferente”
In “The Go-Between”, de Leslie Poles Hartley (1953)

“A geração mais nova não viu o antes, nem o durante, nem o imediatamente após o 25 de Abril. Aos 50 anos, é altura de libertá-lo do Estado Novo e amarrá-lo ao futuro.”
“Os últimos portugueses iguais a nós”
José Tavares, Revista do Expresso, 21Abr2023



Não é apenas, nem principalmente, porque lá se faziam as coisas de forma diferente que o passado é um país estrangeiro, mas porque havia, em cada uma das épocas que o compõem, um espírito do tempo decisivamente influenciador das emoções individuais e colectivas, do modo de pensar e do comportamento dos nossos antepassados. 

Esta é uma grande dificuldade com que se depara a transmissão histórica do passado aos vindouros: se os acontecimentos reais, conforme a escolha que for feita (como se tratasse do alinhamento de um noticiário), podem ser descritos, e com eles as suas causas e efeitos (diferentes, quando não opostos, conforme o método axiomático da sua interpretação), é praticamente impossível transmitir as emoções do vivido.

Este é, notoriamente, o caso do 25 de Abril de há quase 50 anos. Quem o viveu recorda-se como ele foi emocionalmente intenso, mas como diz o articulista, “a geração mais nova não viveu (viu) o antes, nem o durante, nem o imediatamente depois”, pelo que, em geral, terá com ele, no máximo, uma relação aprendida no seio familiar, no banco da escola, no acaso das amizades, ou num partido abrilista. Tal como, aliás, as gerações que o viveram tiveram com a implantação da República, ocorrida 64 anos antes: uma relação praticamente instrumental, traduzida numa romagem anual ao cemitério dos mais militantes, onde se produziam discursos contra a ditadura e a favor da liberdade. 

O pior é que “o desaparecimento da geração de Abril será significativo e chega na esteira de um progressivo sentimento de cansaço, estagnação, até de tédio cívico.  Por outro lado, a geração de portugueses que se perfila pode trazer à arena cívica nacional novidades significativas. Ou seja, podemos estar hoje na presença dos últimos portugueses iguais a nós.”

“A geração que se afirmou no 25 de Abril resiste a aceitar que o tempo passa e o mundo muda. Resiste a receber a mensagem das grandes transformações que nos trarão os seus e os nossos filhos e netos.”

Falta um ano para os 50 anos de Abril. Vem aí um Portugal diferente, fruto da passagem do tempo e do inexorável advento das novas gerações. Saibamos falar sobre esse Portugal futuro o suficiente para fazer dele também um Portugal melhor (…)”, conclui e espera o colunista.

Nós também.


PS: O autor abre o seu artigo com a frase: “O passado é um país estrangeiro. O futuro também.” Apesar de tudo, porém, o passado deixa marcas e testemunhos reais, o passado aconteceu. Mas o que dizer do futuro, essa categoria temporal e incorpórea que ainda não aconteceu, senão que é ainda mais estranho do que o passado? Podemos fazer previsões, sujeitas a erro, como faz a ciência meteorológica, ou projectá-lo seguindo as tendências do presente, que podem ou não concretizarem-se, mas o futuro será sempre, por definição, uma caixa de surpresas.


01/05/23

190


NO CORRER DOS DIAS

Marques da Silva







As estradas unem distâncias, lugares, culturas, estendem-se por territórios quantas vezes infindáveis. Existem como necessidade imperiosa desde que o uso da roda permitiu a construção do primeiro veículo revocado pela força cavalar. Com o aparecimento do automóvel, cresceram, alargaram, tornaram-se mais sólidas. No nosso século XX vivido maioritariamente nos anos de chumbo, o tempo imobilizou-se, tal como as estradas que não saíram do seu traçado medieval. Quase havia mais peregrinações na estrada do que automóveis e as regras eram simples. As estradas estruturantes receberam a numeração de 1 a 99 e eram prioritárias sobre as restantes. As secundárias contavam-se de 100 a 299 e tinham prioridade sobre as subalternas, as 300 e as 400 e todas as restantes que se seguiam que já não eram muitas. Assim sendo, esta N222 que me leva os passos era secundária, o que se compreende. Que importância, tinham concelhos como Resende ou S. João da Pesqueira e todos os seus irmãos da margem esquerda do Douro, no seu isolamento histórico, geográfico, económico e social para um regime que só conhecia a capital do Tejo senhora de um império e onde os biltres do regime pontuavam? Quando a democracia amanheceu, surgiram os primeiros projectos e estas estradas tão sedutoras como perigosas viram aparecer variantes, como esta que se me depara logo à saída de Avintes. Porém, procuro as velhinhas rotas, as iniciais, as que nos levavam na infância e na adolescência e entro pela Rua Central do Olival agora toda industrializada. Mas não vou longe, desvio em direcção ao rio, ao pequeno lugar de Arnelas, pendurado em socalcos escorregadios sobre o Douro, vielas estreitas e ruas que podemos amparar com os braços estendidos. Ali está sossegado este espaço em frente a Zebreiros, com a sua praia e protegido pela capela de S. Mateus. Apetece ficar nesta quietude com a corrente mansa, mas o destino ainda está longe e regressamos à nossa estrada. O traçado é bom, suave e melhorado, mas por poucos quilómetros. Quando chega a velhinha estrada, estreita, sem passeios e sem bermas, não resistimos a novo desvio. É a atracção do rio e dos lugares que parecem pendurados sobre a água. Descemos, descemos até Crestuma. Menos isolamento, maior altitude, mas de novo, a igreja protectora das gentes no seu centro elevado. Estas fugas têm o condão da descida e o labor da subida, mas são parte dos arredores desta Nacional. Reparo agora nos marcos da margem da estrada, Km 11, um pouco adiante informam-nos que estamos a 44 kms de Castelo de Paiva e após o campo dos famosos Dragões Sandinenses a informação é do Km 14. Parece que estamos no mesmo lugar, quase não se nota o movimento. Logo após novo desvio, agora para a direita, seduzidos pela indicação sobre fundo castanho de “Mosteiro”. Quando chegamos não é a pedra vetusta que encontramos, mas paredes brancas, lisas e lavadas. O interior é singelo e luminoso, mas onde está o mosteiro beneditino fundado no século XI que desejávamos ir encontrar? O Mosteiro de Salvador de Vila Cova de Sandim tornou-se feminino no século XII e as monjas no século XVI foram transferidas para o Mosteiro de São Bento da Avé-Maria que acabou no bonito átrio da Estação de São Bento. Um pórtico manuelino deste convento, encontra-se no cemitério do Prado de Repouso. Regressados ao nosso caminho, passamos o km 18 e logo de seguida encontramos a N223, cruzamos a A32 e vamos em direcção à Rota do Românico. Pouco depois, mudamos o rumo de novo em direcção ao rio. Procuramos outro lugar desses que não vemos. Estamos no distrito de Aveiro que aqui alcança o Douro numa extensão de dois quilómetros e meio. É nessa faixa que encontramos Porto Carvoeiro. De novo, gostávamos de ficar, sentarmo-nos e deixar o olhar perder-se no tempo que por ali corre com suavidade. Subimos à procura da N222 que deixamos, atravessamos o Inha, um desses afluentes menores do Douro que não vêm na história e do miradouro de Labercos apreciamos este Douro num dos seus cotovelos mais salientes. Novo desvio retira-nos ainda uma vez mais da nossa estrada para satisfazer um desejo antigo, visitar a Lomba, esse território de Gondomar preso na margem esquerda, numa língua de terra prolongada, um dedo estendido como em Tourém. Percorro os cerca de cinco quilómetros até à sua praia, onde o Douro desenha um U, belo e deslizante, bonito de se ver quando viajamos na N108. O cansaço começa a dar sinais de impaciência e sentados na areia como se estivéssemos para ficar acode-nos à memória aquele canto do Pedro Barroso que nos diz, “pus-me à noite a ouvir o mar, sentado na pedra, sentado na areia, e vi uma barcarola chegar devagar, nesta melodia” e ocorreu-nos pensar que a vida é como o curso de um rio. Brota pequenina de uma nascente que escorre pela pedra da montanha e vai deslizando, encontrando outras águas e crescendo. Ao longo do percurso encontra pessoas como lugares, aldeias, cidades. Em algumas detém-se, alarga as suas águas e deixa-se ficar. Noutras é mais breve. Em momentos do seu caminho, poucos, por vezes, únicos, encontra um lugar de onde não deseja sair, cidades com beleza acrescida, deslumbrante. Nesses espaços, o seu curso entra por entre as avenidas, o murmurar do lugar, os seus espaços verdes, dá voltas, rodopia, como quem não deseja continuar, quer ficar por ali. Mas como o rio, a corrente da vida prossegue, novas águas, substituem as antigas e assim parece que não saem do lugar. Por fim, encontra o mar e entrega as suas águas doces no sal marítimo do oceano. Amanhã regressamos à N222. 

REFLEXÕES SOBRE A GUERRA

Manuel Joaquim

(Jofre Amaral Nogueira)



Todos os dias temos comentadores encartados a escrever ou a falar sobre a guerra na Ucrânia, nos jornais, nas rádios e nas tvs, nestas com cenas em fundo vistas muitas vezes em vários dias, e ficámos a saber o mesmo sobre os acontecimentos, quase sempre com apreciações muito subjectivas, que, depois, através de outros canais de notícias, verificámos não corresponderem ao que realmente se passou ou passa. A informação está toda ao serviço de determinada política. A opinião das pessoas é condicionada pelas informações que lhes dão.

Faz-me lembrar a “Casa de Bernarda Alba”, levada a cena pelo TEP há muitos anos, quando tudo estava a desmoronar-se e dizia ”Aqui não se passa nada”, com a extraordinária interpretação de Júlio Cardoso. Como também me faz lembrar a “Brigada do Reumático” quando se dirigiu a Marcelo Caetano, após os acontecimentos de 16 de Março de 1974, nas Caldas da Rainha.

Sobre a guerra, não tenho informações que me permitam fazer comentários. Sei que está a morrer muita gente, civis e militares, e vai continuar a morrer muita gente.

Hoje, é cada vez mais claro que a guerra não é entre a Rússia e a Ucrânia, mas sim entre o que se passou a designar o “ocidente alargado” e a Rússia. E os comentadores encartados vão subtilmente alterando o que vão dizendo e a admitirem que a Ucrânia é uma peça no xadrez.

Continua a haver vozes defendendo que a Rússia tem que ser destruída. Um dos panfletários é “o jardineiro” da União Europeia, que aparece no seu jardim de camuflado, a defender a criação de um exército europeu para destruir a Rússia. Para já, a EU está a gastar milhões em equipamentos militares e é, para todos os efeitos, o braço político da Nato. Para isso, os europeus vão passar a ter menos dinheiro para manteiga, mas mais armas para matar pessoas.

Para compreender as causas desta guerra temos de conhecer os acontecimentos históricos, desde o século XIX, praticamente desde a “Primavera dos Povos”, 1848, que levou à “Comuna de Paris”, 1871, à Revolução de Outubro, 1917, à “Grande Guerra”, 1914-1918, à “2ª Guerra Mundial”, 1939-1945, até à presente data.

Sérgio Ribeiro, em “Reflexões e anotações sobre Crítica da Economia Política”, livro que deve ser lido, fonte de alguns comentários aqui efectuados, refere que a “economia política continua a ser fulcral na evolução do estado do mundo ” E, de facto, é a economia política, a luta de classes, o problema das matérias-primas, os “espaços vitais”, que determinam as guerras.

A Alemanha procurando o seu “espaço vital”, ocupou a Polónia, e provocou a 2º Guerra Mundial, a partir de 1 de Setembro de 1939, pretendendo conquistar a URSS para obter matérias-primas, designadamente combustíveis. A Inglaterra, inicialmente, procurou participar no festim, mas a sôfrega do alemão não permitiu. O governo da França passou a colaborar com o nazismo, assim como diversas organizações dos países bálticos e não só. A guerra era contra uma sociedade diferente, com valores diferentes, que punha em causa os valores dominantes.

A guerra acabou com a derrota da Alemanha, com a entrada do Exército Vermelho em Berlim.

Os Aliados: Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética prepararam o pós-guerra. Entre as duas reuniões realizadas, e já com a guerra terminada os EUA, em Agosto de 1945, lançaram duas bombas atómicas sobre as cidades do Japão – Hiroshima e Nagasaki, sem avisar os participantes.

É bom referir que a França não participou nessas reuniões. Como também é bom referir que antes das reuniões entre EUA, Inglaterra e URSS, realizou-se uma reunião no alto mar entre Churchill e Roosevelt onde foi aprovada pelos dois a “Carta do Atlântico” (14 de Agosto de 1941) ainda antes do final da guerra. É interessante ler as Memórias de Churchill e descobrir qual era o verdadeiro objectivo da 2ª Guerra Mundial: destruir a URSS. Mas não aconteceu. Os EUA só entraram na guerra depois de verificarem que o exército vermelho estava decididamente a ganhar a guerra.

Nas primeiras reuniões para a formação do Fundo Monetário Internacional a URSS participou, mas posteriormente foi excluída.

Os EUA, ex-colónia da Inglaterra, sempre ligada aos interesses do império britânico, beneficiou largamente com a 2ª Guerra Mundial, permitindo-lhe desenvolver a sua economia fundamentalmente através da indústria militar.

Hoje, têm mais de 800 bases militares à volta do mundo. Após a 2ª guerra mundial efectuaram mais de 200 intervenções militares. 25% delas foram efectuadas depois do fim da guerra fria, não falando em intervenções que levaram a mudanças de regime. Victoria Nuland, secretária de Estado dos EUA, interveio directamente no golpe de estado na Ucrânia, participando e dirigindo operações no terreno, tendo declarado, em determinado momento, que tinham gasto cinco mil milhões de dólares na preparação do golpe, e, respondendo ao embaixador dos EUA sobre a posição da União Europeia, disse-lhe “que se foda a EU”.

Em 1949 o Partido Comunista Chinês conquistou o poder. Os EUA, em determinado momento, tentaram provocar problemas entre o PCC e o PCUS, criando a ideia de que a China seguiria outro caminho que não o do socialismo. De facto, aconteceram divisões entre os PCs. O imperialismo acreditou.

Lembro-me de nessa altura, Jofre do Amaral Nogueira, historiador e filósofo, que foi meu professor, dizer que se a URSS fosse derrotada pelo imperialismo, ficaria a China para continuar a luta pelo socialismo. Se fosse a China derrotada, ficaria a URSS, para continuar a luta. Hoje, para terror do imperialismo, ambos os países estão unidos na defesa dos seus interesses.

Jofre do Amaral Nogueira faleceu em 1973, em Lisboa, sobre uma mesa do café Paladium, na Avenida da Liberdade, em circunstâncias estranhas, tendo desaparecido uma pasta com documentos importantes.

A crise dos mísseis em Outubro de 1962 esteve quase a provocar uma guerra nuclear. Os EUA não admitiram que os soviéticos instalassem mísseis nucleares em Cuba, à sua porta. Cabeças frias de ambos os lados resolveram o problema. Os soviéticos retiraram os mísseis. Mas isto aconteceu porque os EUA também retiraram 15 mísseis nucleares que, anteriormente, isto é, em Novembro de 1961, tinham colocado na Turquia, situação que nunca é referida quando se fala dos mísseis em Cuba.

Se a Rússia vier a instalar armas nucleares, em Cuba, na Venezuela, na Nicarágua e noutros lugares, tendo como alvos as suas grandes cidades, como vão reagir os EUA? Como vai ser apreciado o desenvolvimento da Nato na Europa, particularmente na Ucrânia?

A OTAN – NATO, Organização do Tratado Atlântico Norte, considera-se uma organização defensiva circunscrita ao Atlântico Norte, mas que interveio na guerra da Jugoslávia, sem decisão das Nações Unidas, no Afeganistão, no Iraque e noutras partes, também sem decisão das Nações Unidas e agora pretende intervir na Ásia. Como é possível?

Uma outra questão que me parece importante: A 2ª Guerra Mundial foi iniciada pela Alemanha por falta de espaço vital, por falta de matérias-primas e por falta de combustíveis Neste momento, a Alemanha não tem acesso nem a combustíveis nem a matérias-primas. Está em sufoco económico. Como vai reagir perante esta situação?

Quem falar em Paz é acusado de tudo e é perseguido. Nenhum país da EU fala em Paz, fala em guerra. Os comentadores e a maior parte dos políticos quando foram confrontados com a iniciativa da China ao apresentar 12 pontos para meditar sobre um plano de Paz, desvalorizaram e até gozaram com a situação. O que lhes interessa é a guerra, não querem a Paz. Mas agora, quando se iniciam passos por iniciativa da China estão a ficar muito desorientados. São sinais evidentes de que coisas não lhes estão a correr bem.

Alguém se lembra ou sabe o que diz o Artº 7º da Constituição da República Portuguesa, incluindo os membros dos órgãos de soberania?

A SÍNDROME DE KASPAROV

António Mesquita


(imagem produzida com a ajuda instantânea da  IA)



«Um dia os homens deixarão os aviões, os transatlânticos, os comboios de alta velocidade, os automóveis para regressar aos caminhos do bosque.»

 (Tolentino de Mendonça em "O estado do bosque" )



"A história da inteligência artificial começa muito antes da tecnologia moderna. Há séculos, filósofos como Platão e Aristóteles teorizavam sobre a capacidade da mente humana de criar ideias e raciocinar. No entanto, a primeira tentativa conhecida de criar uma máquina inteligente surgiu no século XVII, quando o filósofo e matemático alemão Gottfried Leibniz propôs a ideia de uma "calculadora universal" que pudesse manipular símbolos para realizar cálculos matemáticos.

Durante a década de 1940, pesquisadores como Alan Turing e John von Neumann desenvolveram novos algoritmos e computadores que permitiram a criação de sistemas de inteligência artificial mais complexos. Na década de 1950, o termo "inteligência artificial" foi cunhado por John McCarthy, que promoveu o acesso mais amplo à criação de sistemas inteligentes por meio de uma linguagem de programação comum.

Com o passar das décadas, a inteligência artificial desenvolveu-se rapidamente, com avanços significativos em áreas como visão computacional, reconhecimento de voz, aprendizado de máquina e robótica. Alguns dos momentos mais notáveis na história recente da inteligência artificial incluem a criação do assistente virtual Siri da Apple, o software do AlphaGo da Google sobre o melhor jogador humano em Go e os avanços na tecnologia de carros autónomos da Tesla.

Hoje, a inteligência artificial está no centro de muitas tecnologias emergentes, incluindo o blockchain, a internet das coisas e a realidade virtual. Espera-se que a tecnologia continue a desenvolver-se rapidamente nos próximos anos, criando novas oportunidades e desafios em áreas como ética, privacidade e segurança."

Este prólogo foi escrito pelo ChatGPT, com pequeníssimas correcções dos brasileirismos.

A partir daqui pretendo desenvolver a ideia de que a IA, muito mais do que as tecnologias anteriores, não vai mudar (ou ameaçar) simplesmente o emprego e forçar a humanidade a dar um "passo de gigante" para o desconhecido. 

Não se pode avaliar o papel do espírito - noção mais que  controversa hoje em dia - nas civilizações que apareceram à superfície da terra, tanto a inteligência e o conhecimento se confundem com ele. Diz-se o espírito da época para descrever uma cultura e uma mentalidade, o que fica longe da ideia. E é no par corpo e espírito da tradição cristã que revive o platonismo que formulou talvez a ideia mais pura.

O nome da  coisa não deixa dúvidas sobre que se trata de inteligência, potenciada pelo acúmulo de dados e memória e pela  espécie de diálogo com o ser humano que a partir daí se engendrou.

Se o espírito se nutre duma compreensão e absorção dessa memória tornando-a matéria de criação e de vida nunca terá de recear que uma máquina, por mais sofisticada que seja,  ponha em causa a sua transcendência e superioridade.

Por outro lado, a produção da IA e a do artista ou pensador  tornaram-se cada vez mais indiferenciáveis - devemos esperar que  os prémios comecem a chover sobre a fotografia, o cinema, a música ou a literatura feita por "robots" - a ponto de desencorajar os artistas e os homens de pensamento. É hoje tão fácil produzir uma imagem original a partir da realidade ou dum artefacto humano que não são  apenas os empregos e as vocações que estão em risco. Ninguem capaz de produzir arte instantânea ou escrever, em segundos,  um texto novo que vá beber às influências que se queira, se sentirá motivado a competir com um "robot" em contínuo aperfeiçoamento.

Essa "desmoralização", essa esterilidade dos criadores humanos será um facto novo de consequências incalculáveis. Já vemos em países como a China tentativas de suprimir a dimensão política da vida dos cidadãos. Podemos imaginar o que o poder absoluto fará com uma indústria cultural inteiramente submetida e todas as formas de arte produzidas pela IA a formatar as mentes humanas. A conclusão desse processo só poderá ser distópica, com a substituição do autocrata humano pela inteligência artificial. No fundo, o que haverá de mais racional?

Há tempos assistimos a um movimento de elites a favor duma moratória no desenvolvimento da IA. Significa, em termos bíblicos, que Deus não lançaria a sua interdição sobre a árvore do conhecimento duma vez por todas. A proibição seria uma pausa, uma contenção no tempo, auto-imposta por Adão e Eva. 

A maçã não escaparia para sempre ao primeiro par. O Paraíso nunca seria perdido em troca de alguma paciência e moderação. Mas nem isso é possível. O galope desenfreado é o que nos espera.

Mas Garry Kasparov, o grande xadresista derrotado em 1997 pelo "Deep Blue",  não ficou desmoralizado. Continuou a jogar xadrês,  a ensinar e a reflectir sobre como a tecnologia mudou o mundo. Além disso, envolveu-se na política e tornou-se crítico de Putin.

E os artistas do Renascimento italiano também não deixaram de criar e de ser eles próprios só porque Leonardo atingiu a perfeição. Haja esperança. 

Finalmente, esta mensagem poderia ter sido subscrita pelo Chat GPT, porque é inteiramente racional.

O VAZIO IDEOLÓGICO

 Mário Martins

https://comunidadeculturaearte.com/a-hipermodernidade-de-gilles-lipovetsky/ 

 “A luta climática vem preencher o vazio das grandes ideologias”Gilles Lipovetsky

(Entrevista ao Jornal Público, 25Março2023)

  

As teses abordadas pelo filósofo francês na citada entrevista (não li qualquer livro dele), poderão esquematizar-se em alguns pontos:

  1. A crise climática é o grande desafio do século.
  2. As paixões individualistas são mais fortes do que o futuro planetário, pelo que não haverá conversão da população mundial à frugalidade.
  3. As crises financeiro-económicas não são favoráveis à solução. As pessoas          pensam e   agem mais segundo o slogan: “não estamos preocupados com o fim  do  mundo, estamos preocupados com o fim do mês."
  4. A eficácia da tecnociência sobreleva a eficácia da moral. Em breve teremos 9000  milhões de consumidores no planeta. Acreditar que, de uma hora para a outra, eles       vão todos ficar moderados e razoáveis… é um filme de Hollywood. A virtude é    incapaz   de mudar o mundo.
  5. Temos de parar de culpar os consumidores. Imagine-se que todos os europeus   se   tornam espartanos. Deixam de usar o carro, aquecem a casa a 17     graus     Celsius,       prescindem do avião, abdicam das roupas da Zara e da H&M.             Conseguimos reduzir as        emissões em, digamos, 20%? A não ser que               queiramos ter um Estado totalitário que  proíbe o cidadão de conduzir um   carro, comer carne e comprar novos produtos,  temos de ter soluções     inteligentes. E, aqui, a inteligência traduz-se em leis,    investigação, debate           democrático.
  6. A solução passa pela inovação e pela tecnociência, sob o olhar regulador do Estado e com a participação de diferentes actores sociais. Não haverá solução sem engenheiros e cientistas. Não podem deter a solução sozinhos; eles fazem-nos propostas e nós    concordamos, ou não. Mas, sem eles, não haverá solução à escala planetária. Sem   eles,  será o caos.
  7. A luta ecológica vem preencher o vazio das grandes ideologias de outrora. Antes, os  militantes lutavam pelo comunismo, pela revolução, pelo socialismo, pelo fascismo ou  pelo nacionalismo. Hoje, as grandes causas colectivas perderam peso. As formas de  luta debruçam-se agora sobre coisas novas como a protecção do planeta.

A passagem à actual (e provisória?) fase pós-covid para a qual se vaticinava que “nada seria como dantes”, veio demonstrar a validade destas teses quanto ao comportamento das pessoas, as quais, pelo contrário, ansiavam pelo regresso ao estilo de vida pré-covid.

Não há como não reconhecer que a ciência e a tecnologia modelam ou, no mínimo, influenciam grandemente os nossos comportamentos e o nosso modo de vida. A globalização, a massificação do turismo, não teriam sido possíveis sem os avanços espectaculares das comunicações, da informática, da internet, do uso intensivo do avião.

Os telemóveis (que, inicialmente, serviam para telefonar, e agora até servem para telefonar…), esses, põem-nos o mundo no bolso, ao preço de uma atenção absorvente. E a chamada inteligência artificial é o novo “brinquedo” criado pela inteligência humana, que não sabemos realmente aonde nos levará, mas em cujo desenvolvimento se estão a fazer investimentos colossais. Esperemos, como alertava, o famoso escritor de ficção científica, inventor e divulgador de ciência, Arthur C. Clark, que possamos sempre “desligar a ficha”.

Em suma, a tecnologia que, nos últimos anos, tem constituído um autêntico desafio às gerações mais velhas, habituadas a um ritmo de vida mais pausado, estável e nada virtual, transformou a organização e a vida em toda a estrutura económico-financeira, no ensino e na saúde, modificou a nossa vivência caseira, alterou o nível e as condições do emprego, ao mesmo tempo que as relações humanas se tornaram cada vez mais impessoais, em que o outro é apenas um naco de escrita, uma imagem ou uma voz, e não já uma pessoa real à nossa frente.

É certo que a tecnologia não é boa nem má em si. São os homens que fazem o melhor ou o pior uso dela. Parecia que os avanços tecnológicos dos últimos anos permitiriam a melhoria das condições de vida das pessoas, e no entanto… Mas se o seu desenvolvimento é imparável, dado o nosso impulso natural de descoberta, é prudente reconhecer que algumas tecnologias possuem maior potencial de serem mal utilizadas. O caso da energia nuclear é disso um exemplo pungente.

Poderia, entretanto, objectar-se ao proclamado vazio ideológico que o liberalismo, de um lado, e o autoritarismo, do outro, não deixam de ser ideológicos, e que os protestos de rua não serão imunes a influências ideológicas, mas em qualquer caso, longe das grandes ideologias salvíficas.

Quanto à crise climática, que o filósofo considera ser o desafio do século, das duas uma: ou os seus efeitos se agravam de forma assustadora para cada um de nós, levando-nos a aceitar, na ausência de soluções tecnológicas, mudanças dramáticas no nosso modo de vida, ou a tecnociência produz inovações espectaculares que permitem dispensar grandes mudanças na nossa “vidinha”. 

Tudo está, pois, em aberto, no seio de uma Natureza essencialmente imprevisível.



View My Stats