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01/02/15

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70. ANIVERSÁRIO DO FIM DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Manuel Joaquim



Na passada quinta-feira, 29 de Janeiro, a União de Resistentes Antifascistas Portugueses – URAP , fundada em Abril de 1976, associando-se à iniciativa da Federação  Internacional de Resistentes – FIR,  de comemorar o 70º aniversário do fim da 2ª Guerra Mundial  e a derrota do nazismo, fazendo percorrer também em Portugal a Tocha da Liberdade e da Paz e  realizar conferências e exposições sobre a guerra e sobre o nazismo e o fascismo, realizou no Porto a inauguração dessa importante iniciativa. 

Na Escola Secundária de Gondomar, para além de uma exposição fotográfica sobre a 2ª  Guerra Mundial, colocada no corredor principal,  duas turmas do 12º ano, no horário da disciplina de História, das 12 às 13,30 horas, assistiram a relatos e experiências de vida transmitidos por representantes e convidados da URAP.  

Depois de apresentada a URAP e os seus objectivos, Fátima Silva, professora de história, convidada, numa linguagem aberta e jovial mas rigorosa, referiu-se aos tempos da guerra, às experiências que teve quando era criança, ao racionamento do pão, à  violência  exercida sobre as pessoas. Dirigindo-se sempre para os rapazes e raparigas presentes, sensibilizou-os para a barbárie da guerra,  através da passagem de mão em mão de livros com fotografias e descrições de campos de concentração, e para a necessidade de estarem atentos e desenvolverem capacidade critica sobre a comunicação que é divulgada para não serem levados como carneiros.

Alexandre de Almeida, 84 anos, reformado de profissional de seguros, convidado, com limitações de saúde, disponibilizou-se para falar para aquelas dezenas de jovens para transmitir-lhes episódios da sua vida, dos tempos que passou na prisão da Pide e das violências de que foi vitima. Sempre com um discurso vigoroso de confiança no futuro, de grande confiança nos jovens, alertou-os para a necessidade de lerem e de se manterem bem informados.  Foram relatos extraordinários e emocionantes que  contagiaram  a generalidade dos jovens e professores presentes, muitos não evitaram lágrimas nos olhos. No final, procuraram Alexandre de Almeida para conversar e para serem fotografados com ele. 

A meio da tarde, apesar de muito chuvosa, na Praça da Liberdade, deu-se início à cerimónia de acender a Tocha da Liberdade e da Paz. Pequenos discursos, leitura de poemas e partida para os Fenianos para a sessão comemorativa do fim da 2ª Guerra Mundial com participação de César Principe, Viale Moutinho e Marilia Villaverde Cabral.. 
A realização da cerimónia na Praça e o desfile até aos Fenianos não foi fácil. E não foi por causa da chuva. 

Foi necessário informar previamente as autoridades policiais. Acender a Tocha, um pequeno funil em chapa, cuja chama era mais pequena do que a chama de uma vela, obrigava a presença de bombeiros.  Os Bombeiros Voluntários não tinham ninguém disponível em virtude do permanente  transporte de doentes para os hospitais. Os Sapadores, da Câmara Municipal, prestavam o serviço, mediante o pagamento de um pouco mais de 100 euros à hora, com o mínimo de quatro horas.  O desfile não foi autorizado pela Polícia. Para o autorizar teria de  ser realizado após as 19 horas e trinta minutos.  Para evitar contratempos as dezenas de pessoas deslocaram-se para a sessão comemorativa com o pano do desfile dobrado.

Qualquer dia vamos deparar ao virar da esquina com bombeiros  junto dos assadores de castanhas da cidade e com os publicitários de compra de ouro com os cartazes às costas  a circularem na baixa só depois das 19 horas e 30 minutos. 

A comemoração do 70º Aniversário do fim da II Guerra Mundial e da derrota do nazi-fascismo, recordar as dezenas de milhões de pessoas que morreram e as que ficaram estropiadas para toda a vida e aquelas que entretanto nasceram defeituosas, recordar cidades inteiras destruídas, recordar  a fome e a miséria por todo o lado,  é tão importante para os povos de todo o mundo para  defenderem a Paz e a Liberdade. 

Há poucos dias o Telejornal deu noticias sobre visitas que  estudantes americanos do secundário estavam a fazer ao Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos em Washington. O estado emocional e as declarações dos jovens americanos não eram diferentes das reacções dos jovens portugueses da escola de Gondomar. 

A Tocha da Liberdade e da Paz já percorreu muitos países, já passou pelo Vaticano,  onde foi benzida pelo Papa, e vai passar por muitos mais até chegar a Berlim  em 9 de Maio. Neste momento está a percorrer Portugal com o apoio de muitas autarquias, escolas  e diversas instituições. Iniciativas destas ajudam a educar e a enfrentar o ódio, a promover a dignidade, a fortalecer a democracia  e o valor da Paz.

Perante isto, deparar com a insensibilidade (?) das autoridades da cidade do Porto é triste.  

Estas iniciativas fizeram-me recordar a visita que fiz ao campo de concentração de Buchenwald em 1975. Um dos maiores campos de concentração criado pelos nazis a poucos quilómetros da cidade Weimar, para prisioneiros especiais, isto é, dirigentes políticos,  sindicais, intelectuais, resistentes, de várias nacionalidades. Um português, Luis Ferreira, de Braga, militante comunista, esteve lá. Jorge Semprun, escritor, espanhol, na altura militante comunista, esteve lá. Ambos sobreviveram com a libertação. Ernest Thalmann, Secretário Geral do Partido Comunista Alemão, preso pela Gestapo, foi transferido para este campo de concentração e logo à entrada da porta  foi assassinado a tiro. Mais de cinquenta mil pessoas foram assassinadas. Uma criança sobreviveu escondida pelos prisioneiros. Com o fim da guerra chegou a ser locutor da televisão da RDA. Está publicado um livro com a sua história.

As casernas com milhares de prisioneiros,  deitados nos estrados. Os chuveiros, ditos para a desinfecção,  onde os prisioneiros eram gaseados para seguirem para os fornos crematórios. As cinzas aproveitavam-se para sabão. Nas instalações do comandante estão expostos abajures feitos com pele humana e  bibelots feitos com cabeças humanas reduzidas.

Não há muito a dizer. Palavras para quê? O importante é consciencializar as pessoas para lutarem contra o fascismo, pela Paz pela Liberdade.

CARTA A FILIPA VICENTE




cara Filipa Vicente


Endereço-lhe esta carta, no pressuposto de que me autoriza este, digamos, atrevimento, para a saudar pelo seu livro, A Arte sem História. Foi um acaso que me levou até ele, um bom acaso, permito-me dizê-lo agora. Ao passar pelo JL, encontrei a Lídia Jorge que me recomendou a sua leitura e fê-lo tão vivamente que não era possível recusá-lo. Não sei como adjectivá-lo, pois dizer simplesmente que é um livro bonito parece-me até desadequado, e bom, insuficiente. Talvez, encantador, no sentido que nos enfeitiça o olhar, a leitura e até o toque. Apetece-nos deixar nele as mãos nesse afago de prazer pela apresentação, pelo tema e pela bonita e perfeita composição. Acresce que colocar no devido lugar da História os seus personagens só pode ser um aspecto positivo que engrandece a obra e se os personagens são mulheres, esses seres insubstituíveis que ao longo do tempo se destacaram, pela sua perseverança, pela sua coragem e, neste caso, também pela sua arte, só lhe podemos ficar gratos por nos ter proporcionado o contacto atento com esta Arte sem História. O conceito de História total permitiu abrir horizontes, rasgar janelas no passado que nos permitiram aceder a conhecimentos até então guardados nesses armários do tempo que permaneciam por abrir. Pese embora, José Mattoso na sua A Escrita da História nos dizer que «foram, afinal, os movimentos feministas, com a sua própria contestação do próprio ordenamento da sociedade ocidental, aquilo que fez ver também a necessidade de introduzir este novo factor como indispensável para se poder alcançar esse ideal», opinião que só pode merecer o meu acordo, não posso deixar de referir que por momentos pensei encontrar na sua bela escrita, a ideia do machismo, da supremacia. Mesmo admitindo estar correcta a minha leitura, em nada ofusca a riqueza do texto, apenas me deixa nessa interrogação de saber se a diferença tão sensível entre o homem e a mulher, ainda hoje tão visível, se resumiu a uma simples ideia de machismo. O mesmo José Mattoso, na já referida obra, escreveu a propósito da Idade Média, as seguintes palavras, «é verdade que a sociedade medieval é fundamentalmente machista. Que o pai é a autoridade familiar. Tal é, sem dúvida, a norma. Os textos e toda a espécie de vestígios dizem-no à saciedade. O que a norma defende, proclama e exprime, é uma ordem de valores. Ela não implica necessariamente a inferiorização da mulher, nem que se lhe recuse qualquer papel efectivo nas decisões familiares». Creio ser esta a questão essencial, «a ordem de valores» que a cada espaço temporal prevalece nas sociedades e acaba por discriminar distintos grupos, as mulheres sem dúvida, mas tantos outros, como no presente separa os que trabalham, indiferente ao género, dos que governam ou de alguma forma detêm o poder, como aliás, muito bem o expressa a Filipa Vicente na página 63, «as mulheres não são necessariamente mais atentas aos direitos das mulheres só por serem mulheres. Como tem sido tão estudado nas últimas décadas, as mulheres, tal como os homens, fazem parte de um mesmo contexto político, social, cultural  com diferentes configurações históricas  e, como tal, também reificam e reproduzem a hegemonia patriarcal da sociedade onde vivem, contribuindo elas próprias para a sua subalternização.», e vai até bem mais longe já na fase terminal deste excelente livro, na sua página 233, quando escreve que «como tem sido muito estudado pelas ciências sociais e humanas, tudo aquilo que implique uma mudança dos nossos hábitos, da nossa forma de pensar e de agir quotidianamente, ou uma dificuldade acrescida àquilo que fazemos automaticamente, gera resistências. A mudança implica parar e questionar, implica uma atitude proactiva que se pode tornar mais um obstáculo, a juntar aos muitos que a simples vivência da normalidade já proporciona.» A demonstrar a grandeza destas suas palavras temos o presente deste nosso país, onde se impõem pretensas e profundas mudanças desestruturantes da sociedade e da sua coesão social, sem que haja a mínima intenção desse tão necessário, «parar e questionar», gerando desigualdades, discriminações, e paralisando a criatividade e a promoção de uma igualdade, já não tanto, dos grupos sociais, mas de alguns dos seus componentes, como é o caso do masculino-feminino, tal como aparece espelhado nesta obra literária que bem podemos chamar de arte. Estimada Filipa Vicente, já não vivemos em tempos medievais e no entanto, bem podemos afirmar que o nosso país humedeceu, cheira a bafio, ganha bolor e as ideias, a criação do pensamento, rasteja pelo soalho fugindo das baratas nascidas na estrumeira sem limpeza do poder. Vivemos três anos de intrujices e gatunagem legalizadas. Este ano, fazemos um interregno, pois vão juntar a demagogia à aldrabice enquanto escondem debaixo do tapete os actos de rapina que fizeram desabar sobre a sociedade, os quais recuperarão em 2016, «se Deus quiser» dirão as diabólicas figuras de um poder assaltado três anos antes. Cara Filipa Vicente, como acreditar no futuro nestas circunstâncias, como proteger os humanos direitos das mulheres e também dos homens neste cerco mortal montado por este tribunal de maldades, onde figuras estúpidas e perversas, saídas das cavernas mais escuras da História, vertem sentenças definitivas a favor de um poder fétido e ilegal? Perdoe-me este desvio do que é essencial e aqui me trouxe, o elogio mais do que merecido ao seu belo trabalho vertido neste A Arte sem História.

Receba os meus mais calorosos cumprimentos,

Afonso Anes Penedo      


A GUILHOTINA

António Mesquita

Joseph-Ignace Guillotin

Senhores, com a minha máquina, farei saltar a cabeça num abrir e fechar de olhos sem sofrimento... o mecanismo cai como um raio, a cabeça voa, o sangue jorra, o homem deixa de existir!" No máximo, o condenado terá, "na nuca, uma sensação de hálito fresco."

(Guillotin, 1789 , à Assembleia Nacional)

O fim mais ou menos suave, indolor, que a maioria de nós deseja na sua própria morte, era o principal argumento dos inventores da guilhotina. A sensação de 'hálito fresco' na nuca correspondia à inexorabilidade da sentença, mas, sobretudo à 'humanidade' com que era aplicada. Sem ódio, nem emoção que fizesse tremer a mão do carrasco. O condenado, simplesmente, deixava de existir, como se caísse no alçapão de 'Julieta dos Espíritos'.

A medida era tão conforme à mentalidade de uma nação que foi o berço do racionalismo moderno, com a filosofia cartesiana, e que, durante a sua Revolução, ergueu a Razão ao estatuto de divindade, que se continuou a guilhotinar até 1975.

'Meter a guilhotina no saco' foi o que se devia fazer na emergência de um mundo cada vez mais pequeno (ou global). Mas o aspecto 'filantrópico' do instrumento de passagem 'administrativa' para a 'outra vida', tem um grande futuro. Kafka imaginou até a máquina de punir 'automática': a falta, ou o crime eram imediatamente punidos com a dor exactamente apropriada, segundo a lei. A 'justiça' dependeria de uma precisão absoluta.

O que é que a razão poderia ter a objectar a tal eficácia?

NÃO SOMOS A GRÉCIA!

Mário Faria
Não somos a Grécia!


O Syriza venceu as eleições na Grécia e rapidamente formou um governo com o partido de direita, Gregos Independentes. Foi uma entrada sem néon, mas com muita luz e cheia de ambição em relação ao projecto político de cariz patriótico e contra a inevitabilidade das duríssimas condições de austeridade impostas. A renegociação da dívida, consta do plano e está na agenda europeia. Os mercados ficaram, de imediato, muito nervosos e agiram à sua maneira: os juros de curto prazo subiram para valores acima dos 12% e o principal índice bolsista grego caiu 9,24% e na banca as perdas foram superiores a 25%. O novo ministro das finanças, Yanis Vouroufakis, já desdramatizou o ambiente das futuras negociações, afirmando que: Não haverá duelo entre o nosso Governo e a UE. Não haverá ameaças. O que está em causa não é saber quem recuará primeiro e que nesta primeira ronda negocial com os homólogos da Holanda, Itália e França a estratégia a seguir nos encontros passa por conseguir: Uma ponte entre o anterior programa e um acordo final, entre a Grécia, a União Europeia, o BCE e o FMI, que será negociado num curto prazo. Do que já se apurou, a negociação vai ser muito complicada.
Recebi esta vitória eleitoral do Syriza com muita ilusão porque quero acreditar que esta paz podre que perpassa na UE vai ser sujeita a um abanão que se espera resulte em mudanças que, obviamente transportam riscos. Mas, nunca é de outra maneira. Não acredito que a nossa dívida seja sustentável como o governo garante. Não só porque a divida soberana atingiu os 130%, mas também em função da enorme dívida dos privados e da crise bancária que veio para ficar. A direita acredita que as suas receitas políticas vão gerar as condições que promoverão o crescimento da economia, se as reformas estruturais forem aprofundadas e seguirem o seu caminho inexorável, com mais despedimentos, cortes nas pensões e reformas, privatizações e mais cortes em tudo que sejam despesas decorrentes das funções do Estado. O Governo já garantiu que não votaria favoravelmente qualquer plano de restruturação da dívida da Grécia, decisão sustentada no bloco político que o apoia e que põe em acção uma forma de determinismo que impede de pensar a função da política fora da órbita de uma prática do governo. Por outras palavras, exclui a eventualidade de a política ser o acontecimento de um impossível, uma ruptura que tem a capacidade de imaginar e provocar. 

O PS estacionou no limbo, aposta no cansaço do adversário e escapa-se na atitude voluntarista da assumpção de um conjunto de iniciativas junto da EU suficientemente firmes e credíveis, pata mudar o e estado das coisas, quanto tomar o poder. António Costa pouco esclarece e a atitude do grupo parlamentar tem sido muito pobre. Uma desilusão este PS que desbaratou o crédito e a esperança saída da mudança de secretário-geral. Sobre a Grécia e o programa do Syriza, diz que sim ou talvez não. Ficámos esclarecidos.

À esquerda do PS, o BE revê-se na doutrina do partido irmão que é o Syriza. Espera-se que a saiba acolher num quadro de independência e não como uma receita sem contra indicações; o PCP vai mais longe na ruptura e defende a saída do Euro que não acho deva constituir um tabu, embora me preocupe o facto de numa eventual saída, ainda que negociada, se perca o controlo, porque o caminho é estreito, está armadilhado e os opositores são poderosos. O Prof. Ferreira do Amaral também defende a saída do Euro o que aceito se for sujeita a referendo ou sufragado em eleições. O que falta saber é se o BE e o PCP estão a tratar de ver o que ainda não se vê ou se as propostas que defendem são demasiado arriscadas por serem mais anti sistema e de protesto que de solução.
Em 2004 o primeiro-ministro Durão Barroso subscreveu, com o espanhol, o italiano, o polaco, o lituano e o estónio, uma carta dirigida ao Presidente da CE, reafirmando a necessidade de se respeitar o Pacto de Estabilidade e Coesão (PEC), isto é, o défice orçamental até 3%, e pedindo sanções contra a França e Alemanha por o violarem. A direita portuguesa não consegue encontrar outro caminho que não o da obediência às ordens superiores dos mercados e desistiu do emblema patriótico que fazia parte da ementa. Apenas deixaram o crachá na lapela para enganar meninos. Não somos a Grécia, foi o grito de Pedro, Paulo & Cia. Não encontraram nada mais para dizer que o slogan que repetem, desde 2011, a que juntaram lamentáveis frases jocosas de humilhação. Espero que tudo termine em bem para os gregos e se produzirem benefícios para Portugal e para Europa, tanto melhor.

DE OSLO A PARIS

Mário Martins

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A matança de Paris trouxe-me à memória o ainda fresco massacre de Oslo e Utoya. Foi há pouco mais de três anos que um cidadão norueguês matou 77 concidadãos, a maior parte jovens, membros ou simpatizantes do Partido Trabalhista, no poder, por, alegadamente, não protegerem o seu grupo étnico nórdico, fomentarem o multiculturalismo e permitirem o avanço islâmico. O autor do massacre (que respondeu ao tribunal que voltaria a cometer o mesmo acto e já foi condenado, na prática, talvez a prisão perpétua) é descrito como fundamentalista cristão, ultradireitista e partidário do estado sionista de Israel. Era empresário e terá crescido na parte rica e burguesa de Oslo.

A lembrança deste acontecimento trágico coloca mais em perspectiva os ataques de Paris. Não é preciso viver em guetos sociais para se abraçar ideologias radicais. E tanto se mata em nome de Maomé como em nome de Jesus. Do que se trata aqui é de uma união de contrários, que se manifesta quer no modo superior como olham os outros grupos étnicos, culturais ou religiosos, quer na imposição aos outros das suas ideias ou projectos políticos, quer no desrespeito paradoxal pela vida humana em nome de princípios considerados divinos.

Li há dias a opinião de um alemão que esteve preso num campo de concentração, segundo a qual “muito poucas pessoas foram verdadeiras nazis, mas muitas gostaram do regresso do orgulho alemão e muitas mais estavam demasiado ocupadas para se importarem com isso. Assim, a maioria limitou-se a ficar sentada e a deixar tudo acontecer”. É, por isso que, neste tempo de fanatismo, é preciso continuar o espírito das admiráveis manifestações populares francesas de 11 de Janeiro, de defesa das liberdades públicas, nomeadamente a de expressão e a religiosa, da laicidade do estado, da resolução legal dos conflitos, e da igualdade essencial das pessoas, para lá das diferenças raciais, étnicas, sexuais, religiosas, culturais ou sociais.
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