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01/10/16

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CAMPANHA ECOLÓGICA NO ALGARVE

Manuel Joaquim

(Tavira)


Esta semana estive em Tavira a participar,  com o Grupo Coral da AGEAS, na inauguração da  exposição de fotografia , “Azul, Tesouros Islâmicos do Uzbequistão”, de  Luís Reina, no museu Islâmico,  e no “Concerto de Outono”, na Igreja da Misericórdia, que teve, também, a participação do Grupo Coral de Tavira e do Grupo Coral de Quarteira.

Passeando pela cidade, vi em quase todos os estabelecimentos comerciais, restaurantes e instituições culturais e recreativas, uma campanha muito forte contra a exploração de petróleo e gás em Portugal, com recolha de assinaturas.

Ao procurar informações sobre essa campanha, vi que muitas pessoas manifestavam grande preocupação com o eventual desenvolvimento desse processo.  A campanha está em curso em todo o Algarve e tem o apoio de muitas associações e movimentos.

E são contra a exploração de petróleo e gás em Portugal pelo seguinte:

“Pelo risco de contaminação dos aceanos e solos:
Nas explorações offshore existe um enorme prejuízo para a biodiversidade marinha, devido às perdas regulares de hidrocarbonetos, com reflexos evidentes nas pescas. Em explorações terrestres, não convencionais, como o fracking, existem fortes possibilidades de contaminação dos solos e lençóis freáticos.

Contra a destruição e empobrecimento da paisagem:
Pela sua natureza natural, e enorme diversidade ambiental, o nosso país, nomeadamente o Algarve, é procurado por visitantes nacionais e estrangeiros. Não podemos dar-nos ao luxo de o estragarmos.

Pelo empobrecimento que trará:
Portugal depende muito do Turismo. Os impactos esperados condicionarão fortemente esta indústria. Por outro lado, as baixíssimas rendas de exploração, bem como as ridículas percentagens dos lucros negociados nos contratos, não geram verdadeira riqueza.

Pelo risco sísmico:
Muitas das zonas sujeitas a perfurações são de elevada sismicidade. A injecção de águas residuais e salgada no subsolo pode, por si só, originar sismos suficientemente grandes para serem sentidos e causar danos.

Pelo potencial renovável:

Portugal é um dos países da Europa com maior disponibilidade de radiação solar. Temos também um grande potencial eólico e uma consolidada capacidade tecnológica. Pura e simplesmente, não precisamos deste tipo de “recursos” nocivos.

Contra o aumento das emissões poluentes: 
A combustão de hidrocarbonetos emite gases com efeito de estufa. Apenas o consumo das reservas convencionais de combustíveis fósseis já conhecidas no subsolo faria aumentar em mais de 2 graus a temperatura média do planeta. Isto já nos colocará numa trajectória de elevados impactos climáticos com consequências ambientais, sociais e económicas bastante elevadas. Para quê ir procurar mais reservas e explorá-las?

Terá o Estado Português consciência daquilo com que se comprometeu ao assinar o acordo COP21 em Dezembro de 2015? (http;//www.futurolimpo.org/; http://asmaa-algarve.org Facebook Futuro Limpo”)
Enviaram mensagens para os Presidentes das Câmaras e para os líderes parlamentares portugueses e europeus.
É uma campanha muito forte mas que não tem ecos na comunicação social dominante. 

No artigo do mês passado “ Ibéria” está um erro que importa corrigir.

A Espanha não é o segundo maior país da EU, conforme está referido. É, de facto,  o segundo maior país do sul da EU. 
De acordo com a informação que um Amigo leitor (GM) me fez chegar, que muito agradeço, os maiores países da EU são os seguintes:

Alemanha: 80 milhões; 
França: 65 milhões; 
Itália: 59 milhões; 
Inglaterra: 53 milhões. 




CARTAS DE SANTA MARIA


(Miróbriga)

Santiago do Cacém, 30 de Setembro 

Sinto-me cansado, pelo que esta será uma carta breve. De tanto verem, os olhos já não conseguem exprimir-se em palavras. Atravessei o Alentejo sob um calor tórrido, o que me fez lembrar Juan Rulfo no conto sobre Pedro Páramo quando o almocreve Abundio diz ao narrador que em Comala o calor é tão abrasador que os que ali morrem e vão para o inferno levam um agasalho para se protegerem. Escolhi sempre o fim da tarde e a madrugada para caminhar. Evitava as labaredas do sol e espantava-me com a luz da paisagem, com as cores do silêncio e a suavidade dos sons. Cheguei a percorrer a estrada de noite para ver esse esplendor de estrelas desenhando galáxias, mundos infinitos, enchendo o céu e os nossos olhos. A fantasia transformada em êxtase. Santiago não me entusiasma, mas vim à procura de Miróbriga. Todos os dias percorro o quilómetro que me leva até às ruínas e deixo-me vadiar a aguardar pelo crepúsculo. Reflicto sobre o Império, sobre os impérios. A grandeza a desmoronar-se no fim do ciclo. Roma surge do quase nada, mas o espaço evolutivo onde cresce, dá-lhe dimensão como quem ganha asas. Criou instituições, organizou o que podemos chamar uma forma de Estado e militarizou a defesa. Em redor, os povos estavam retidos pelo tempo e esse tornou-se o factor decisivo. Quinhentos anos depois o Império sucumbia às mãos das tribos bárbaras. Não, Roma não foi conquistada, simplesmente caiu por si própria, desintegrou-se por esgotamento do sistema de poder, económico e político. Nos últimos cem anos, tudo se desagregava, desde as instituições, o sistema de valores, a ordem social. Ruiu com o estrondo de um iceberg no fim da Primavera. Com a sua queda, arrastou o mundo mediterrânico a norte e a sul. Tombaram os homens, mas as estruturas, aguentaram-se. Os povos que chegaram, compreenderam que do reaproveitamento, resultaria o seu próprio enriquecimento. Miróbriga, como tantas outras ruínas imperiais, ajudam a compreender os saltos civilizacionais que ocorrem em certos espaços, repetindo-se noutros. Procuro a sombra dos cedros e deixo que a memória vá com o olhar na procura do passado. A História, permite-nos essa viagem analítica através do tempo. As pedras testemunham a vivência humana, pois o estudo da história é sempre a vida dos seres humanos. Fazem parte e constroem a história. Como tantas vezes ocorre, espreitar o passado, seja o mais longínquo ou o mais próximo, torna-se num auxiliar precioso para a compreensão dos gestos, das atitudes, das acções humanas. Olhando os tempos pretéritos, interrogo-me se, como expressou Pessoa, evoluímos ou apenas viajámos. Roma moribunda parece repetir-se no presente, com a pretensa civilização branca, assediada pela servidão periférica, com as instituições estremecendo, a estrutura económica imobilizada, os exércitos desvairados, o sistema de valores em mutação profunda e os avanços da ciência e da tecnologia, ao mesmo tempo que nos prolongam a vida, fazem-nos aproximar da possibilidade da extinção. Ao contrário de Roma, podemos prolongar-nos no espaço, mas se o Império pôde sobreviver ainda mil anos a oriente, creio que já não teremos a nossa Constantinopla. Há seis meses que não me aproximava do mar. Está a escassos onze quilómetros em linha recta, mas amanha regresso ao interior.

*Fernão Vasques


* Por favor, não me confundam com o corajoso alfaiate que em 1371 ousou desafiar, em nome do povo, O Formoso e a futura rainha. Sou apenas um sonhador, digo eu, dos finais do século XX com endereço em Santa Maria das Júnias. São duas ruínas que se amparam, as minhas e as do mosteiro.

O CORTESÃO

 António Mesquita

(Versaillesblog.blogspot.com)

A Durão Barroso e ao seu novo emprego podia aplicar-se o que Tony Judt dizia de Tony Blair: "Blair transmite um ar de profunda convicção, mas ninguém sabe bem no quê. Ele não é tanto sincero como Sincero." 

Também o ex-presidente da Comissão Europeia, depois da sua espectacular 'mudança de casaca', enfiando-se a pés juntos pelas fauces adentro do capitalismo, resplandece de convicção e ungido por um amor indefectível à causa da liberdade de escolha.

Conseguirá resistir à onda de reprovação que provocou entre os seus antigos aliados?

Como diz ainda Judt: "Não há qualquer calculismo na não-autenticidade de Tony Blair. Ele adquiriu-a honestamente, digamos assim." Talvez Barroso, tal como Blair, simplesmente, goste de ricos." (presunção de Charles Moore, do 'Daily Telegraph' sobre o ex-primeiro ministro britânico)

Tudo se passou, como naquelas drásticas mudanças de partido, 'com armas e bagagens' e declarações pomposas a que a veia sarcástica de Eça nos habituou, em pérolas como o 'Fradique Mendes'. E nós que, pelo menos indirectamente, chegámos a sentir algum orgulho por um compatriota ter ocupado um posto de tanto prestígio, só podemos deixar esvaziar o balão.

Mas não é preciso procurar de lanterna as convicções sinceras e fundadas. Só não podem seguir a carreira de cortesão.


ENCONTRO PESSOANO


Mário Martins

https://www.google.pt/search?q=fernando+pessoa+heteronimos


Estava Eme, num destes fins de tarde, no Martinho da Arcada, concentrada – o leitor não estranhe, Eme, para minha própria surpresa, é uma personagem do género feminino – em desvendar se é provocatória ou verdadeira, em qualquer caso de fino recorte, a afirmação pessoana de que “…nada tem, cientificamente falando, existência ‘real’. As coisas são sensações nossas, sem objectividade determinável, e eu, sensação também para mim mesmo, não posso crer que tenha mais realidade que as outras coisas…”, quando a sua atenção foi atraída por um diálogo na mesa ao lado que a deixou estupefacta: “Então por onde tem andado o meu ilustre amigo Álvaro de Campos? Bem, por aí, no mesmo universo literário que você frequenta, ainda que em diferente galáxia, meu caro Ricardo Reis. Calculo que o Álvaro tenha saudades do seu mestre Alberto Caeiro, ele que já morreu há uns bons anos. Sim, sim, em 1915, de tuberculose, tinha apenas 26 anos. Você já viu, Ricardo, que aquele “louco sonhador” do Fernando Pessoa - “…Sem a loucura que é o homem/Mais que a besta sadia/Cadáver adiado que procria?”; “Eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida” – considerou Caeiro, que igualmente reconhecia como seu Mestre, nascido em 1887, ou seja, um ano antes dele próprio vir ao mundo? Como Você sabe, para mim, Fernando Pessoa “…não existe, propriamente falando”, sensação que ele próprio não desmente na sua tábua bibliográfica: “Se estas três individualidades (Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos) são mais ou menos reais que o próprio Fernando Pessoa – é problema metafísico, que este, ausente do segredo dos Deuses, e ignorando portanto o que seja realidade, nunca poderá resolver”. Saramago bem tentou matar-me, a mim, Ricardo Reis, mas a morte que o nosso Prémio Nobel situou em 1936, não representa mais do que a farsa da morte de Fernando Pessoa, inventada pelo próprio em 1907, para saber que opinião tinham dele os seus colegas e professores de escola na África do Sul: “[Estou a escrever-lhe a respeito do] falecido Fernando António Nogueira Pessoa, que se pensa ter cometido suicídio; pelo menos fez explodir uma casa de campo onde se encontrava, tendo morrido ele e várias outras pessoas…”. De resto, na poesia de Pessoa “A morte é a curva da estrada/Morrer é só não ser visto”. Não sabemos como a conversa prosseguiu e acabou, e mesmo se acabou, porque, de repente, Eme sentiu a necessidade imperiosa de molhar os pés no Tejo, pelo que saiu do café quase a correr…

A FELICIDADE DENTRO DE UM GARRAFÃO!

Mário Faria



Saí por uns dias e fui dar a Valência. Uma cidade interessante. Na visita à parte velha, fui à catedral e fui surpreendido com o grande aparato de uma cerimónia religiosa que visava a nomeação de um novo cardial. As portas estavam abertas e a entrada foi livre. Eram dezenas de entidades religiosas de todos os escalões da nomenclatura. Entraram pela basílica e deram a volta até aos locais que lhes foram destinados, segundo o seu peso hierárquico. Foram acompanhados nessa digressão por cânticos religiosos produzidos por um coro bem afinado, constituído por jovens seminaristas. Os figurantes civis da governação nacional e loca presentes estavam sentado noutro labirinto. Tiradas as fotografias da praxe e um último olhar sobre o magnífico altar, saí para a rua a pensar naquela cerimónia aberta mas com um cerimonial próprio dos tempos da idade média. Os actores, apesar de idosos, resistiram heroicamente. Não ocorreram desfalecimentos: milagre! O termómetro registava uma temperatura acima dos 35 graus. Nem isso os fez desistir. Segui o exemplo e fui visitar o muito propagado Oceanográfico muito do qual a funcionar a céu aberto. Nos visitantes dominavam as criancinhas, os pais, os avós, as amas e os carrinhos. Os acompanhantes da criançada quase não deixavam nesga para ver a bicheza. Muitos gritos de contentamento e felicidade quando apareciam as “marcas” com maior notoriedade. Não se viram sardinhas, nem chicharros. Os mais aplaudidos foram os tubarões, as orcas e os pinguins. Estes últimos, socialmente muito organizados. Os maiores e mais velhos estavam numa pequena colina artificial, vigiavam todos os movimentos: deveriam ser os chefes da tribo. Os restantes estavam mais próximos da água: os mais jovens entretinham-se em brincadeiras de bate-fica com saltos rápidos para água a fugir do perseguidor, enquanto os jovens adultos dividiam-se apanhar o gelo que caía que interrompiam para vir até cá fora gozar o calor que fazia: uma sauna à medida. Com excepção dos chefes, todos os demais pinguins pareciam bem-dispostos. Não encontrei o crocodilo que era procurado por imensa gente. Um turista aproximou-se de um empregado e perguntou: “aligator?” ao que lhe foi respondido: “enfermo!”. Uma grande desilusão. Os golfinhos não apareceram, dadas as condições atmosféricas. São muito reivindicativos. Do que gostei mais? De sair. A bicheza não nos ligou nenhuma. Olhava-nos com indiferença e desprezo. E pareciam adaptados ao ambiente. Não senti que estivessem saudosos nem presos. Enfim, encontraram a felicidade dentro de um enorme garrafão. 


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