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01/02/11

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DADOS À MARGEM

Mário Martins


  1. Embora, de acordo com informação recente do Banco Mundial, vão ser as chamadas economias emergentes, como a chinesa, a realizarem quase metade do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial previsto para 2011 (3,3%), crescendo 6% contra 2,4% das mais desenvolvidas, convirá não perder de vista a distribuição da produção mundial de bens e serviços por países ou grupos de países:

PIB MUNDIAL EM 2009 (nominal)
União Europeia
28%
Estados Unidos
25%
UE+EUA
53%
Japão
9%
Canadá
2%
UE+EUA+Japão+Canadá
64%
China *
9%
Brasil
3%
Rússia
2%
Índia
2%
China+Brasil+Rússia+Índia
16%
UE+7 países (com PIB > 1.000.000 milhões dólares)
80%
Restantes países (com PIB < 1.000.000 milhões dólares)
20%
Portugal
0,4%
            * não inclui Macau
            Fonte: Wikipédia (FMI)

  1. Apesar de as grandes economias representarem 80% do PIB mundial, elas estão longe dos primeiros lugares em termos de PIB por Habitante. E o facto de a Irlanda e a Islândia estarem, em 2008, no top ten, não evitou que agora passem por grandes dificuldades:

PIB PER CAPITA 2008 (nominal)
Posição

(em dólares)
1
Luxemburgo
113.044
2
Noruega
94.387
3
Qatar
93.204
4
Suiça
68.433
5
Dinamarca
62.097
6
Irlanda
60.510
7
Emiratos Árabes Unidos
55.028
8
Islândia
53.058
9
Holanda
52.500
10
Suécia
52.181
13
Estados Unidos
47.440
18
Canadá
45.085
23
Japão
38.457
 26
União Europeia *
33.052
32
Portugal **
23.041
52
Rússia
11.807
63
Brasil
8.295
104
China
3.259
143
Índia
1.017
                        * Dados 2009
                        ** Em 2009 desceu para 57º. lugar, com 21.800 dólares
                        Fonte: Wikipédia (FMI)

  1. Olhando para a dívida externa e pública dos países percebe-se porque a China compra dívidas:
DÍVIDA EXTERNA (pública+privada)
País
% do PIB
Per capita (em dólares)
Data dos dados

Luxemburgo
3854???
4.028.283 ???
30-Jun-09
Irlanda
1004%
515.671
30-Set-09
Holanda
470%
226.503
31-Dez-09
Reino Unido
416%
147.060
30-Jun-09
30-Jun30
Suiça
271%
182.899
30-Jun-09
Bélgica
267%
126.188
07-Out-10
Portugal
223%
47.632
30-Jun-09
Áustria
212%
97.411
30-Set-09
Dinamarca
196%
110.216
30-Jun-09
França
188%
80.209
30-Jun-09
Grécia
167%
49.525
30-Jun-09
Espanha
165%
52.588
30-Jun-09
Mundo
98%
8.422
31-Dez-09
Estados Unidos
94%
43.758
30-Jun-09
Canadá
62%
24.749
30-Jun-09
Japão
42%
16.714
30-Jun-09
Islândia
35%
10.670
2002
Rússia
30%
2.611
31-Dez-09 *
Índia
18%
187
31-Dez-09 *
Brasil
14%
1.129
31-Dez-09 *
China
7%
260
31-Dez-09 *
??? Os pontos de interrogação são meus
* Estimativas
      Fonte: Wikipédia

DÍVIDA PÚBLICA EM 2010 (estimativa)
País
% do PIB
Japão
196%
Grécia
144%
Islândia
124%
Itália
118%
Bélgica
102%
Irlanda
98%
França
83%
Portugal
83%
Canadá
83%
Reino Unido
76%
Alemanha
75%
Espanha
63%
Brasil
61%
Estados Unidos
59%
Mundo
58%
Índia
56%
China
17%
Luxemburgo
16%
Rússia
9%
   Fonte: CIA - The World Factbook
5.     
6.     

ESPELHOS IMPUROS

António Mesquita

A morte de Arquimedes

“E de tudo os espelhos são a invenção mais impura.”
Herberto Helder (“A colher na boca”)



Pensando bem, vivemos rodeados de espelhos. Não aqueles com que Arquimedes queimou a frota romana em Siracusa. Mas espelhos invisíveis que nos protegem do terrível estranho.

A começar pelo céu, com as suas luzes a que demos nomes, buracos negros e o “Big Bang” que nos devolvem a mais vasta imagem de nós mesmos que é possível, imagem imprecisa, mas que vamos “conquistando” ao desconhecido. O céu das cidades está muito mais abaixo e o calor humano aquece-nos como numa estufa.

Não podemos designar o absolutamente estranho, porque ao baptizá-lo com um nome, ele passa a fazer parte do nosso mundo. Não podemos escapar à linguagem, nem à lógica.

Mas por que é que o poeta fala em impureza a propósito dos espelhos?

Certamente que não é o mito de Narciso que mostra essa impureza. A espécie humana é activa e não se enamorou da sua própria imagem. É outra coisa, da ordem da ilusão (os hindus chamam-lhe véu de Maya). Os espelhos são impuros porque não se vêem e, no entanto, ocultam-nos a realidade, impedindo o nosso olhar de atravessá-los como um vidro transparente.

Em vez disso, vemo-nos a nós mesmos, como num espelho.

HÁ MUITO QUE NÃO SONHAVA

Alcino Silva
http://darigaaz.over-blog.com/article-22149334.html



Há muito que não sonhava, verdade seja dita, já não se recordava do último sonho. Uma vez ou outra, talvez por cansaço, pesadelos, estremecer de medos, acordavam-no pela madrugada. Mas, sonhos mesmo, não tinha. Não sonhos da vida, mas antes sonhos da noite, esses sonhos de sonhar, esses que a imaginação guarda e a memória só mostra quando os olhos se fecham para a realidade. Quantas vezes, o impossível usufruído pelos instantes de um sono que se aligeira. Sem motivo aparente, naquela noite sonhou. Reconstrói com dificuldade cada momento, mas lembra-se de ter acordado num país longínquo como nos contos de fadas que povoavam a ingenuidade da infância. A meio de um dia luminoso apareceu algures no território da República da Ficciolândia. Era um país pequeno, dividido entre médias montanhas, planícies longas, sol amistoso e mar, muito mar, azul e cheio a estender-se por longas e muitas milhas. Os seus habitantes dividiam-se em três grupos sociais distintos, os obscenos, os acomodados e os pasmados. Estes últimos, maioritários, por seu lado, constituíam outros subgrupos, os palermas, os espertos e outros que apareciam como, sonhadores, românticos, idealistas e derrotados. Os espertos estavam por todo o lado e, em certa medida, garantiam o silêncio cúmplice dos acomodados, numa mistura de orar a Deus e prostrarem-se perante o Diabo, sem sair de casa. Os obscenos eram a casta, usavam gravata, vestiam melhor, comiam à farta e, mandavam, protegidos por uma guarda pretoriana e pelo conformismo dos acomodados. Naquele minuto da história em que apareceu na Ficciolândia, uma fractura social interrompia decénios de obscenidades. Os sonhadores e os românticos movimentavam-se em direcção à capital. Na sua esteira, os espertos pensavam já por qual porta haveriam de entrar. Os acomodados, gritavam dos seus sofás que era necessário ter cuidado, pois entre a incerteza e o conhecido, este sempre tinha alguma garantia. Contudo, o tempo não era de espera e aquele grupo suportado por uma poderosa unidade blindada, rumava de norte para sul. Assim, se foram passando os dias em progressos militares constantes. Pelo caminho, em aldeias e cidades, deixavam alegria, espalhavam futuro, carregavam solidariedades, instalavam plateias de saber e o convívio humano parecia o trabalho que mais riqueza produzia. Os seus carros de combate, possuíam largas lagartas, para enfrentar as lamas outonais e o estrume em que os obscenos haviam transformado a república, constituídas por placas de imprimir, que deixavam gravados no alcatrão das estradas, páginas e páginas de livros dos melhores autores da pátria. À noite, aqueles carros de guerra, disparavam salvas de foguetes sobre o inimigo. Era um fogo que iluminava a escuridão das obscenidades, lembrando as palavras de Neruda “e soltarei em delírio a minha revoada de flechas” e ao explodir, não matava, apenas espalhava palavras de esperança. No mar, formava-se uma armada espectacular. Os mais belos navios, com tripulações marinheiras de poetas, disparavam também sobre terra. Dos grossos canhões dos cruzadores, saíam estrofes de poesia que castigavam as posições militares dos obscenos.
Foi correndo o tempo e quando a coluna militar daqueles sonhadores se aproximou da capital, e as obscenidades que profanavam o país, na iminência da derrota, arrumavam os baús das maldades, das iniquidades e das patifarias, surgiu o grupo dos acomodados, senhores que se davam ao respeito, bem posicionados na vida, conhecedores profundos do Estado obsceno, sempre disponíveis para compreender o regime, servindo-se do exército de espertos do grupo dos pasmados, pediam uma suspensão das hostilidades para negociar uma saída que não prejudicasse ninguém e evitasse situações irremediáveis que não beneficiariam a justa causa que até ali os levara. Não disseram que quando falaram em causa, estavam apenas a pensar na sua.

Naquela manhã de sol ameno aquela fantástica fileira de carros aguardava na berma da estrada o desfecho da missão dos acomodados. Chegaram por fim, com ar grave e austero, dizendo que havia acordo e novo governo. Traziam uns esqueletos já antigos e usados, vestidos com nova roupagem, mexendo os dedos e acenando com a cabeça. Eram os novos senhores. Todos podiam regressar aos seus lares que o futuro principiava agora, disseram então. O sonho terminou abruptamente quando no mar os navios de poetas viravam a proa e em terra os carros de combate voltavam a norte. 

Acordou estremunhado e levantou-se como todos os dias para uma nova jornada do seu trabalho. Era o início da semana e ao ligar o rádio soube que no dia anterior um palerma qualquer fora eleito presidente da república. 


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