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01/06/13

71



 

2024

Mário Faria




A pátria faliu, saiu da UE e, como um mal nunca vem só, foi dizimada por uma pandemia de tuberculose que abalou o país: devastado, sem técnicos, nem meios, vive-se uma situação de caos organizado em que a lei do mais forte impera, num território esquartejado, ao sabor da influência dos que têm o ouro e as armas. No espaço público (incluindo o virtual) dificilmente se distinguem os “bons” dos “maus”.

O Homem precisa urgentemente de sair em busca de um medicamento de que não pode prescindir.Como sempre, vai armado: a pistola, bem “colada” ao corpo, transmite-lhe alguma segurança, se seguir os trilhos recomendados como menos sujeitos à lei dos bandos armados que pululam pela cidade. Chegado à farmácia, encontra-a fechada, como habitualmente, porque não há medicamentos. Tem que recorrer ao mercado paralelo. O recolher obrigatório funciona a partir das 22 horas e, desde esse momento, a iluminação púbica é escassa e apenas nos múltiplos controlos distribuídos pela cidade é suficiente. O movimento é diminuto: os (poucos) carros passam a alta velocidade e não respeitam a sinalização. Os combustíveis são um bem demasiado escasso e o consumo sujeito a apertadas restrições. O Homem passa pelo controlo de Paranhos e, depois de identificar-se, segue para a gabinete do oficial de serviço, e lá encontra um velho amigo do peito que o recebe de braços abertos. Tal circunstância vale ouro nos tempos que correm. Não lhe concede o salvo conduto para poder circular àquela hora, porque representa um risco colossal. Em contrapartida, faz uma busca na net, estabelece um contacto por telemóvel e deixa-lhe um nome, a morada e “uma carta de recomendação” endereçada a um tal Saraiva que é o mais reputado vendedor de fármacos, mezinhas, drogas e afins e tem uma alargada influência no mercado negro. Sai levemente esperançado: amanhã, há sempre um amanhã, talvez consiga o que procura há tantos dias, se Deus ajudar e o Saraiva quiser.

O Homem acorda cedo, ainda o dia segue escuro. Levanta-se e prepara-se para ir em busca do loja do Saraiva: pelo endereço, e depois da pesquisa que faz, conclui que se localiza no Cidade do Porto. Está agitado, porque uma saída àquela hora mete medo. Toma um frugal pequeno almoço e na dieta não dispensa o café que lhe custa os olhos da cara. Está um frio intenso que se entranha pelas frestas da casa e que o aquecimento racionado não consegue disfarçar. Sai aconchegado por um sobretudo puído e caminha rapidamente, atento que nem um batedor e armado, como sempre. O comércio na zona alta raramente abre as portas e todos os edifícios estão trancados e gradeados. À medida que vai percorrendo a Rua da Constituição nota-se mais movimento de cidadãos a caminho do trabalho. Menos inseguro, vence o trajecto que lhe falta percorrer, tão próximo quanto possível de pequenos grupos que seguem o mesmo rumo. À medida que se aproxima da Rotunda da Boavista a cidade retoma a imagem do cosmopolitismo de antanho, o que lhe traz muita saudade e algum optimismo.

Cidade do Porto, Península e Bom Sucesso regurgitam de vida: são uma espécie de bazares,onde tudo se pode comprar, vender e trocar. Nessa zona, estende-se uma série de condomínios fechados onde vivem os poderosos, protegido pelo arame farpado e por homens bem armados na sua defesa.

O Homem entra receoso, mas encontra, finalmente, alguma luz no meio da penumbra de quem vive para sobreviver. Gente, bulício, prazer, riso, negociação eo ambiente amigo, emprestam-lhe um ânimo que sabe fugaz e, talvez por isso, deseja saborear demoradamente. Um enorme reclame luminoso identifica a loja do Saraiva e, para lá se encaminha. Um nervoso miudinho invade-o. É uma tenda enorme, com uma gama alargada de produtos e uma enorme área apenas dedicada àcomercialização de fármacos e produtos de higiene, o core business da SARAIVA OUTLET. Dirige-se àmoça, vestida a preceito com uma farda azul distintíssima, e apresenta-lhe a carta de recomendação que o chefe de posto lhe tinha passado. A pequena pede-lhe para esperar e, depois, encaminha-se para um gabinete fechado. A espera demora uma eternidade. Do gabinete não sai o Saraiva: quem se dirige ao seu encontro, com ar decidido e sorridente, é uma senhora muito elegantee bela que sabe conhecer de algum lado. À medida que se aproxima alarga o sorriso e já muito próxima, abre os braços e só então a reconheceu: deram um enorme abraço. Quem diria : Svetlana voltou, queenorme surpresa e que imensa alegria. Puseram a conversa em dia: o Homem falou das suas desgraças, a Svetlana das suas aventuras e como chegou cá. É companheira do Saraiva: pastor,comendador, presidente do Fórum Evangélico que apoia um conjunto alargado de programas sociais, orientados nos “bons costumes” recomendados peloEvangelho. É no quadro dessa intensa actividade, religiosa, social e política que desenvolve o seuimpério comercial em regime de monopólio, que domina com mão de ferro. Consegue o fármaco que o levou lá. Svetlana tem, para além das visíveis qualidades físicas, uma alma do tamanho do mundo: em nome do passado, promete-lhe o futuro. Ficaaberta a possibilidade de trabalho numa das muitas instituições que o Saraiva comanda. Quando a esmola é grande o pobre desconfia e o Homem aprendeu a gerir as expectativas com a maior prudência. Despede-se de Svetlana, prometendo voltar. Bisa o abraço: mais não fora, leva o sabor, o cheiro e as formas daquele corpo. Não tem dúvidas, havia de voltar.

Sai alegremente, mas rapidamente toma os cuidados habituais: não há territórios, seguros. No regresso segue um rumo idêntico do que tinha feito. Junta-se a um grupo de jovens que caminha alegre e despreocupadamente. Segue-os, mas deixa uma distância avisada. Um carro que circunda a Boavista em alta velocidade, trava a fundo, produzindo um barulho alarmante e dele saem quatro embuçados que disparam furiosamente contra o grupo quediscretamente acompanhava. Sente um forte impacto e cai. Sente um frio intenso e tem as mãos cobertas de sangue, Tenta levantar-se e não consegue. Uma enorme dormência invade-lhe o corpo. Pressente que foi gravemente ferido. Fecha os olhos, sonha com Svetlana e sorri. Adormece, sem saber que vai a caminho do nada.



 

COMPANHEIRO DE VIAGEM

Alcino Silva




“A harmonia e a paz, são é claro, situações precárias, vulneráveis, provisórias. Na nossa época parecem mais ameaçadas do que nunca. Muitos fenómenos do mundo actual produzem efeitos que, se não forem corrigidos por acções de sentido contrário, ameaçam a sobrevivência da Humanidade. Os mais graves resultam, em última análise, do excesso de poder nas mãos de uma pequena minoria de homens. Directa ou indirectamente, comandam as técnicas e utilizam-nas para acumular mais poder, indiferentes às consequências descontroladas do seu uso irresponsável.” (1)
Sempre apreciara viajar, esses momentos em que levamos o olhar de um lugar para o outro, procurando as diferenças, apreciando o contraste entre o que conhecemos e o que descobrimos e quando o fazia só, aproveitava para viajar também pelo interior de si próprio na procura incessante de respostas a perguntas que inventava. Quando tinha de escolher um meio de transporte, o comboio era o seu preferido. Assim fora naquela tarde que se aproximava do fim. Encontrada a carruagem, procurou o lugar na expectativa de conhecer quem se sentaria ao seu lado. Lá estava, junto à janela com olhar interrogativo e uma idade que já tinha avançado pela vida. Não parecia nervoso, apenas agitado como aquelas crianças que não conseguem manter os pés fixos no chão. Percebeu que a sua viagem não iria ser sossegada, no entanto, sentou-se e abriu um livro procurando concentrar-se na leitura. Ainda a composição não tinha adquirido velocidade quando uma voz ao seu lado comentou, «cá vamos, afastando-nos deste lamaçal». Insistiu na leitura fazendo supor que o comentário não o tinha como destinatário, mas segundos volvidos, a voz prosseguiu, «não acha que nesta cidade vive um poder putrefacto, manejado por uma canalha pérfida que dirige o país como salteadores?» Já não era possível continuar alheio, a afirmação pedia uma resposta, mas ainda assim, olhou apenas, deixando um sorriso a meio da intenção. «Para mim, a grande responsabilidade é desse cabeça de halloween com ar de idiota e cara de Magalhães Lemos que 23% dos portugueses colocaram no palácio dos descobrimentos.» Olhou de novo, muito mais atento, pois os comentários começavam a ter interesse e não resistiu ao acicate, «quem, o cara de néscio que não sabe distinguir um poema de um conto?». «Esse mesmo», foi a resposta pronta. Desta vez, a companhia prometia, pelo que deixou o ouvido expectante. O comboio rolava, sonolento pela planície ribatejana e quilómetros volvidos, a voz regressou, sem excitação, mas animada, aqui e ali com alguma melancolia. «Ai!, senhor para onde nos estão levando, já viu que puseram as nossas vidas a bailar sobre o abismo? Não se contentam em retirar-nos o futuro, roubaram-nos até a esperança! Quantas vezes me recordo daqueles dias frios de 1383. Tinha vindo a Lisboa nessa semana num barco de Bruges e naquela manhã espantosa quando subia para a alcáçova ouço aquele estribilho das gentes e os cascos do cavalo de Álvaro Pais esporeado até mais não. Que revolução aquela, senhor, quantos sonhos, quantos dias sem dormir, quantos trabalhos, mas acreditávamos em tudo e nada nos detinha na fantasia de homens livres. Então naquela noite nomosteiro de S. Domingos, Afonso Anes fez estremecer aquelaburguesia acobardada e a nobreza esponjosa que já se preparava para fugir para Castela. Foi aí que a conheci e não voltei a ser o mesmo. Pressenti-a antes de a ver. Vinha do bairro árabe e tinha a pele do rosto macia como a seda e o olhar era bordado com as cores do deserto e contemplá-la era como saciar a sede num oásis. E agora, veja o que fizeram de nós, neste fascismo democrático com que nos cercam, vivemos num campo de concentração das ideias». A leitura repousava pousada nas mãos e a sua atenção concentrava-se naquele discurso que lhe chegava em tom calmo, mas onde se sentia a revolta pelas injustiças que se cometiam. «Viemos naquela madrugada inesquecível, empoleirados em blindados que não sabíamos se chegavam a Lisboa, mas nada nos detinha, nada nos prendia. Eram só sonhos que viajavam connosco, o pensamento vinha carregado de um mundo novo para construir, e como pusemos mãos à obra». Nascia em si essa incompreensão do que parece não se ajustar e questionou, «mas então, esteve em 1383 e no 25 de Abril, quem é o senhor?». «Claro que estive e ainda vivi esses dias tristes e difíceis do Cerco do Porto, “sete flores de limão para lutar até vencer”, estive em todos os lugares, onde se erguia um mundo de liberdade, uma época de mudança, um espaço onde as quimeras que vivem na alma dos Homens desabrocham e crescem sem temor. O meu nome é Tempo e vivo na História, atravessando a história. Foi assim que estive presente nessa gesta libertadora do século XIV e naqueles gélidos dias de Dezembro, lutava com as mãos cheias de nada, construindo futuro e aquela mulher jovem foi o meu astrolábio nos caminhos a percorrer. Com o seu olhar, havia um espaço para mim no universo. Quantos não hesitaram como agora, acomodados, assobiando para o ar, fazendo que não é nada com eles, preparando-se para pactuar e encobrir o Andeiro. Finórios destes aparecem sempre ao longos dos tempos, veja só essa miudagem que se instalou no governo, não passam de patifes sem lei nem grei que fazem mergulhar os velhos no inferno da pobreza e da carência, na dependênciaservil, quebrando-lhes a dignidade de uma vida de trabalho e lançando-os nas filas da caridade, na pedinchice de uma sopa ou deixando-os morrer sozinhos. Dizem que naquela época cometemos excessos. Talvez, quando lançamos o bispo da torre, mas mereceu, como estes estão merecendo agora, pois como aquele, também nos vão vendendo para cuidar dos seus interesses e daqueles que lhes vão pagando». «Acha que isto vai acabar assim?», perguntou a medo. «Não sei senhor, mas com a paciência a esgotar-se, não sei se vai acabar bem, se não caírem da torre é bem possível que o chão vá ter com eles. O Mestre também estava indeciso e caso não lhe tivéssemos ajudado com aquele impulso era bem capaz de se ter ido embora, mas depois lá foi, e que geração nos deu, senhor, que ínclitos rapazes nos apareceram e os nossos sonhos desabrocharam Atlântico fora e só paramos no Pacífico. Que grande epopeia, senhor! E que proeza nos apresentam agora estes mercenários do dinheiro? Nenhuma, senhor, apenas sabem roubar e quando o saque não chega, apresentam-se de novo com novo plano de pilhagem. Para onde nos levam, senhor? Despediu-se de mim na Porta do Mar, naquela Lisboa que crescia e se preparava para se agigantar na Europa e ser conhecida no Oriente. Deixou-me um beijo que me fez dar a volta ao mundo. Não voltei a ver aquele olhar que me desfraldava as velas da alma e punha a navegar todas as minhas utopias. Ainda é a recordação da sua passagem que me vale neste tempo de maldade e perfídia, contínuo a vê-la e a senti-la como naquela noite nas portas de S. Domingos. Deixemos o comboio seguir, senhor que outros tempos virão, tenho a certeza». Assim fez. Procurou o livro para regressar à sua leitura, mas não conseguiu. Um olhar que saciava a sede, pensava. Até ele se teria perdido nessa revolução longínqua.  
“Que aconteceria se a circulação de bens cessasse e só houvesse acumulação, se o raciocínio matasse a emoção, se a Palavra deixasse de ser o fundamento da comunicação, se os senhores da técnica se convencessem de que podiam fazer o que Prometeu não conseguiu? Podemos deixar de «rezar na era da técnica»? renunciando por completo a fazer contas, é bom acreditar que merece a pena «Levantar o Céu», e lembrarmo-nos de que não estamos sozinhos. Felizmente há muitas mulheres e homens neste mundo a tentar unir esforços para manter o contacto entre o Céu e Terra. É esse o caminho que a sabedoria ensina a percorrer para encontrar a saída do labirinto em que a vida nos coloca.” (1)
(1) José Mattoso, in “Levantar o Céu – os labirintos da sabedoria

OS GRANDES HOMENS

António Mesquita

 


"Porque o efeito produzido por um grande homem integral é como o da beleza: ele não suporta mais um desmentido do que se pode furar um balão sem dano ou colocar um chapéu na cabeça de uma estátua. Uma mulher bela torna-se feia, quando deixa de agradar, e um grande homem, quando não se lhe presta atenção, torna-se talvez qualquer coisa de maior, mas concerteza que deixa de ser um grande homem."


"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)

Será por isso que, na política, os nossos grandes homens temem acima de tudo serem afastados da televisão. O efeito SHAQV ('só há aquilo que vês') de que fala Daniel Kahneman, funciona na esfera pública mediatizada ainda melhor do que no nosso cérebro. Quem não aparece, esquece. Ou, na antiga lamentação filosófica, o que se diz sobre a memória dos povos. A tecnologia só acelerou o esquecimento do que deixou de se ver.

É, pois, com toda a boa fé que esses grandes homens se desmentem a si próprios como palimpsestos bem raspados. É um jogo demasiado fácil para a oposição confrontar as gravações com a actualidade, pretendendo estabelecer a mentira (ou a contradição) como princípio dos grandes homens. Não, eles simplesmente, graças à maravilhosa inocência do seu Sistema I (Kahneman, de novo) deixaram de ver o que disseram ou fizeram no passado e noutras circunstâncias.

Sócrates, o Menor, pôs nas bocas do mundo a palavra narrativa (espero que uma palavra tão útil não morra da sua banalização). Porque, em vez de sermos lógicos, como gostariam os economistas que governam o mundo, contamos histórias uns aos outros. Mas histórias cheias de sentido (só assim é que a coisa funciona).

Os grandes homens não são assim tão diferentes dos que os que os contemplam do fundo da fossa para que foram atirados.

Se esbracejam em 'actos falhados' para a televisão, e em comentários sobre os mesmos actos, é porque querem que lhes prestemos atenção. Como diz Musil, sem isso, deixariam, certamente, de ser grandes homens.


REAPARIÇÃO DE EME

Mário Martins
"Pre-determination and Pleasure" (Carl Jung)


Como o outro, Eme tem andado por aí. Com a pele e o pensamento mais coçados pelas esquinas do tempo, é certo. E cercado de crise por todos os lados, quer dizer, pelo lado real, pelo lado psicológico, e pelo lado virtual, ou não vivêssemos na sociedade (do poderoso negócio) da informação. No entanto, o problema, chamemos-lhe assim, com que Eme, em tempos, se apresentou, não deixou de oinquietar. Eme considera-se um dois em um, ou seja, que é, ao mesmo tempo, um Si (ou um Id) independente da sua vontade, e um Eu. E, como é típico da intuição e do pensamento humanos, acha que o que ele é também os restantes seres humanos são. E não sou eu, humano que sou, que o vou agora desdizer. Mas Eme vai mais longe. Defende que, representando Si a condição humana (para não falar, neste contexto, da condição de tudo o que existe), e Eu a vontade própria ou o livre-arbítrio, faça Eu o que fizer, estará sempre determinado por Si. Não me entendam mal, Eme não nega o livre-arbítrio, apenas sustenta que este é determinado ou é próprio da condição humana. Daqui retira Eme que tanto os actos ou omissões bons como os actos ou omissões maus (não vamos agora tratar do seu carácter relativo), característicos do livre-arbítrio humano, são, em última análise, determinados pela natureza humana. É certo que é possível objectar que Eu pode acabar com Eme, isto é, que seja da vontade desteacabar com o dois em um que é (posso desde já adiantar que isso não está, de modo nenhum, nos planos dele…),mas Eme não desarma e replica que mesmo a liberdade de se auto-destruir está pré-determinada. Confesso que já não sei o que mais objectar a Eme…
PS: Eme é tratada no texto como uma personagem masculina, mas pode ser feminina…

A SITUAÇÃO NA SÍRIA

Manuel Joaquim



http://darkroom.baltimoresun.com



As guerras no Iraque, no Afeganistão e na Líbia praticamente desapareceram dos grandes meios de comunicação. Esporadicamente aparecem notícias sobre o rebentamento de uma ou outra viatura que mata dezenas de pessoas, com referências a mulheres e crianças, mas sobre as situações das guerras, das populações, dos poderes e das políticas nada se sabe. Centenas de milhares de soldados são deslocados dos seus países de origem, alguns portugueses, para fazerem a guerra a milhares de quilómetros de distância mas informações sobre o que se passa, na realidade, não existe.


As pessoas minimamente informadas sabem o que se passou em Hiroshima e Nagasaki com o lançamento de bombas atómicas pelos norte-americanos. Nos dias de hoje milhares de pessoas sofrem de doenças incuráveis, muitas delas transmitidas pelos seus pais que viviam naquela época.


O desastre na central nuclear de Chernobil provocou a destruição e morte de muitas pessoas. Milhares de crianças continuam a ser tratadas em Cuba desde aquela altura.Toda aquela zona, onde está instalada a central, continuaabandonada em virtude de continuarem a existir riscos de contaminação.


No Iraque existem centenas de milhar de pessoas contaminadas com urânio das armas utilizadas pelas tropas americanas e inglesas mas quase todos nós desconhecemos essa realidade. O cancro, as malformações e outras doenças típicas resultantes da contaminação do urânio são vulgares na população iraquiana. Os jornais e as televisões não falam sobre isso.


O que se passa com os militares dos países que foram fazer a guerra, particularmente norte-americanos, praticamente nada se sabe. Movimentos de cidadãos ligados aos veteranos de guerra apresentam números preocupantes sobre suicídios, doenças psiquiátricas e outras ligadas aos teatros de guerra. Nada se fala porque a maior parte deles, fugindo ao desemprego e às dificuldades económicas foram carne para canhão.


A França que vive uma crise económica muito grave está numa corrida aos armamentos. Vai adquirir drones a Israel e à Inglaterra por considerar que são as “peças mestras nas guerras do futuro”.


Nestes dias a Europa decidiu levantar o embargo de fornecimento de armas aos terroristas da Síria, contra decisões da ONU, com vista a derrubarem um governo constitucionalmente eleito. Há mais de dois anos que a Síria tem sido vítima de ataques de terroristas financiados pelos países da Europa e por alguns países árabes.


A ex-juíza do Tribunal Penal Internacional para a ex-jugoslávia, a italiana Carla del Ponte, reconheceu que existem elementos que confirmam a utilização de armas químicas (gás Sarin) pelos terroristas na Síria. Hoje, as autoridades turcas prenderam dois membros de uma organização terrorista com dois quilos de gás Sarin que ia ser utilizado no próximo fim-de-semana. Mas os EUA, países da Europa e Israel dizem que são as tropas da Síria que usam armas químicas. Justificação para invadirem um país soberano que não serve os interesses do imperialismo.


Apesar de estar marcada uma reunião para o próximo dia 5 de Junho entre a ONU, EUA e Rússia para organizarem uma conferência internacional para pôr fim ao conflito, tudo aponta que há interesses que não pretendem o fim seja a paz.


As tácticas utilizadas são as mesmas que se verificaram ao longo da história recente. O início da 1ª Guerra Mundial; o Início da 2ª Guerra Mundial; a guerra no Vietname, a guerra Irão-Iraque, a guerra no Iraque, a ocupação da Líbia, etc.


As crises económicas, sociais e políticas que os países imperialistas vivem são muito perigosas pois a guerra é encarada como forma de superar essas crises. E pode acontecer que em situação de desespero algum desses países avance nesse desastroso caminho. A situação internacional nestes últimos anos alterou-se profundamente, tanto a nível económico, social e político e, sobretudo, militar.


Será que vamos entrar a breve prazo numa nova guerra com consequências desastrosas para Portugal e para o mundo?



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