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01/05/10

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CONFORMISMO E BOM SENSO

Mário Faria


http:www.duesshyp.de




A crise da Grécia mostrou toda a fragilidade da construção europeia. Os ricos raramente pagam a crise, então porque é que a Alemanha haveria de ser excepção ? Portugal está a apanhar, em cheio, com as ondas de choque da recusa alemã em colaborar na solução da tragédia grega. Dos fortes é que reza a história e quem tem o ouro é que dita as regras.

A Inglaterra – sempre saudosa do passado imperial - também se apressou a saltar do comboio europeu dos aflitos : os grandes perfilam-se para varrer os mais débeis e com menos curriculum. Portugal foi apanhado nesta tempestade, como um barco cheio de buracos e quase sem mantimentos. O homem que vai ao leme é acusado de não saber navegar e o resto da tripulação de não saber nadar. O naufrágio está à vista.

Enquanto as nuvens se adensam, os trabalhadores, cansados de serem as principais vítimas em todas as crises, animam greves exigindo justas remunerações, mesmo sabendo que não há mais dinheiro para ser distribuído e que os ricos não estão dispostos a pagar a crise. Enquanto os assalariados estão dependentes de quem tem o ouro, aos proprietários do vil metal não faltam paraísos para colocar a salvo o património que construíram a pulso, como gostam de declarar.

As elites detestam o país porque não sabe honrar a privilégio de ter gente tão notável; o povo prefere Espanha, como os valencianos tão exuberantemente demonstraram. Numa coisa parecem as duas partes estar de acordo : das culpas do Estado. Querem mais e exigem mais.

O Governo, às voltas com o PEC, pôs o país à beira de um ataque de nervos e Sócrates nos passos de Coelho, depois das ameaças das agências de anotação que nos elegeram como o inimigo público número dois, logo a seguir à Grécia. Depois de dias tempestuosos, o corte do rating provocou um vendaval : a Bolsa caiu para 5,36%, com ordens de venda, vindas do exterior, e no mercado da dívida, os juros das obrigações dispararam para 5,2% a dois anos e 5,5% a 10 anos.

Enquanto o país assiste indefeso a este ataque do terrorismo financeiro internacional, o nosso parlamento apresenta, em directo pela TV, o trabalho da Comissão de Inquérito (sobre a ameaça da tomada da TVI pela PT), o que deveria ser proibido, dada a pornografia política explicita que essas transmissões exploram despudoradamente.

Estamos tramados e mal pagos. As políticas sociais serão suspensas por tempo indeterminado e os vencimentos seguirão a penúria do país. Há que fazer sacrifícios. Infelizmente não temos alternativa e até me atrevo a arriscar que o mal menor para os sacrificados de sempre é aguentar mais uma vez, com a coragem dos sobreviventes, esse cruel destino a que eternamente parecem sujeitos.

Conformismo e bom senso será receita ? Acho que não, mas temo que sim !




DIVAGAÇÕES


Alcino Silva

http://www.core.form-ula.com/wp-content/



Sentiu-o nessa manhã, com essas diferenças que nos traz o vento. Chegou-lhe como um cântico, por entre os flocos de neve, serpenteando por entre a floresta de bétulas. Num primeiro instante acreditou que eram apenas os olhos amendoados de Elena, porque no olhar das mulheres viajam todos os sonhos do mundo, e aquele era o maior de todos os sonhos, mas o som que lhe chegava era apenas um rumor, só horas mais tarde, os tambores haveriam de fazer soar o seu rufo como um grito, solto nas asas da gaivota que sulcaria o rio, como um poema, com asas de palavras, ditas e cantadas como um voo.

Sentiu-o nessa manhã de neve e soube-o apenas horas depois quando os carros de combate como velas de um veleiro libertavam a pátria, as ruas e praças do seu país, soltavam as mordaças e desenhavam cascatas de alegria entre multidões, construindo jardins e pintando paredes com as cores do presente.

Viveu-o nos dias todos que se seguiram entre o tumulto da alma e com os olhos a desejar vencer cinco mil quilómetros de distância. As noites, tingiu-as de sobressaltos em escutas silenciosas de rádio. Que país era aquele que lhe traziam as imagens? Que país era aquele que não conhecia e tanto desejava viver! A pátria sentimo-la quando nos ausentamos dela ou quando ela se ausenta de nós. Aquele era o tempo da sua ausência e senti-a pulsar no sangue como o tropel de um cavalo que soltaram numa planície sem barreiras.

O Iliushin correu veloz pela pista. Esbelto, ergueu-se, descolou do solo e voou voltado para o universo, para o infinito, para o futuro sonhado e que vive no olhar eterno das mulheres como um poema nunca dito. Pela primeira vez, viajava nesse avião ao encontro das estrelas. Pensava ele…!

O voo da gaivota, tornou-se, um dia, triste, planado, rente ao chão. O vento deixou de encher as velas dos navios que rompiam oceanos em descobertas de mares nunca antes navegados. Os tambores ouvem-se apenas nas madrugadas em que a lua escapa da prisão das nuvens. Os carros de combate, como os do poema, jazem destroçados entre os pátios, onde se acumulam as tulhas dos vampiros. E o sonho, ah!, o sonho, refugiou-se, escondido, no único lugar onde não morre, nem o prendem, no olhar feminino do mundo.

Agora foi o tempo da pátria se ausentar dele, deixou-se ocupar, pela indignidade dos sucessores do reinado da voracidade. Mandadores sem lei, amordaçaram de novo a poesia, ergueram muros nas avenidas e prenderam a armada da liberdade no cais da infâmia. Reúnem-se à noite nos terraços dos palácios e descem em bandos reunidos em torno do Partido da Gente Vaidosa e do Partido dos Filhos dos Merceeiros de Bairro.

Contudo, nos intervalos desse ruidoso baile, o sonho espreita e ainda pressente o cântico do passado, daquela manhã, entre a neve. Talvez seja impressão sua quando pensa escutar essa voz árabe que desce do castelo em lembrança de um tempo que parecia não ter fim e em busca de outras quimeras que parecem jazer nas necrópoles do que é imperecível.

Quem sabe, um dia, a história nos surpreenda…


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A ESCRITA - Momentos, Lugares e Artefactos

Cristóvão Sá Pimenta

http://catherinealexandre16.free.fr


Ho­je, neste mo­men­to (25-04-2010 02:18:08), deu-​me para ini­ciar um es­crito so­bre mo­men­tos, lu­gares e arte­fac­tos da es­cri­ta.

Mo­men­to que le­va min­ha memória lá para trás. Trin­ta e seis anos antes. Por es­ta ho­ra, ain­da dormia. Alvo­ra­da por vol­ta das seis ho­ras para ini­ciar a úl­ti­ma ron­da do serviço que ini­cia­ra no dia an­te­ri­or. Para­da num grande bulí­cio. Viat­uras de out­ra unidade. Grad­ua­dos que não iden­ti­fi­co. Ap­re­sen­to-​me ao ofi­cial de dia. Apazigua-​me. Man­da-​me es­tar por per­to e diz para não me pre­ocu­par com a ron­da. O Di­nis de Almei­da vo­cif­era. Não aparece o quar­teleiro para abrir o pavil­hão onde es­tão as mu­nições. Man­da en­costar uma Berli­et ao portão. Após veícu­lo imo­bi­liza­do, dá or­dem ao con­du­tor para en­grenar mar­cha-​atrás e acel­er­ar. O portão cai com es­tron­do. As mu­nições são dis­tribuí­das. Pas­sadas umas ho­ras sai uma col­una mil­itar desse quar­tel na Figueira da Foz, para Peniche. Mis­são: tomar o forte de Peniche e lib­er­tar os pri­sioneiros.

Con­tin­uo no ex­er­cí­cio de es­cri­ta. Out­ro mo­men­to (25-04-2010 02:35:10). En­tre as cin­co e meia e as seis ho­ras da man­hã do dia qua­tro de Março de dois mil e dez um toque agu­do, in­ter­mi­tente, in­vade os meus ou­vi­dos. Toque es­quisi­to? Mar­reta­da no des­per­ta­dor e ol­har de soslaio para o vi­sor do des­per­ta­dor. Mer­da. Voltei a en­ga­nar-​me a mar­car a ho­ra do des­per­tar. O “gajo” não se cala. Toque de fac­to es­quisi­to ou é do sono. No­va mar­reta­da. A um no­vo toque diz-​me a mul­her en­son­ada: Pi­men­ta é o tele­fone, não é o des­per­ta­dor. Ligo o can­deeiro. Sen­to-​me na ca­ma e já adi­vin­han­do a razão de tan­ta estridên­cia, to­do o meu cor­po se si­len­ciou para ou­vir do out­ro la­do a notí­cia que adi­vin­ha­va. A Ros­ali­na Arou­ca par­tiu ao reen­con­tro do Zé Pi­men­ta. Para esse es­paço etéreo, que sem­pre de­se­jamos longín­quo mas mo­men­tos há que o sen­ti­mos per­to.

Num out­ro mo­men­to (25-04-2010 02:52:52), viven­cio ain­da bem um dia de fortes emoções. Vinte e dois de Abril de dois mil e dez: ali, de­spo­ja­do, vul­neráv­el, hu­milde mas ao mes­mo tem­po com força para en­frentar mais um mo­men­to de avali­ação. Próx­imo das três ho­ras da tarde. A lib­er­tação e a de­scom­pressão. E mais um son­ho con­cretiza­do. Mas a min­ha in­qui­etação vai con­tin­uar. Con­tin­uo a ou­vir a Ros­ali­na: Oh Manel?! Porque con­tin­uas a es­tu­dar? Nun­ca lhe re­spon­di. Ago­ra que es­tá lá em cima a ol­har para mim di­go: é por tua causa mãez­in­ha. Sem­pre me es­tim­ulaste a procu­ra do Saber. De ti não es­queço os hábitos de leitu­ra e de es­cri­ta (sei que às vezes às es­con­di­das). Ain­da não pe­di à mana as tuas agen­das. Quero lê-​las. Al­imen­tar-?me do que lá es­creveste. E re­to­car de tons de rosa as agruras da vi­da que su­por­taste.

Mo­men­tos de in­spi­ração, não. Muito mais mo­men­tos de tra­bal­ho. De ex­er­cí­cio. Per­gun­taram ao Pe­dro (eu ou­vi, com es­tas orel­hin­has grandes que sei ter) um dia: co­mo é o teu pro­ces­so cria­ti­vo? Co­mo con­stróis as tuas canções? Co­mo com­pões? É quan­do es­tás in­spi­ra­do? Qual quê, re­sponde. Para is­so teria de an­dar sem­pre com o pi­ano de­baixo do braço, o que não dá muito jeito. Con­clui: quase to­dos os dias es­tou ao pi­ano du­rante três a qua­tro ho­ras. E en­tão há mo­men­tos em que “sai” al­go de in­ter­es­sante, re­sul­ta­do daque­le tra­bal­ho so­bre o in­stru­men­to.

E os lu­gares para a es­cri­ta. To­dos os que me for­tale­cem a mente, me ilu­mi­nam o cam­in­ho e me am­bi­en­tam os de­dos.

E os arte­fac­tos. Ain­da gos­to de sen­tir uma cane­ta en­tre os de­dos a per­cor­rer a su­per­fí­cie bran­ca do pa­pel, virgem e im­po­lu­ta. Es­peran­do in­de­fe­sa a man­ifes­tação da min­ha vi­olên­cia. Mas eu até acho que não sou ca­paz dis­so. En­tão o tecla­do e o écran, nu­ma com­posição híbri­da de hu­mano e tec­nolo­gia, serve os meus pre­ten­siosos ím­petos de es­cri­ta.

E as­sim… o úl­ti­mo mo­men­to (25-04-2010 03:20:41).

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O JOGO DO REICH

António Mesquita


No romance de Roberto Bolaño, Udo Berger, campeão de war games de Estugarda, está com a namorada na Costa Brava, em Espanha, a treinar um novo jogo chamado "O Terceiro Reich". Conhece um personagem desfigurado, o Queimado, que aluga "gaivotas" e dorme na praia, com quem começa a jogar, à partida com enorme vantagem, mas pouco a pouco percebe que sofrerá o desfecho histórico. O jogo influencia todos os seus actos e pensamentos, mesmo que nada pareçam ter a ver com estratégia militar, contribuindo para isso o facto de Udo e a companheira terem conhecido um outro casal de alemães, Charley e Hannah, e dos donos do hotel serem também dessa nacionalidade. Os sucessos no tabuleiro dão lugar a um crescente sentimento de que não se trata apenas de fichas que avançam ou recuam, mas de que a sua vida corre um perigo real, perigo de que todos à sua volta estão conscientes. Depois de Charley ter desaparecido no mar e o grupo se ter desfeito, regressando a namorada de Udo e a "viúva" de Charley à Alemanha, o ominoso despique com o Queimado prossegue, registado dia a dia como uma crónica de guerra. Finalmente, o triunfo do Queimado com a queda de Berlim revela-se um anti-clímax. O "monstro", depois dum instante de regozijo, limitou-se a ficar parado diante do mar. O narrador não foi talhado aos bocados, nem tratado como um vencido da guerra. O "Terceiro Reich" era apenas um jogo. Quando por sua vez regressa a Estugarda Udo é um outro homem, definitivamente desinteressado pelo mundo dos war games.

A vida é ou não um jogo? seria uma conclusão que não faria justiça ao livro que não pode ser resumido, visto que a sua essência é o tempo romanesco. Udo Berger cai numa realidade sem forma e sem relevo logo que deixa de acreditar na "seriedade" do jogo, com a tomada do bunker final dando lugar ao vazio dum post-coitum. O jogo, nessa perspectiva, confunde-se com o próprio romance em cuja temperatura mergulhámos por um tempo, fora da realidade. É isso que transforma a banalidade de meia dúzia de personagens, não mais loucos do que qualquer um de nós, num pesadelo "decepcionante". Claro que se trata dum pesadelo germânico. Isso vai ao encontro duma metáfora da vida como jogo. Não é possível admirar o génio e o heroísmo de generais como Rommel e Guderian, como se a guerra fosse um simples jogo. E não é esse vício da abstracção (com a separação dos meios e dos fins) uma especialidade cultural presente em todas as justificações do genocídio, como na ladainha de Eichmann que dizia limitar-se a cumprir ordens?


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A LIBERDADE, a Liberdade de imprensa, a Revolução da Informação e os meios de comunicação social.

Manuel Joaquim

A Constituição da República Portuguesa, aprovada em 1976, com as revisões verificadas até 2005, mantém, actualmente, o Artigo 38º (Liberdade de imprensa e meios de comunicação social), que diz:
"1 É garantida a liberdade de imprensa.
2 A liberdade de imprensa implica:
  1. A liberdade de expressão e criação dos jornalistas e colaboradores, bem como a intervenção dos primeiros na orientação editorial dos respectivos órgãos de comunicação social, salvo quando tiverem natureza doutrinária ou confessional;
  2. O direito dos jornalistas, nos termos da lei, ao acesso às fontes de informação e à protecção da independência e do sigilo profissionais, bem como o direito de elegerem conselhos de redacção;
  3. O direito de fundação de jornais e de quaisquer outras publicações, independentemente de autorização administrativa, caução ou habilitações prévias.
3 A lei assegura, com carácter genérico, a divulgação da titularidade e dos meios de financiamento dos órgãos de comunicação social.
4 O Estado assegura a liberdade e a independência dos órgãos de comunicação social perante o poder político e o poder económico, impondo o princípio da especialidade das empresas titulares de órgãos de informação geral, tratando-as e apoiando-as de forma não discriminatória e impedindo a sua concentração, designadamente através de participações múltiplas ou cruzadas.
5 O Estado assegura a existência e o funcionamento de um serviço público de rádio e de televisão.
6 A estrutura e o funcionamento dos meios de comunicação social do sector público devem salvaguardar a sua independência perante o Governo, a Administração e os demais poderes públicos, bem como assegurar a possibilidade de expressão e confronto das diversas correntes de opinião.
7 As estações emissoras de radiodifusão e de radiotelevisão só podem funcionar mediante licença, a conferir por concurso público, nos termos da lei."
A generalidade da comunicação social existente é, presentemente, propriedade de grupos económicos. Quando estes grupos são subalternos e dependentes do poder político e de outros grupos económicos, designadamente da banca, pela concessão de créditos, estão subordinados aos interesses destes. Algumas administrações de jornais e de outros órgãos são "obrigadas" a despedir determinados jornalistas por não alinharem com determinada orientação, sob pena de agravamento de condições de crédito ( spreads mais altos) ou não concessão créditos, dificultando ou impedindo o normal funcionamento das empresas.
Os comentadores e analistas de serviço nos meios de comunicação social do sector público, designadamente na televisão, são sempre das mesmas áreas de interesses. Não representam as diversas correntes de opinião nem os sectores sociais existentes. Se é assim nos meios de comunicação social do sector público (nº 6 do Art 38º da CRP), é óbvio que nas televisões, nas rádios e nos jornais subordinados ao poder político e ao poder económico a situação é calamitosa.
Neste momento, estamos a assistir aos trabalhos de uma comissão de inquérito da Assembleia da República que nos tem revelado informações sobre processos de controlo de órgãos de comunicação social que violam, flagrantemente, a lei fundamental do país, que é a Constituição da República.
Pessoas há que criticam a Assembleia da República, as comissões e seus trabalhos, omitindo que elas próprias participaram na sua eleição e que é o órgão de soberania que elegeu o governo da República. Só por ingenuidade (ou funestos motivos) é que não querem ver que o que está a ser denunciado é o não cumprimento da Constituição da República e que é o próprio regime democrático que pode estar em causa.
A revolução tecnológica na área da comunicação – jornais, rádio, televisão, internet - permitiu obter quantidades colossais de informação que a generalidade das pessoas não consegue filtrar o que lhes interessa. É a forma que é propagandeada como liberdade. O conteúdo é condicionado, como sempre, aos interesses ideológicos e económicos dominantes.
Recentemente assistiu-se a uma campanha política áspera contra a RPChina por condicionar a utilização do Google. Omitiu-se que a Google negociou, previamente, as condições de utilização do seu servidor. Por circunstâncias estranhas, o contrato deixou de ser respeitado por parte da empresa dos Estados Unidos. Imediatamente se denunciou que estamos perante um estado totalitário, por interferir na comunicação via internet.
No Diário Económico, de 22 de Abril passado, página 20, Radar Mundo, um artigo oriundo dos EUA, de Pedro Duarte, tem o seguinte título " Brasil é o país que mais tenta censurar a Google"
O artigo refere que "O Brasil encabeça a lista de países que mais pedidos fizeram à Google para censurar as suas pesquisas ou saber dados pessoais sobre os seus utilizadores. A denúncia foi feita pela própria empresa americana que colocou no seu site um mapa com a descrição de todos os pedidos por país.
…. As autoridades brasileiras realizaram 291 pedidos para que a Google removesse alguns dos seus conteúdos, sendo seguidas pela Alemanha com 188 requisitos, a Índia com 142 e os EUA com 123 petições. ….
De igual modo, no mesmo período de tempo o Brasil pediu à Google que revelasse detalhes sobre a identidade de 3.663 utilizadores, enquanto os EUA quiseram saber mais sobre 3.580 pessoas e o Reino Unido pretenderam obter dados de 1.166 indivíduos. As autoridades portuguesas indagaram sobre 45 utilizadores."
Porque é que não se diz que nestes países não existe liberdade de informação, que a liberdade é vigiada e que são estados totalitários?


RUMO AO 4º PLANETA

Mário Martins

Mercúrio, Vênus, Terra e Marte
(tamanhos comparativos, da esquerda para a direita) - Wikipédia


Circula o rumor de que o presidente dos EUA, Barack Obama, poderá, em breve, desafiar os americanos e impressionar o mundo com a marcação da primeira viagem humana a Marte.

Se o rumor se confirmar Obama seguirá, assim, o exemplo do anterior presidente John Kennedy que, no ano de 1961, em plena corrida espacial com a União Soviética, fez o célebre discurso:

"Eu acredito que a nação deve comprometer-se para alcançar o objectivo, antes do fim da década, de aterrar o Homem na Lua e fazê-lo voltar em segurança para a Terra"; (e noutro discurso): "Nós decidimos ir à Lua nesta década e fazer as outras coisas, não porque elas são fáceis, mas porque elas são difíceis".

Em 20 de Julho de 1969, Neil Armstrong e Buzz Aldrin, sujavam as suas botas no pó lunar.

A geografia política do mundo, entretanto, mudou muito, pelo menos nas coisas do espaço a competição deu lugar à cooperação, o que levará então Obama a dar um novo e ainda mais ousado passo em frente?

Um motivo cínico poderia ser a quebra do seu índice de popularidade nas sondagens; outro poderia ser desviar as atenções da crise financeiro-económica; mas se o indispensável consenso político se estabelecer em volta de um prazo para o desembarque em Marte, tal implicará a afectação ao projecto marciano de enormes recursos financeiros que de outro modo seriam negados, criando grandes expectativas de resultados, em termos de negócios e de avanços científicos e técnicos, do longo programa de exploração, ao mesmo tempo que elevará o espírito da União e reafirmará a liderança americana do mundo.

Não deixa de ser curioso que a Agência Espacial Europeia já em 2001 haja fixado o prazo de uma expedição humana a Marte até 2030, mas uma União Europeia politicamente a marcar passo não galvaniza ninguém…

Os desafios e perigos de uma viagem ao planeta vermelho são tremendos. Marte não está "logo ali" como a Lua, a cerca de 400.000 km., mas sim a dezenas ou centenas de milhões de quilómetros, conforme a sua posição relativa em órbita. Isso implicará, com a tecnologia actual, uma viagem de ida e volta de cerca de 2 anos, durante a qual e também no acampamento em solo marciano, a tripulação terá que ser, praticamente, auto-suficiente. Uma tão longa viagem coloca, entre outros, problemas de relação entre os membros da tripulação em espaço confinado, e supondo uma distância média de 75 milhões de quilómetros, a comunicação com o centro de controlo em Terra deixa de ser praticamente imediata, como acontece nas viagens lunares, passando a demorar cerca de 8 minutos (4 para lá e 4 para cá). Além disso, o clima marciano não é agradável, sendo as temperaturas muito variáveis e geralmente negativas.

Porquê Marte? A Agência Espacial Europeia responde que é o planeta do sistema solar mais parecido com a Terra e que as recentes indicações da presença de água dão a possibilidade de se encontrarem indícios de vida.

Pessoalmente, impressiona-me mais a robotização e a criação de inteligência artificial do que viagens épicas. Mas sem sombra de dúvida que para além das razões de grupo ou de nação com que nos dividimos, está na nossa natureza a permanente busca do desconhecido, pelo que o título deste texto bem poderia ser "atrás do destino".


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