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01/03/18

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CONVERSAS IMAGINADAS

Mário Faria

(Eduardo Prado Coelho)


Eu acho que não tenho a certeza mas é bem provável que talvez, o problema da história seja o persistente poder do mal sobre o bem e que não se deve confiar em ninguém que não tenha um poder limitado e controlado.

Quando se trata de solidariedade, talvez fosse bom começar pela questão do reconhecimento: não há vínculo social equilibrado onde as pessoas não são reconhecidas no mesmo grau de dignidade e ter sempre em mente que a justiça não é igualdade, é favorecer o mais desfavorecido.

A direita odeia o povo tal como ele é, mas procura, para que as fronteiras fiquem claras, que ele continue a ser aquilo que ele é e a esquerda deve assumir, sem complexos, uma verdade simples: ainda está por inventar uma democracia viável sem economia do mercado.

A extrema-esquerda é fascista e totalitária: conta-se entre os melhores aliados do terrorismo islâmico. A extrema-esquerda é o lumpen-folclore dos drogados no ódio à democracia e cultiva o “piercing” repugnante da violência sob as tatuagens farfalhudas do pacifismo.

A relação entre o pensamento e o discurso é muito subtil: dum indivíduo que só pensa e nunca fale, não podemos saber se pensa. Só ele o sabe. Dum que fale muito, também não sabemos se pensa. E às vezes nem ele.

O que assusta mais são as coisas não assumidas, as coisas escondidas. A mentira em que nós vivemos, chamo-lhe primitivismo porque o homem está mais perto do homem primitivo do que alguma vez esteve. No século XXI estamos a equiparar-nos muito bem ao nazismo. Sente-se que um novo nazismo paira com os registos adequados ao vento que passa.

Talvez por isso, deveremos considerar que é necessário considerar que o impossível é mesmo certo e inevitável para que o impossível se torne impossível.

Nota: Uma conversa imaginária retirada de textos da imprensa nacional de algumas distintas figuras da nossa praça. Destaco EPC. Merece.

NO CORRER DOS DIAS

Marques da Silva

(Palmyra)


Já só as palavras me ligavam ao mundo, firmavam esse elo que me prendia à humanidade, às ideias e pensamento do todo que compõe este colectivo em que acreditava viver. Mas também elas se diluíram na poeira do tempo, nessa cupidez humana que nos devora insaciável sem intenção de poupar quem quer que seja. Deus ou o rebanho, todos são convocados para o seu altar sacrificial, deixando-nos nesse isolamento onde nem os sons sobrevivem. Fizemos juntos a estrada de Damasco, até aqui a estas ruínas passadas, até este clamor que teima em não perecer no meio das areias desérticas. Já não vimos o arco de triunfo, da glória de Septimio Severo. A história no seu desbravar da memória, renasce séculos depois, com a mesma violência ávida de destruição. Cómodo vindimado pelas armas, como tantos senhores da Roma imperial e tu, Septimio, na ânsia de alcançares o poder, a abrires caminho com a folha da espada, sem te poupares a quantos mortos iam ficando na tua senda, como a família de Clodio Albino, lançada ao Ródano, depois de torturada. Foram estas façanhas que te induziram à celebração do arco que se erguia em Palmira, até à chegada dos novos bárbaros sem lei. Derrubaram-no pela blasfémia que representava, como se os seus valores pudessem oferecer mais do que gargantas degoladas. Que tempo este que nos é dado viver! Olhamos longamente o vazio que saltava do amontoado de pedras, no sossego retemperador de uma tarde que não terminava. Era como se a história morresse duas vezes. Foi então que nos separamos. Seguiste para Norte em direcção a Alepo e eu prossegui para Leste a caminho de Deir ez-Zor. Via o mundo através dos teus olhos e compreendia o tempo com as palavras que saíam dos teus lábios como beijos sedentos de água. Deixaste-me assim desamparado nas terras do Levante e já não te pude dizer que Deir significa mosteiro em árabe e Zor é nome de arbusto marginal ao rio, ao Eufrates que a visita a caminho do Pérsico. Contigo, aprendi a amar os jardins de rosas da invencível Jalalabad e vi ainda as cortinas esvoaçando serenamente ao vento pelas janelas abertas dos palácios de Pasárgada protegendo o túmulo de Ciro. Depois de ti, deixou-me a mais bela rainha do Egipto que me ensinara com o seu olhar balsâmico a viver com o conselho de Almada Negreiros de “chegar a cada instante como a primeira vez”. Agora, caminho desprotegido para Leste em direcção à cidade mártir de Deir. Três anos cercada, resistindo ao assalto dos covardes que se escondem atrás de Deus, para saquearem a vida e maltratarem a fé, até à chegada do Exército Árabe Sírio. Das suas ruínas já não nasce o som dos sinos dos cenóbios e é uma voz cansada que harmoniosamente chama à oração. Os arbustos sobrevivem exaustos. Desce um silêncio profundo no caminho que me leva e sinto a música que lhe dá forma. Chega mansa, ondulante, soprando um canto melodioso que penetra nos ouvidos como a água corrente. Na minha pátria encontramos o infinito na contemplação do mar, mas nesta estrada não há oceano, pelo que o infinito se transforma em eternidade, o destino da minha viagem.


Que pena não teres vindo hoje à tarde! Vestiram o Outono de Primavera e aqueceram o sol. As chamas devoram a vida que encontram na sua passagem, altas, bravias, indomáveis. Passei o dia a desenhar o jardim para quando chegasses. Fiz rios, lagos e barcos à vela. Naquele canto, naquele esupaço onde te sentavas escutando os murmúrios do dia a declinar, ergui um baloiço para à noite vermos as galáxias. A de Andrómeda que é a nossa preferida. Talvez as possamos ver a correr pelo universo. Sobre um papel escrevo um mapa só com estradas que me possam dizer onde te encontras. Com os olhos enevoados pelo sonho, construí uma recta com montanhas no fim, mas era tão longa que saiu do papel e acabei por me perder. Agora já é tarde e vieram buscar o sol, apesar da resistência da estrela em fechar a sua luz. Escondem-na de mim para me escurecerem a noite e eu de novo me perder como quando a estrada onde te procurava saiu do papel. Era Outono, mas equivocaram-se, e abriram a porta à Primavera. Que pena não teres vindo esta tarde! 


No Estado espanhol há 4 presos políticos. Cidadãos eleitos na Catalunha e presos pelas suas ideias a 500 kms da sua terra, das suas casas, das suas famílias, perante um enorme silêncio da Europa, do Mundo e nosso.

   

FRAUDES

Manuel Joaquim



Foi publicado recentemente pelas Edições Almedina, de Coimbra, o livro “Fraude em Portugal, Causas e Contextos”, que teve como coordenadores, António João Maia, licenciado em Antropologia, Pós-Graduação em Criminologia, investigador criminal da Polícia Judiciária e com funções no Conselho de Prevenção da Corrupção para além de outras importantes; Bruno de Sousa, Inspector Tributário na Autoridade Tributária e Aduaneira, associado do Observatório de Economia e Gestão de Fraude, licenciado em Contabilidade e Gestão e Pós-Graduado em Finanças e Fiscalidade; Carlos Pimenta, Professor Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Associado fundador do Observatório de Economia e Gestão de Fraude, Organizador  e Coordenador da Pós-Graduação em Gestão de Fraude, autor de vários trabalhos científicos e de investigação em Economia não-registada e Gestão de fraude, Globalização. O prefácio é de Guilherme de Oliveira Martins, personalidade bem conhecida da cultura,  da política,  ex-Presidente do Tribunal de Contas e actualmente administrador da Fundação Calouste Gulbenkian.

Não há dia em que a comunicação social não trate de notícias, muitas das vezes especulativas,  sobre fraudes, corrupção, lavagem de dinheiro, branqueamento de capitais, de off-shores, paraísos fiscais, de nomes sonantes da política, dos negócios, do futebol, e até da justiça implicados nessas práticas.

Mas por mais que se fale de fraude e seja combatida, ela subsiste de muitas formas, adaptando-se às circunstâncias de cada momento, com a acção de gestores, públicos e privados, de políticos e de     particulares.

A contabilidade criativa,  sobrevalorizando activos, diminuindo responsabilidades, transferindo patrimónios de empresas dos mesmos grupos para obtenção de resultados antecipadamente orçamentados, com a conivência das entidades que fazem supervisão dando seguimento a orientações particulares ou políticas,  é vulgar . As vendas de patrimónios registados por valores não reais, as facturas fraudulentas, verificam-se nas grandes e pequenas empresas, incluindo instituições  públicas e particulares.

Os temas apresentados pelos  vários especialistas -  Ética e responsabilidade social nas empresas em Portugal; Risco de fraude nas empresas; A burla de Alves dos Reis; Bancos e mercados financeiros; Fraude fiscal; Economia não registada e respectivo peso em Portugal; ABC do branqueamento de capitais, ou a vã tentativa de explicar um fenómeno complexo; Paraísos fiscais; Corrupção – a fraude na governação e na gestão pública; Criminalidade económico-financeira organizada, retrato (im)possível; A fraude e os sistemas informáticos, A fraude relativa às apostas desportivas online; A criminalização das actividades económicas-a fraude aos consumidores – reflexão sobre o crime de “fraude sobre mercadorias”; A psicologia do defraudador; Conflito de interesses e ética do serviços público; Anomia e fraude em Portugal-desafios ao ordenamento jurídico-sancionatório; Canais de comunicação e informação sobre a corrupção; A cultura como elemento de explicação; Capital social e corrupção:causa consequência; Globalização e dinâmica de fraude – são muito rigorosos.

É uma obra fundamental para se conhecer  melhor uma grave doença que afecta a sociedade,  a todos nós, obrigando-nos a pagar  impostos excessivos para benefício de uns poucos.



O SENTIMENTO DO POVO

António Mesquita


(A batalha de Jemmapes, H. Vernet)



Antes da batalha de Jemmapes (6/11/1792) que consagrou o exército revolucionário, Danton, apoiando a Gironda na Convenção, defendia uma constituição republicana: "Se, por conseguinte, não é lícito pôr em dúvida que a França quer ser e será eternamente República, tratemos apenas de fazer uma constituição que seja a consequência desse princípio;"

E Michelet pergunta: "Grande questão de iniciativa. Tinham os republicanos, que eram uma minoria, o direito de impor a República à maioria? Tinham, porque a própria maioria, se não compreendia a República, possuía-a instintivamente, era então anti-monárquica, sentia que a realeza, cúmplice da invasão, se tornara impossível. A minoria republicana mais não fazia do que explicar e formular o que a maioria sentia, sem poder perceber bem."

"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)


Grande questão, de facto. Depois do que aconteceu ao mundo desde então, as boas palavras seguidas de obras execráveis, a confiança traída e, sobretudo, a monumental ignorância do que se sabe e do que se pode, todo o intérprete declarado do instinto popular e do sentimento das massas deve ser olhado com suspeita.

Danton enganava-se quanto à eternidade da República, mas Michelet sabia que estava destinado aos Franceses, depois do rei, adorar um imperador e suportar a sua descendência.

O método democrático de votar em eleições não pode exprimir nenhuma espécie de instinto, nem nenhum sentimento duradoiro. Os eleitores são mais mobili do que a donna do "Rigolletto".

Mas é uma oportunidade para alijar a canga dum mau governo. É pouco? Arranjem melhor.

VOLTAS ESTRANHAS

Mário Martins


Escher's (Louis Albert Necker's) Cube



No seu celebrado livro “Gödel, Escher, Bach: Laços eternos”, publicado em 1979, o académico americano Douglas R. Hofstadter diz de Escher – artista gráfico holandês Maurits Cornelis Escher, que viveu de 1898 a 1971, de cuja obra decorre, até 27 de Maio, uma grande exposição no Museu de Arte Popular, em Lisboa que “criou alguns dos desenhos intelectualmente mais estimulantes de todos os tempos. Muitos deles têm origem em paradoxos, ilusões ou duplos sentidos (…) Em particular, a volta estranha é um dos temas mais frequentes na obra de Escher (…) Implícito no conceito de voltas estranhas está o conceito de infinito, pois o que é uma volta senão uma maneira de representar um processo sem fim de modo finito? (…) O génio de Escher consiste em que não só imaginou, como, na verdade, descreveu, dezenas de mundos semi-reais e semi-míticos, mundos repletos de voltas estranhas, aos quais parece convidar os espectadores.”


Dos muitos desenhos do génio holandês que se podem ver na Internet, escolhi um que me pareceu complexo na sua aparente simplicidade.



PS: O sempre colorido congresso do PSD praticamente obrigou o líder recém eleito a jurar que quer ganhar as próximas eleições. Coisa, também ela, estranha…








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