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01/04/15

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AMADEU FERREIRA

Manuel Joaquim

 

Neste mês de Março morreram dois grandes escritores portugueses. Amadeu Ferreira, no dia 1, e Herberto Helder, no dia 23.

Alguns órgãos de comunicação social divulgaram, no próprio dia e no dia seguinte, o falecimento de Amadeu Ferreira, anunciado pela família através de uma nota enviada às respectivas redacções. Foi presidente da Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesa, presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes, professor convidado da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, membro do Conselho Geral do Instituto Politécnico de Bragança. Segundo a nota, foi "Autor e tradutor de uma vastíssima obra em português e em mirandês, também com os pseudónimos Fracisco Niebro, Marcus Miranda e Fonso Roixo, deixa obras científicas e literárias, em poesia e prosa" "Em poesia, Cebadeiros, Ars Vivendi/Ars Moriendi e Norteando; em prosa, La bouba de la Tenerie/Tempo de Fogo, Cuntas de Tiu Jouquin, Lhéngua Mirandesa-Manifesto em Forma de Hino e Ditos Dezideiros/Provérbios Mirandeses"

Amadeu Ferreira traduziu para a língua mirandesa Os Quatro Evangelhos; Os Lusíadas, de Camões; Mensagem, de Pessoa; dois volumes de Astérix; obras de Horácio, Vergílio e Catulo, entre outras. Foi colaborador de diversa comunicação social, designadamente do jornal Público

Na terça-feira seguinte, dia do seu funeral, numa reunião de amigos, li a nota divulgada pela família e verifiquei que Amadeu Ferreira era desconhecido por todos e não tinham ouvido falar do seu falecimento. Só um, ausente, é que o conhecia bem, de actividades desenvolvidas em tempos atrás. As livrarias da cidade do Porto, ignoram Amadeu Ferreira, como escritor.

Herberto Helder faleceu no passado dia 23 e todos os canais de televisão, rádios, jornais e revistas deram de imediato longas reportagens sobre o escritor e a sua obra. As montras e expositores de todas as livrarias estão com os seus livros. Em conversas de café, pessoas amigas, algumas que, provavelmente, não leram mais do que dois ou três livros durante toda a sua longa vida, falaram-me sobre o escritor de quem nunca ouviram falar e comentavam e interrogavam sobre a sua personalidade

Herberto Helder é um dos maiores das letras portuguesas. E não é de agora que é assim considerado. Provavelmente maior do que alguns dos que são considerados os maiores. Só que nunca foi um escritor de modas ou, como disse Arnaldo Saraiva, da prostituição e comércio de livros. Só que o falecimento de Herberto Helder é uma grande oportunidade para quem domina os direitos de publicação e agora o comércio de livros, e, daí, as grandes campanhas de markting.

Amadeu Ferreira, também nunca foi um escritor da prostituição do comércio de livros. Mas dizer que foi um investigador e divulgador da língua mirandesa, segunda língua oficial, ou que foi um escritor regionalista, é retirar-lhe o grande valor que ele tem na literatura portuguesa. Consagrados escritores portugueses e estrangeiros, como Aquilino Ribeiro, Alves Redol, João de Melo, John Steinbeck, e tantos outros, trataram temas que, porventura, poderiam ser considerados regionalistas. Mas são escritores da literatura universal.

O romance de Amadeu Ferreira, Tempo de Fogo, editora Âncora, é uma obra de uma qualidade de escrita extraordinária, que trata o problema da inquisição em Portugal e dos seus nefastos efeitos nas populações transmontanas, que ainda hoje perduram, e o problema da liberdade de pensamento. O Bispo Manuel Martins, na apresentação que fez do livro, na cidade do Porto, em 23 de Fevereiro de 2013, referiu o seguinte: "Posso antecipar que alguns conteúdos de Tempo de Fogo dariam lugar a oportunas e actuais reflexões, logo no que a Deus diz respeito, esse Deus que tantos de nós trazemos "enterrado" cá dentro… Podemos encontrar no livro preciosas oportunidades para fazermos a nós próprios algumas perguntas."

O tema e a linguagem do livro dariam uma boa obra cinematográfica.

No dia 5 de Março, logo após o seu falecimento, foi apresentado em Lisboa, um novo livro de sua autoria Belheç/Velhice. Também foi apresentada a sua biografia, O Fio das Lembranças, de autoria de Teresa Martins Marques, doutorada em Literatura e Cultura Portuguesas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É uma importante obra para se conhecer com profundidade a personalidade de Amadeu Ferreira e a análise crítica da sua obra.

Quem se interessa pela literatura portuguesa não pode ignorar Amadeu Ferreira.

CARTA AO CAPITÃO SALGUEIRO MAIA




Estimado capitão Salgueiro Maia, preparam-se os portugueses para celebrar mais um aniversário dessa madrugada primaveril e serena em que a liberdade foi semeada pelos campos e pelas ruas das nossas cidades tão imobilizadas no tempo, nessas teias aracnídeas que o ditadorzinho plantava com esmero ou com violência no jardim do nosso território no qual, uma população há muito amedrontada, parecia arrastar a sua existência por um carril eterno onde rolavam esferas controladas pelos fios que o prócere de S. Bento manipulava como lhe parecia ser de melhor encanto. E sorria, de longe a longe, a bestazinha. Mas nessa noite, meu capitão, a coragem saltou em força, arrebatando todos como uma haste da mesma árvore e rebentaram as correntes desse portão de ferro que nos impedia de olhar a eternidade. Venho de longe, meu estimado capitão, de uma outra noite, longínqua no tempo, mas também ela de coragem e de liberdade e vivida nessas ruas de Lisboa e estendida pelo país adiante, daí que também eu, apesar de simples mester da tanoaria, compreenda os seus sentimentos quando os seus carros rolaram pelas sombras nocturnas em direcção ao Sul com a D. Natércia acenando da janela e orando para que tudo fosse alcançado. E foi meu capitão, pelo menos nesse tempo irreal ou nesse dia inteiro e limpo como escreveu a poetisa. Vejo-o ainda com aquele ar gaiato no centro da cidade, arma na mão que parecia não servir para nada, a distribuir instruções a planear sobre o acontecimento a dirigir-se de rosto aberto, firme, corajoso, destemido, libertador para os carros de combate que aquele brigadeiro estúpido e vil ordenava que disparassem. Mas os soldados não se deixaram iludir e compreenderam de que lado estava o futuro, reduzindo à inutilidade aquela figura ridícula de carcereiro inquisitorial e o meu capitão regressou com a certeza da vitória, consumada de todo, mais para o fim da tarde quando o sátrapa foi recolhido num blindado e levado sem deixar lembrança. O que se passou depois, já a história o havia visto 600 anos antes, no tempo da revolução do qual fui também participante com a mesma alegria, a mesma juventude e a mesma determinação do meu capitão. Também Álvaro Pais quase logo a ter acordado a cidade para acudir ao Mestre, logo que nos viu rua fora a reclamar o que os donos do reino nos deviam, procurou acorrentar-nos, dispondo-se a acordos com a rainha e incitando o que haveria de ser nosso rei por direito e dever da revolução, a impedir que entrássemos no bairro judeu, procurando salvar o dinheiro, o seu naturalmente. Diz-nos o nosso estimado José Mattoso que nas cortes de 1385, dois anos após lutarmos pela pátria, uma pátria da qual fizéssemos parte, os procuradores pediam ao rei, o nosso I D. João, para restabelecer a ordem, e nessa ordem, claro, aparecia o reprimir severamente as desordens e as expropriações de bens dos «milhores ou de milhor entender e mais manteúdos e naturaes e aparentados no Reyno e nos lugares». Como pode ver, meu capitão, tantos séculos a separarem-nos e a litania não mudou muito. Também o meu estimado capitão viu no caminho libertador da revolução a sua Alfarrobeira e se nós ainda aguentamos 100 anos até eles voltarem, no seu tempo, chegou ano e meio após a esperança ter nascido. Lamentavelmente o rio da sua vida estancou a corrente subitamente não o deixando viver as esperanças e a justiça pelas quais empenhou a vida naquela noite, mas por outro lado, evitou que pudesse olhar e sentir o regresso dos filhos e dos netos desses anos podres e de chumbo, esses vadios insolentes que hoje se espolinham em cima do poder com a mesma arrogância estúpida e insolente dos seus antepassados, sabendo que também agora vão ficar impunes. E veja meu estimado Salgueiro Maia, quando a nação, precisava de alguém com o dedo apontado ao mar, ao infinito, ao sonho, como aquele pequeno príncipe que viu a luz no Porto medieval, aparece-nos um néscio assentado no palácio. Uma criatura tola e oca que teima em dar razão duas vezes a Montaigne, mas pela negativa, pois onde o filósofo dizia que mais vale ter uma cabeça bem feita de que uma cabeça cheia, ele consegue tê-la vazia e mal feita. O meu capitão ainda o conheceu, mas nesse tempo este aparvalhado arriscava desenhar umas letras nas quais com grande esforço ainda conseguíamos admitir uma frase, mas nos dias de hoje, já não fala, só se ri, lembrando-nos o Manuelinho de Évora. Como vê, meu estimado amigo, une-nos esse abraçar a pureza de uma causa, o caminhar, quantas vezes corajoso e sempre anónimo, por ideais tão simples como a liberdade, a justiça, essa fraternidade humana que nos pudesse propulsionar para além de nós próprios e impedir que levantassem de novo a cabeça, estes arcontes bastardos cavalgando em cima de um poder que assaltaram e do qual bebem até se saciarem, certos de não serem punidos, pela protecção que, antes como agora, uma guarda pretoriana lhes vai garantindo. Mas que importa meu capitão, pois mesmo tendo de os suportar de novo, estes sabujos do dinheiro, já não nos podem retirar aqueles dias felizes de liberdade, de alegria, de festa, desse abraço que correu de norte a sul, já não nos podem tirar ou impedir de recordar e quem sabe, se um dia não voltaremos a acordar numa sociedade decente e daremos caminho definitivo a esses excrementos que a história teima em reanimar a cada centúria. No tempo e no lugar em que repousa, receba meu estimado capitão Salgueiro Maia um abraço sentido deste cidadão


Afonso Anes Penedo

 

DE 4

Cristina Guerreiro

 

O focinho no chão, uma humidade insistente a raspar no sobrado até deixar um rasto como o caracol, um cheiro intenso e atractivo que impedia a audição ao nome e eu gasta no chamamento, pus-me de quatro, uma marca onde o sol batia como uma língua a lamber as fatias de madeira aquecendo-a.

O cão tinha razão.

Cheirava ao salão onde Madame berrava o compasso batendo a vara a ritmo, por vezes nas pernas que não se endireitavam ou não se esticavam ou não se mantinham hirtas o tempo suficiente até tremermos do esforço, do medo e da vergonha.

Cheirava a madeira quente e a um suor muito especial, e a pó de talco e a pez e a sangue também. Ou se calhar não. Talvez fosse apenas invenção da minha cabeça e dos outros para a condenarmos por nos fazer sofrer, mas de vez em quando havia mesmo sangue de verdade nos pés e nas unhas e também nos joelhos e ninguém se incomodava com isso, limpava-se e seguia-se como se fosse normal.

Cheirava a água de colónia verde. De Madame. Que por vezes fazía dores de cabeça. Não sei que perfume era aquele mas sempre o imaginei verde, de um verde perigoso como se fosse veneno, que se lhe tocasse com um dedo morreria, embora nunca tivesse visto o frasco, só o lenço muito branco com rendinhas que ela escondia na manga do maillot e deixava um altinho como se ali tivesse um inchaço. Provavelmente era ali também o lugar do seu coração, o único alto que tinha no corpo, pois de todo o resto era estreita e lisa como uma tábua do chão onde fazíamos os pliés e relevés sem sitio que lhe pudesse caber qualquer outra coisa.

Até o pianista tinha medo dela. Não me lembro do nome do senhor, mas recordo-me que estava sempre pálido e suado como se estivesse na barra connosco. Quando ela se aproximava dele e pousava a mão muito branca e magra sobre o negro do piano, ele nunca levantava os olhos das pautas e mantinha-se sempre curvado apenas fazendo um movimento rápido com o pescoço para a frente como uma bicada sobre as teclas dando inicio aos acordes.

O cão tinha toda a razão.

Este cheiro é absolutamente tóxico, que saudades.

 

 

A DESIGUALDADE

António Mesquita



"A desigualdade não é necessariamente um mal em si própria: a questão chave é decidir se se justifica, se há razões para ela."

"Le Capital au XXIme. siècle" (Thomas Piketty)


Do célebre tríptico da Revolução Francesa, a Igualdade sempre permaneceu utópica (pelo menos, mais do que as duas outras ideias). Como Marx dizia, a burguesia afirmou o seu regime (que já praticamente dominava) e foi igualitária no sentido em que podia ser: derrubando o poder de casta e instaurando o poder do dinheiro. As desigualdades do dinheiro são, de facto, de outra natureza: não há homens superiores pelo nascimento e, teoricamente, um deserdado pode alcançar o poder máximo. Essa ínfima probabilidade serve de alibi para os inimigos da ideia igualitária, mas corresponde a algo de novo e 'progressista' em relação à sociedade aristocrática.

Ora, o novo astro da economia vem dizer uma coisa que devia ser óbvia, mas que permanece um tema de perpétua divisão entre os filhos da Revolução (sobretudo os que se sentem como tal). A história dá-nos sobejos exemplos de sociedades desiguais, em maior ou menor grau, mas, infelizmente, não encontramos um só exemplo de uma sociedade que não desminta o seu credo igualitário pelo modo como se tem de organizar. Porque a verdade é que as funções necessárias à vida social reintroduzem o princípio da desigualdade obrigatoriamente. O poder é um factor mais do que óbvio dessa desigualdade.

A ex-URSS é a melhor sebenta dessa realidade. Os operários no poder já não se podem comportar como se ainda lidassem com as antigas máquinas, mas têm de se comportar de acordo com as suas novas funções.

Digamos que esse é o nível da desigualdade justificada, como lhe chama Piketty, pela natureza da própria sociedade organizada. Existem, nesses casos, razões incontornáveis para a desigualdade.

A questão que se põe é se essa desigualdade 'orgânica' não abre o caminho para todas as outras e se, então, o ideal da justiça não teria de se conformar com o controle dos abusos...

É evidente que esse controlo seria do próprio interesse da maioria dos 'privilegiados'.







A HERANÇA

Mário Faria

 

As eleições em França confirmaram que as alternativas ao PSF se situam à direita. A esquerda à esquerda do partido socialista, como ocorre em toda a Europa, limita-se a teorizar sobre conceitos “impraticáveis” e que mais não servem, (em função dos resultados registados ultimamente), senão para reforçar a ideia de que não há alternativas à supremacia dos mercados e à globalização da economia. Enquanto a oposição institucionalizada segue o “seu caminho”, há mais cidadãos a intervir politicamente, pelo chamamento das redes sociais. Entre a luta rotinada de uns e a instantânea de outros, a tarefa dos que se batem contra “esta política” é dura e complicada. Depois da queda do Muro, historiadores bem informados proclamaram o Fim da História. Veremos se estamos a assistir ao princípio de outro fim que já nos visitou com roupagens muito semelhantes.”Passamos de Jean Jaurès a Jean Marie com o vocabulário socializante e a um discurso que insiste na ameaça da mundialização que poderia ter sido usado por George Marchais”, descreve o Le Monde para esclarecer como o FN comunica e adapta o discurso, conforme os grupos alvos a que se dirige.

Na Madeira, Alberto João deu o assento a Miguel Albuquerque o líder de um PSD “renovado” que abriu a porta de ”um novo ciclo” e de um novo “rumo” que passa pela abertura do partido para a implementação de novas políticas e rotinas em prol da população. O PSD obteve a maioria absoluta e a JPP (Juntos pelo Povo) emergiu como a grande surpresa da noite eleitoral com o mesmo número de deputados que a “Coligação Mudança” que o PS formou e cujo fracasso foi estrondoso e levou à demissão do líder da coisa. “Vou ser uma oposição forte, determinada e mostrar à população que somos um rosto visível [e temos] uma forma diferente de estar na política", afirmou o cabeça de lista da JPP, Élvio Sousa. Ao que parece o novo partido defende, ainda que “de forma suave e democrática” a independência da Madeira. A direita deixou de ser radical nos processos: os cubanos de Lisboa já não são inimigos e o cacete hibernou por tempo indeterminado.

A extrema-direita não é um fantasma, está e sempre cá esteve. Pode caminhar mais vestida ou desnudada, mais perto ou mais longe do poder, mas anda sempre por cá: autoritária ou prudente, populista ou democrática, arruaceira ou bem comportada. Neste momento, é “a direita no seu todo” que pauta o jogo político e gradua as prioridades sociais, políticas e económicas. E culturais. Convive muito bem com o “nim, nim” das forças do centrão e disso sabe retirar todo o proveito. A capacidade evolucionista, faz parte da sua natureza. E vive, manda e multiplica-se com a resiliência de quem ultrapassou tantos séculos na situação de mandante. Vestida com trajes diferentes, a direita comporta-se com uma autoridade inequívoca, como se tivesse recebido essa herança histórica que lhe concede o direito ao exercício do poder, que deuses e homens assinam por baixo e reconhecem como usufruto de uma superioridade natural.

 

EM VOLTA DO “SINOCOMUNISMO”

Mário Martins


https://www.google.pt/search?q=partido+comunista+chines


40 anos depois de o historiador Jean Elleinstein, então membro do Partido Comunista Francês e Director adjunto do Centro de Estudos e de Pesquisas Marxistas, ter acordado as esquerdas de matriz marxista do Ocidente para as "sombras" do sistema soviético, com as suas"História da URSS" e "História do Fenómeno Estaliniano", (apesar de, nessas obras, afirmar crer "que o sistema socialista é infinitamente superior ao sistema capitalista" e "que o fenómeno estaliniano se explica pelas condições históricas da primeira revolução socialista da história e é um acidente do comunismo, e não um seu produto natural e, portanto, inevitável"), é a vez de uma jovem marxista, Mylène Gaulard, professora na Universidade de Grenoble, causar polémica no país do Iluminismo com o livro "Karl Marx em Pequim – As raízes da crise na China capitalista", que desenvolve a sua tese de doutoramento, segundo a qual "a China é plenamente capitalista".

A autora ilustra a sua tese afirmando, por exemplo, que "éinegável que um país no qual o salariado continua em vigor, separando os trabalhadores e os seus meios de produção, e no qual se encoraja um processo de produção baseado nesse salariado e no fosso crescente entre o valor gerado pelo trabalho e a remuneração deste, um tal país somente pode ser analisado como capitalista"; que a participação do Estado no PIB, que era de 31,2% em l978 caiu para 18% em 2012; que a participação das empresas estatais na produção industrial, que atingia 80% em 1979, não ultrapassava 35% em 2012; que apesar de a pobreza ter diminuído, a desigualdade social aumenta em vez de decrescer (a maioria dos bens de consumo duráveis só sãoacessíveis a 100 milhões de pessoas, numa população total de 1300 ou 1400 milhões, e somente os EUA têm hoje mais bilionários, alguns membros do Comité Central do Partido).

Mylène Gaulard vê a China cada vez mais integrada no sistema global do capitalismo, onde "nada ocorre por acaso e menos ainda pela livre vontade dos indivíduos ou dos Estados", e está convicta que a crise actual "somente pode desembocar num aprofundamento nocivo e nefasto, com a perspectiva de um encadeamento de ciclos mundiais de crises económicas e de guerras cada vez mais destruidoras, as únicas capazes de regenerar o capitalismo (…)"

A sua conclusão é utópica: um "movimento que um dia conduziria à instauração da verdadeira comunidade humana (…)".

Embora o comunismo esteja fora de moda, estas teses, porque respeitam directamente a 1/5 da humanidade e indirectamente ao mundo todo, colocam uma mão cheia de questões. Tentaremos abordá-las em próxima ocasião.

 

PS: Como não li o livro, este texto transcreve livremente, com a devida vénia, passos do artigo do jornalista e escritor Miguel Urbano Rodrigues, que mão amiga me fez chegar.

 

 

 

 

 

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