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01/04/15

A HERANÇA

Mário Faria

 

As eleições em França confirmaram que as alternativas ao PSF se situam à direita. A esquerda à esquerda do partido socialista, como ocorre em toda a Europa, limita-se a teorizar sobre conceitos “impraticáveis” e que mais não servem, (em função dos resultados registados ultimamente), senão para reforçar a ideia de que não há alternativas à supremacia dos mercados e à globalização da economia. Enquanto a oposição institucionalizada segue o “seu caminho”, há mais cidadãos a intervir politicamente, pelo chamamento das redes sociais. Entre a luta rotinada de uns e a instantânea de outros, a tarefa dos que se batem contra “esta política” é dura e complicada. Depois da queda do Muro, historiadores bem informados proclamaram o Fim da História. Veremos se estamos a assistir ao princípio de outro fim que já nos visitou com roupagens muito semelhantes.”Passamos de Jean Jaurès a Jean Marie com o vocabulário socializante e a um discurso que insiste na ameaça da mundialização que poderia ter sido usado por George Marchais”, descreve o Le Monde para esclarecer como o FN comunica e adapta o discurso, conforme os grupos alvos a que se dirige.

Na Madeira, Alberto João deu o assento a Miguel Albuquerque o líder de um PSD “renovado” que abriu a porta de ”um novo ciclo” e de um novo “rumo” que passa pela abertura do partido para a implementação de novas políticas e rotinas em prol da população. O PSD obteve a maioria absoluta e a JPP (Juntos pelo Povo) emergiu como a grande surpresa da noite eleitoral com o mesmo número de deputados que a “Coligação Mudança” que o PS formou e cujo fracasso foi estrondoso e levou à demissão do líder da coisa. “Vou ser uma oposição forte, determinada e mostrar à população que somos um rosto visível [e temos] uma forma diferente de estar na política", afirmou o cabeça de lista da JPP, Élvio Sousa. Ao que parece o novo partido defende, ainda que “de forma suave e democrática” a independência da Madeira. A direita deixou de ser radical nos processos: os cubanos de Lisboa já não são inimigos e o cacete hibernou por tempo indeterminado.

A extrema-direita não é um fantasma, está e sempre cá esteve. Pode caminhar mais vestida ou desnudada, mais perto ou mais longe do poder, mas anda sempre por cá: autoritária ou prudente, populista ou democrática, arruaceira ou bem comportada. Neste momento, é “a direita no seu todo” que pauta o jogo político e gradua as prioridades sociais, políticas e económicas. E culturais. Convive muito bem com o “nim, nim” das forças do centrão e disso sabe retirar todo o proveito. A capacidade evolucionista, faz parte da sua natureza. E vive, manda e multiplica-se com a resiliência de quem ultrapassou tantos séculos na situação de mandante. Vestida com trajes diferentes, a direita comporta-se com uma autoridade inequívoca, como se tivesse recebido essa herança histórica que lhe concede o direito ao exercício do poder, que deuses e homens assinam por baixo e reconhecem como usufruto de uma superioridade natural.

 

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