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01/02/15

NÃO SOMOS A GRÉCIA!

Mário Faria
Não somos a Grécia!


O Syriza venceu as eleições na Grécia e rapidamente formou um governo com o partido de direita, Gregos Independentes. Foi uma entrada sem néon, mas com muita luz e cheia de ambição em relação ao projecto político de cariz patriótico e contra a inevitabilidade das duríssimas condições de austeridade impostas. A renegociação da dívida, consta do plano e está na agenda europeia. Os mercados ficaram, de imediato, muito nervosos e agiram à sua maneira: os juros de curto prazo subiram para valores acima dos 12% e o principal índice bolsista grego caiu 9,24% e na banca as perdas foram superiores a 25%. O novo ministro das finanças, Yanis Vouroufakis, já desdramatizou o ambiente das futuras negociações, afirmando que: Não haverá duelo entre o nosso Governo e a UE. Não haverá ameaças. O que está em causa não é saber quem recuará primeiro e que nesta primeira ronda negocial com os homólogos da Holanda, Itália e França a estratégia a seguir nos encontros passa por conseguir: Uma ponte entre o anterior programa e um acordo final, entre a Grécia, a União Europeia, o BCE e o FMI, que será negociado num curto prazo. Do que já se apurou, a negociação vai ser muito complicada.
Recebi esta vitória eleitoral do Syriza com muita ilusão porque quero acreditar que esta paz podre que perpassa na UE vai ser sujeita a um abanão que se espera resulte em mudanças que, obviamente transportam riscos. Mas, nunca é de outra maneira. Não acredito que a nossa dívida seja sustentável como o governo garante. Não só porque a divida soberana atingiu os 130%, mas também em função da enorme dívida dos privados e da crise bancária que veio para ficar. A direita acredita que as suas receitas políticas vão gerar as condições que promoverão o crescimento da economia, se as reformas estruturais forem aprofundadas e seguirem o seu caminho inexorável, com mais despedimentos, cortes nas pensões e reformas, privatizações e mais cortes em tudo que sejam despesas decorrentes das funções do Estado. O Governo já garantiu que não votaria favoravelmente qualquer plano de restruturação da dívida da Grécia, decisão sustentada no bloco político que o apoia e que põe em acção uma forma de determinismo que impede de pensar a função da política fora da órbita de uma prática do governo. Por outras palavras, exclui a eventualidade de a política ser o acontecimento de um impossível, uma ruptura que tem a capacidade de imaginar e provocar. 

O PS estacionou no limbo, aposta no cansaço do adversário e escapa-se na atitude voluntarista da assumpção de um conjunto de iniciativas junto da EU suficientemente firmes e credíveis, pata mudar o e estado das coisas, quanto tomar o poder. António Costa pouco esclarece e a atitude do grupo parlamentar tem sido muito pobre. Uma desilusão este PS que desbaratou o crédito e a esperança saída da mudança de secretário-geral. Sobre a Grécia e o programa do Syriza, diz que sim ou talvez não. Ficámos esclarecidos.

À esquerda do PS, o BE revê-se na doutrina do partido irmão que é o Syriza. Espera-se que a saiba acolher num quadro de independência e não como uma receita sem contra indicações; o PCP vai mais longe na ruptura e defende a saída do Euro que não acho deva constituir um tabu, embora me preocupe o facto de numa eventual saída, ainda que negociada, se perca o controlo, porque o caminho é estreito, está armadilhado e os opositores são poderosos. O Prof. Ferreira do Amaral também defende a saída do Euro o que aceito se for sujeita a referendo ou sufragado em eleições. O que falta saber é se o BE e o PCP estão a tratar de ver o que ainda não se vê ou se as propostas que defendem são demasiado arriscadas por serem mais anti sistema e de protesto que de solução.
Em 2004 o primeiro-ministro Durão Barroso subscreveu, com o espanhol, o italiano, o polaco, o lituano e o estónio, uma carta dirigida ao Presidente da CE, reafirmando a necessidade de se respeitar o Pacto de Estabilidade e Coesão (PEC), isto é, o défice orçamental até 3%, e pedindo sanções contra a França e Alemanha por o violarem. A direita portuguesa não consegue encontrar outro caminho que não o da obediência às ordens superiores dos mercados e desistiu do emblema patriótico que fazia parte da ementa. Apenas deixaram o crachá na lapela para enganar meninos. Não somos a Grécia, foi o grito de Pedro, Paulo & Cia. Não encontraram nada mais para dizer que o slogan que repetem, desde 2011, a que juntaram lamentáveis frases jocosas de humilhação. Espero que tudo termine em bem para os gregos e se produzirem benefícios para Portugal e para Europa, tanto melhor.

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