Helena Serôdio
INSÓNIA
A madrugada modelou o teu corpo subtil,Translucido,E eu dei-lhe a forma dos teus braços.O sol esculpiu o teu rosto na face da aurora,Em que os teus olhos imensos,Plácidos como duas ilhas flutuantes,Vogavam ao sabor da brisa….E eu acendi astros no teu olhar,Bebi dos teus lábios o orvalho da manhãE devassei o teu serComo se profanasse um templo…Mas só quando tentei reter a imaterialidade das tuas mãos diáfanasVi que tu eras apenas uma nuvemImóvel no espaço,Levada pelo vento,Que eu cingira ao peito,Beijando nela a tua bocaE possuindo a tua imagem reflectida num espelho!...DERROCADA
Volto todos os diasÀ terra da frustraçãoDepois de pairarMontada no alado corcel do sonho.Cansada do voo,Cansada da terra,Quedo-me...Desço em mimE não me encontroNeste profundo poço do meu ser.Sou como torre que tocou as núvensE que lentamente se desfezAo ritmo do tempo.
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