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01/12/24

A EUROPA NUMA ENCRUZILHADA

Manuel Joaquim



 

Hoje ouvi na Antena 1, uma entrevista com um ex-embaixador de Portugal nas Nações Unidas, colaborador do Diário de Notícias e comentador nas TVs, um homem politicamente de direita, a dizer que os políticos estão a governar o país como se fosse uma junta de freguesia.

Numa conferência realizada no dia 25 de Novembro por iniciativa do Núcleo do Porto da Associação Conquistas da Revolução sobre “Revolução e Contra-Revolução no Portugal de Abril”, ouvi a intervenção de um comandante da Armada, participante activo na Revolução de Abril, a dizer que Portugal é considerado ao nível de uma junta de freguesia, sem qualquer importância para as organizações europeias dirigidas por pessoas que não foram e nem são eleitas.

É curioso como um homem estruturalmente de direita, com informações privilegiadas, tem praticamente a mesma opinião que um homem de esquerda sobre a forma da governação de Portugal e da União Europeia.

Portugal está numa encruzilhada e não vai escapar à grave crise que se avizinha, para já, na Europa.

A situação industrial na Europa está a entrar num túnel bastante comprido e escuro.

Uma representante da Comissão de Trabalhadores da VW declarou numa conferência de imprensa que a empresa vai fechar pelo menos três fábricas na Alemanha, demitir 30 mil trabalhadores e reduzir os salários entre 10% e 18%, e que, em 30 de Outubro, a empresa tinha reportado uma quebra nos lucros na ordem dos 64% em termos homólogos, no 3º trimestre. A Míele, uma empresa familiar com 125 anos, com sede na Renânia, anunciou a transferência de parte da sua produção para a Polónia, atingindo 700 postos de trabalho. A Continental vai eliminar 7.000 empregos e fechar fábricas. A Michelin, francesa, vai eliminar 1.500 empregos na Alemanha e fechar fábricas. A empresa ZF, alemã, fornecedora de peças para a indústria automóvel, vai eliminar 14.000 postos de trabalho até ao ano de 2028. A Robert Bosch, na Alemanha, vai eliminar 5.500 postos de trabalho. A ThyssenKrupp, aços, vai eliminar 11.000 postos de trabalho até ao ano 2030, com planos para reduzir a força de trabalho na ordem dos 40%. A ABB, equipamentos eléctricos, empresa sueco-suíça, vai transferir produção para os EUA e investe sobretudo na China e na India.

A Stellantis, grupo auto, França, dirigida até ao presente por um português, já anunciou o encerramento de uma fábrica no Reino Unido, para lá de outras previstas.

Em Portugal muitas pequenas e médias empresas têm desaparecido. Nestes dias foi anunciado que a Coindu, empresa de Arcos de Valdevez, ligada ao sector automóvel, que há poucos meses foi vendida a um grupo italiano, vai encerrar, eliminando 350 postos de trabalho.

Verifica-se a desindustrialização progressiva da Europa, contribuindo para isso o aumento do preço dos combustíveis, a concorrência cada vez maior de outros produtores, que é acompanhada por uma crise imobiliária a nível geral, do aumento do custo de vida, pelos baixos salários e a falta de emprego.  

Os problemas que se acentuam na educação, na saúde, nas condições de vida, com uma guerra na Europa que parece não ter fim, e que alguns defendem que deve prosseguir, falando já em serviço militar obrigatório com a intenção de mandar os jovens para a guerra, desde que não sejam os filhos deles, claro, está a provocar desconfianças crescentes nas populações.

O 25 de Abril acabou com a guerra colonial, onde morreram milhares de jovens e muitos mais ficaram estropiados e destruídas muitas famílias. Passados 50 anos há indivíduos que defendem a manutenção da guerra em defesa de que interesses?

Na Europa, há oitenta anos, morreram milhões de pessoas na guerra. Os países que sofreram directamente a guerra tiveram destruições com consequências terríveis para as respectivas populações. Nos últimos tempos, ouve-se cada vez mais a falar na 3ª guerra mundial. O próprio Papa, já referiu que já estamos na 3ª guerra mundial. Dirigentes mundiais de quem depende a guerra ou a paz falam em armas nucleares e na 3ª guerra mundial. Países do norte da Europa distribuem papéis com instruções sobre uma possível guerra nuclear, instalando o medo nas populações.

Um major-general português, transmontano mas a viver na linha de Cascais, comentador da CNN, em tempos disse que a indústria de armamento da Rússia estava ultrapassada, pois estava a montar armas com chips que obtinha de máquinas de lavar por não ter capacidade para os fabricar, usando as mesmas palavras da presidente alemã da EU. O mesmo general disse há uns tempos que os soldados russos aprendiam a usar as armas através da internet e que nem tinham meias para calçar com as botas, um país destinado a ser destruído. Sobre decisões de Putin, referiu-se que ele era um mau jogador de xadrez e que por isso iria perder a guerra. No passado dia 18 de Novembro, na CNN, em resposta a uma questão apresentada pela jornalista sobre palavras de Putin sobre armas nucleares e 3ª guerra mundial, respondeu: “3ª guerra mundial? Dá-me vontade de rir. Deve ser para crianças pequeninas acreditarem neste tipo de narrativa”. Sobre o lançamento do novo míssil russo, disse que era uma simples actualização de outros e que tinha materiais de origem suíça. É um homem com informações altamente privilegiadas, pois só passados alguns dias é que foram recuperados destroços do tal míssil, conforme foi noticiado.

Hoje, o mesmo major-general, numa entrevista que deu a uma publicação disse que Portugal está muito atrasado na criação de defesas para um eventual ataque nuclear dizendo que é possível acontecer. Não sei se passou a ser uma criança pequenina para acreditar nessa narrativa. É com gente desta que as pessoas são esclarecidas sobre o que realmente se está a passar.

Gente deste jaez estavam à espera que a mãe natal lhes saísse nas eleições americanas. Saiu o que eles não queriam.

Para meditar e perceber porque não saiu a mãe natal é bom conhecer as palavras de um político do partido democrata, Senador Bernie Sanders, após os resultados eleitorais:

Não devemos ficar muito surpresos que um partido democrata que abandonou a classe trabalhadora descubra que a classe trabalhadora o abandonou”

 


 

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