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01/05/19

NO CORRER DOS DIAS

Marques da Silva

Resultado de imagem para sophia de mello breyner O POVO ESTA NAS RUAS


São várias as estradas que se nos vão deparando ao longo da vida, das quais temos de escolher uma para a nossa viagem. Umas têm o destino bem identificado e aparentam segurança. Algumas não têm regras para caminhar. Outras, ficam ao sabor de quem caminha, umas quantas revelam-se perigosas, embora o lugar de chegada apareça com uma auréola de esperança. Um dia tive de escolher uma dessas estradas perigosas e inseguras, mas pareceu-me a mais adequada, a mais dignificadora, a que melhor nos faria conviver com a humanidade e alcançar um futuro de justiça e liberdade. Não hesitei em caminhar, mesmo quando compreendi que o futuro era mais longínquo do que parecia à partida, mais armadilhado, mais ardiloso e impostor nas malfeitorias que semeava a cada curva, em cada lomba, em cada cruzamento daquela via. Enquanto caminhava, ao conhecer novas gentes e outros lugares, vi quanta tristeza guardava o meu país. Não era melancolia, nem nostalgia, era uma tristeza profunda, invernal, noite sem estrelas e sem luar, apenas negrume, uma dor de miséria, uma imensa amargura. E quando dizia o lugar de onde vinha, não se viam sorrisos, nem rostos alegres, apenas um distanciamento, um desconhecimento, daquele espaço fora do tempo. Até que um dia, quando a neve parecia querer derreter-se, abrir passagem para os nossos pés irem mais longe, chegou, aquela «madrugada que eu esperava» e vi o meu país emergir «da noite e do silêncio», nas palavras de beleza com que Sophia nos presenteou. E de paradeiro longínquo, vi pela primeira vez, o meu país sorrir, de rosto aberto, sorria pela boca, pelo olhar, todo o rosto sorria. Era um sorriso desconhecido, mas que a todos alcançava, despontava daquela escuridão nocturna e enchia a madrugada de sons, de sabores desconhecidos e dia após dia, o sorriso crescia, sem se apagar nem dar mostras de cansaço, nem de temor. A estrada que me levou, foi a mesma que me trouxe, mas agora, já não me olhavam como uma doença, um fastio, alguém que morava num tempo parado e cinzento. O sorriso do meu país era contagiante e os olhares eram já de admiração e de apreço. Mas a nova estrada, também se revelou difícil e o passado parecia querer volver para satisfação de alguns. Os desafios que o caminho apresentou, levaram alguns a desistir, outros a mudarem de estrada e muitos a acomodarem-se, no aconchego de um bem-estar aparente e passivo, que apazigua a consciência, mas permite que a maldade reine à rédea solta. Segui a mesma estrada, com mais ou menos dificuldade. Pelo caminho, apareceram, salteadores, ladrões, aventureiros. Resisti como pude, seguindo o conselho de Torga, “a honra era lutar sem esperança de vencer e lutei ferozmente noite e dia”. Muito roubaram, muito saquearam. As nuvens de tristeza voltaram por vezes a cobrir o céu, mas algo nunca morreu, nunca mais deixou de viver, o sorriso do meu país.

Como todos sabemos, a «democracia ocidental» é o «fim da história» em termos de regimes políticos. Tem dois expoentes a consagrá-la, a liberdade de expressão e a liberdade de voto. Na primeira sobressaem os que «falam, falam e não dizem nada», são os que mandam e, os outros, os que falam, falam e não serve para nada, são os que sustentam os primeiros. Quanto ao acto de votar, assemelha-se muito a um orgasmo envelhecido. Tem um momento de grande cansaço, é o tempo da propaganda em que os que vão ganhar dizem o que não vão fazer, e de seguida, é tudo muito rápido. Esgotados, adormecemos por 4 anos. Este ano estou preocupado, pois chamam-nos a dois orgasmos seguidos. Tenho receio que o coração não aguente!

As «Avós da Praça de Maio», recuperaram a 129ª neta. A mãe foi sequestrada quando se encontrava grávida de 8 meses e é um dos 30 000 desaparecidos depois de torturados e assassinados, neste caso, pela ditadura argentina. A 129ª neta, hoje uma mulher com 40 anos, vai conhecer pela primeira vez o seu pai biológico, um homem de 70 anos e os seus irmãos que nunca desistiram de a procurar. O demente Elliot Abrams disse há dias que Portugal está na frente dos países que pretendem derrubar Maduro e o regime venezuelano, a bem ou a mal. Augusto Santos Silva deve sentir-se orgulhoso por acompanhar a escumalha da humanidade.

Num dos seus mais recentes livros, Júlio Machado Vaz diz ter encontrado, um dia, por acaso, Paulo Portas a quem define como um «homem muito inteligente e educadíssimo». A inteligência e a educação são muito relevantes, mas tanto são utilizadas a favor do bem como do mal, e no caso do nosso ex-político, foi sempre a favor do mal. Além de que, o uso do superlativo absoluto sintético é sempre um exercício perigoso. Esse excremento humano que deu pelo nome de Francisco Franco não se intitulou, generalíssimo? E ao seu cunhado, que se fartou de roubar o Estado espanhol, não chamaram os espanhóis de cunhadíssimo? E o cefaloide político de Boliqueime não meteu a mão no prato nas acções dos seus amigos do BPN, pese embora considerar-se, honestíssimo? Meu caro Machado Vaz, talvez fosse melhor falar só de amor que eu até gosto de o ouvir.

Perante os nossos olhos horrorizados, Notre-Dame de Paris foi consumida pelas chamas. Certamente que a reconstituirão e ficará mais bonita e segura que antes, mas a arte dos mestres canteiros e vidreiros da Idade Média, jamais será igualada.

Nas últimas eleições italianas, venceu o Partido de um palhaço. Agora na Ucrânia, venceu um comediante. Por fim, as democracias começaram a escolher profissionais!

As instituições brasileiras vivem num estado de tragédia, um terreno pantanoso e lamacento. Sérgio Moro é um desses personagens de opereta. Assumiu-se como justiceiro vingador e condenou Lula da Silva a mais de 9 anos de prisão, sem provas. Um tribunal superior aumentou a pena para mais de 12 anos e como afirmaram a maioria desses juízes, sem provas mas com convicção!? Agora um tribunal de apelação, reduz a pena para 8 anos de prisão. Só por si, estas sentenças mostram o estado putrefacto da justiça brasileira, que não é caso único, diga-se. Sérgio Moro, afastou da campanha eleitoral o candidato que previsivelmente iria ganhar as eleições para assim, permitir a vitória dessa anormalidade humana que dá pelo nome de, Bolsonaro, o qual de seguida o nomeou ministro. Há dias veio a Portugal e com a arrogância dos ignorantes, permitiu-se criticar a justiça portuguesa, identificando mesmo um arguido de um processo. Quando este lhe respondeu, permitiu elevar a arrogância ao nível do fascismo vigente no governo de que faz parte: «não dialogo com criminosos pela televisão»disse então, chamando criminoso a um arguido ainda não julgado. Não se ouviu qualquer clamor da justiça portuguesa, o que, só por si, também é significativo. Da próxima vez que visitar este país democrático, deveria ser exigido a este energúmeno que exerce o cargo de ministro e se julga deus na justiça, que lave as mãos e a boca no aeroporto. Já temos merda que chegue.

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