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01/07/07

A GREVE GERAL


Pode-se medir a justeza de uma greve?

Tenho uma grande dificuldade, face à situação do país e às dificuldades crescentes dos trabalhadores - sempre os mais sacrificados e mal tratados – aceitar que a última greve geral em Portugal foi inoportuna, mal preparada e constituiu um fracasso.

Pode a greve não ter sido um “sucesso”, por ter sido pouco delimitada nas suas revindicações, por ter sido excessivamente colada a correntes de opinião partidária, mas nada me convence que os problema maiores, para a sua “fraca” adesão, são esses. O que ocorre é que cada vez há menos solidariedade, menos coragem e vive-se não no reino do terror, mas num ambiente medroso (e merdoso, também) em que se inscrevem os mais fúteis argumentos para justificar o injustificável. Faz-me pena, o gozo com que alguns referem o flop que foi esta última greve geral, sem se dar conta que o que está verdadeiramente em causa é a liberdade (plena) do direito à greve.

E quando falo em liberdade não me refiro ao primado constitucional. O que refiro é que há bloqueios e falta de condições objectivos que permitam ao trabalhador optar, sabendo que dessa opção não resultam “prejuízos” pessoais e profissionais, directos ou indirectos.

Na minha perspectiva, havia boas razões para a convocação de uma greve geral. Nem tudo correu bem, obviamente. E devemos saber fazer essa leitura. Mais, a CGTP não deve deixar de o fazer, com total abertura. Creio, porém, que se e tivesse sido preparada na perfeição, a relação sucesso/insucesso - em função da opinião publicada -, não teria sido muito diferente, bem como os argumentos para provar a sua “falência” e a inoportunidade da sua convocação. Talvez as conclusões fossem menos extremadas, mas seriam muito idênticas.

Os trabalhadores portugueses continuam a ser os que usufruem, relativamente aos restantes parceiros da UE, das mais baixas remunerações, subsídios e pensões. Para além disso, estão sujeitos aos mais gravosos regimes de precariedade : no trabalho, na assistência social e na vida comunitária.

Achou o Governo, no passado, que os défices de produtividade deveriam ser assacados aos trabalhadores e que essa malfeitoria teria que ser combatida e vencida. Decidiu, por isso, alterar as leis laborais e promover um novo código de trabalho, mais liberal e europeu, em busca da competitividade perdida. Mas, não chegou. O actual governo promete que irá mais longe. São as reformas, stupid !

Hoje, são os trabalhadores da função pública que são tratados como párias e os responsáveis maiores pelos desequilíbrios orçamentais. Se não fora eles, que bem não estaríamos. Descobriram, finalmente, a panaceia para a maleita : a flexissegurança. É como aquelas armas muito sofisticadas que matam os terroristas e deixam incólume os edifícios. Pois é, a flexissegurança funciona de forma idêntica : mata os postos de trabalho, mas mantém incólume o trabalho e a segurança no desemprego.

Quem em Portugal pode “vender”, de boa fé, tal promessa ? Os do costume, stupid !

Há efectivamente um défice na economia portuguesa, mas é uma falácia considerar que estes pacotes legislativos vão ser o instrumento estratégico para regenerar a economia portuguesa e atrair o investimento estrangeiro. Não vai nada. Os nossos empresários e gestores são medíocres e demasiado burocratas, para cuidar bem do(s) negócio(s).

A elite portuguesa – a locomotiva da vida económica e cultural – não tem que provar, hoje, que os seus talentos estão acima dos restantes portugueses e que por isso merecem todas as honras. Hoje, têm que competir com outras elites concorrentes que povoam a economia global e provar que têm capacidades semelhantes.

Esse é que é o verdadeiro drama : a maioria dos nossos empresários e quadros superiores é que não são competitivos. A maioria dos trabalhadores são pagos para executar e pouco motivados para que cumpram outra função que não seja a da execução e da obediência. E, por isso, sem plano de carreira, formação e estímulos, têm no seu posto de trabalho a única riqueza.

E quando o Governo considera esses direitos uma extravagância, é com a greve – forma superior de luta, constitucionalmente consagrada – que têm de se bater pelo direito e dignificação do trabalho, porque são demasiado importantes (decisivos) para as suas vidas. E são tão decisivos nas suas vidas que não aceitam que uns quantos instalados, julgando-se sábios pela destreza com que utilizam o “jargão” (pseudo) liberal e manipulam os números como lhes dá mais jeito, decidam intervir sempre e exclusivamente para fragilizar o seu parco património de direitos sociais, tão duramente conquistado. E por isso, a greve foi justa, ainda que pouco partilhada e participada.

Mário Faria

Nota final :

“Grevistas ?! Matam-se todos. Não quero trabalhadores descontentes.”

(Charlie Chaplin in : O Grande Ditador)

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