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01/05/20

O TRIUNFO DO VIRTUAL

Mário Martins
O Distanciamento Social, Vírus
https://pixabay.com/pt/photos/search/dist%C3%A2ncia%20social/


O fenómeno é conhecido. É preciso que qualquer coisa falte para o toque de Midas funcionar e transformar essa coisa em ouro. É o caso da água quando falta nas torneiras, como é o caso da saúde quando estamos doentes. E há agora o inesperado caso da liberdade quando, para prevenir a doença, nos fechamos em casa. Dizer inesperado é dizer pouco. Estamos todos mais ou menos atónitos com o que se está a passar no século dos algoritmos, dos robôs e da inteligência artificial. A nossa vida, de repente, ficou de pernas para o ar e isso, como até agora, de artefactos tecnológicos em punho, nos vangloriávamos, “é indigno do século XXI”.

Por esse mundo fora, os políticos, em primeiro lugar os dos países mais poderosos, sublinham, à defesa, a novidade deste vírus mas, para lá das habituais teorias da conspiração, fica-se com a sensação, mais uma vez, de que, em toda a parte, perante eleitorados ou povos mais ou menos amorfos e ocupados com a sua “vidinha”, que, numa lógica de poder, importa seduzir quando não enganar, eles, os políticos, apenas sabem reagir, como bombeiros, ao “fogo” do momento. De contrário, teriam, prudentemente, face aos surtos virais e bacterianos ameaçadores dos últimos anos, restringido o contacto com animais exóticos, preparado os sistemas de saúde, concebido planos de contingência, e fomentado o aprofundamento da investigação científica à escala mundial, visando a produção atempada, nos limites do estado da arte, de vacinas e fármacos. O êxito dessa investigação não estaria, à partida, garantido, mas, seguramente, teriam despendido uma ínfima parte do autêntico rombo que os erários públicos vão sofrer agora, e, no caso de êxito, evitado a completa desordem da economia e um provável novo ciclo de empobrecimento da maioria da população. Acima de tudo, no caso de estarmos mais bem protegidos, ter-nos-iam poupado a um cortejo de sofrimento físico, psicológico e de morte acima da normal.

Acredita-se que nada ficará como dantes, agora que, como alguns interpretam, a Natureza “nos meteu na ordem”. Mas, sem pretender equiparar as situações, o facto de a anterior crise financeira não ter acabado com os paraísos fiscais e o crédito libertino, não autoriza elevadas expectativas, passado que seja o alarme sanitário.

Agora as nossas rotinas, as mais simples, passaram a valer ouro. A ida ao café do bairro ou aos restaurantes do nosso agrado, o encontro com familiares ou amigos, o toque amistoso, tornaram-se fruto proibido. O próximo passou a ser um potencial inimigo a evitar. Fechados em casa, recorremos, mais do que nunca, às tecnologias comunicacionais. É, sem dúvida, o triunfo do virtual, mas um triunfo amargo.


PS: Texto escrito na 1ª. quinzena de Abril. Prepara-se agora uma tímida mas necessária retoma da actividade já que, se é razoável proteger-nos da doença, não podemos morrer da cura. Será o início de uma nova normalidade. Oxalá corra bem.

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