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01/10/19

ERA UMA VEZ

António Mesquita



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O título diz-nos que é uma história. É assim que temos de compreender a reescrita do caso da Família Manson, em que a vítima mais famosa (Sharon Tate) aparece no final como tendo escapado ao massacre.

Para que esta 'liberdade' com os factos seja aceite pelo espectador, seguimos ao longo de quase três horas a vida hollywoodesca, do estúdio para a piscina de um actor de westerns decadente, Rick Dalton (DiCaprio) e do seu duplo (stuntman) Cliff Booth (Brad Pitt) que divide o seu tempo entre fazer de chofer de Rick e dar de comer ao cão na sua caravana.

Algumas cenas movimentadas pontuam este rame-rame, a mais divertida das quais é o duelo com Bruce Lee, em que a basófia deste é posta a ridículo pela competência do 'stuntman'.

Não é dizer nada que não se saiba que a 'fábrica dos sonhos' é também a 'fábrica dos pesadelos'. E, nesse sentido não é a realidade, assuma ela a forma mais anárquica da cultura hippy (de que Charles Manson seria um subproduto) ou as repercussões do assassinato de Kennedy e da guerra do Vietnam, que irrompe no circuito feérico e alienígena da produção do cinema e da televisão em Los Angeles, mas a chacina de 1 de agosto de 1969 é ela própria uma 'produção' de Hollywood, não no estado de 'privação do sono', apenas, mas sob o efeito da droga.

E não é isso que Tarantino nos diz tratando os factos como um cenário alternativo, em que as personagens fictícias de Rick, Cliff e o molosso fazem justiça imediata sobre o gang transado, e a bela Tate (Margot Robbie), que ainda há pouco víramos gozando a eternidade de se ver na tela dum cinema qualquer, surgir de entre os mortos e justiçados como um holograma feliz?

Podemos deplorar que a preparação deste final se tivesse arrastado por cenas que nada acrescentam ao drama (mas não é essa a marca dum autor que gosta de 'esticar a corda' e sabe que pode contar com a benevolência do público? É quase como a extravagãncia na indumentária de Dali, por exemplo.
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"Era uma vez...em Hollywood" não é o filme definitivo sobre a psicose dum tal lugar, mas é um bom candidato.

Depois há aquela despedida de Cliff e Rick na ambulância que salva o filme, pela amizade viril ao gosto dum Hawks ou de um Ford, que salvava o filme se fosse preciso tanto.



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