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01/08/25

SOBRE O DIREITO À EXISTÊNCIA

Mário Martins

https://www.gettyimages.pt/fotos/gaza

 


O argumento, mil vezes repetido, do direito à existência do estado de Israel, tem tanto de válido como de pecaminoso.

Com efeito, a reivindicação desse direito fundamenta-se, antes de tudo, na tragédia demencial do holocausto, na desconfiança perante vizinhos que não escondem, em grau diverso, a sua hostilidade, e na defesa do objectivo, conseguido há 77 anos, de reunir o povo judeu, até então em diáspora forçada ao longo dos séculos.

Mas, se é legítimo e compreensível o direito à existência do estado de Israel, o que dizer sobre o povo palestiniano que, desde 1948, vê concretamente negada a possibilidade de se constituir em estado na mesma terra da Palestina, quer pela assanhada oposição israelita, quer pelo interesse geoestratégico dos Estados Unidos, a quem Israel serve de lança na região (talvez com a única excepção, no tempo da presidência de Bill Clinton, da promoção de tentativas de acordo entre os dois povos, embora sem êxito),  violando a resolução das Nações Unidas de aprovação da solução de dois estados?

Porque, se há povo com inteira legitimidade para reivindicar o direito a um estado, esse é o povo palestiniano.

As consequências desta situação não seriam difíceis de imaginar, como, aliás, não seria difícil de imaginar a reacção de Israel ao ataque terrorista do Hamas, de 7 de Outubro de 2023, mas não uma resposta totalmente desproporcionada e insensata.

O povo palestiniano, organizada ou espontaneamente, tem, ao longo destas décadas, lutado e resistido como pode, seja à pedrada, seja militarmente, seja até com actos terroristas. Tudo isso, porém, tem esbarrado na insensibilidade e superioridade bélica israelita (que inclui armamento nuclear não declarado).

Os fins não justificam os meios. Um povo, como o judeu, que sofreu na carne as maiores ignomínias e um genocídio organizadamente executado, a pretexto da sua pretensa inferioridade rácica e demonização ideológicas, deveria lembrar-se que está a usar, se não os mesmos, métodos equivalentes contra o povo palestiniano. A destruição e a mortandade de Gaza (que o actual inquilino da Casa Branca declarou, com o habitual desaforo, querer transformar na Riviera do Médio Oriente), e a condenação dos palestinianos à diáspora, não têm perdão.

Como disse, na altura, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, “os ataques do Hamas não surgiram do nada”.

 

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