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01/01/23

A PENSADORA

Mário Martins

https://www.google.com/search?source=univ&tbm=isch&q=hannah+arendt


Para Arendt, a pergunta era: qual a diferença entre os que participaram (no holocausto) e os que decidiram desistir? A resposta é: pensar.”
Samantha Rose Hill

As coisas tinham outro aspecto depois de ela ter olhado para elas”

Hans Jonas, amigo de Hannah Arendt
Revista do Expresso, 14Out2022


A filósofa adolescente judia que não se considerava filósofa desde que emigrara, nos inícios da ascensão dos nazis na Alemanha, da filosofia académica para o pensamento político, “A partir desse momento, senti-me responsável. Nunca mais fui da opinião de que uma pessoa pode ser simplesmente espectadora”, pouco tempo antes da sua fuga para França e depois para a América, criticava abertamente os académicos, (entre os quais se contava o filósofo Martin Heidegger, seu amante, a quem, durante 17 anos, nunca mais falou) que cegaram perante o advento do nacional-socialismo.

Consciente de que pensar é em si mesmo perigoso, defendia: “O que proponho é muito simples: nada mais do que pensar no que estamos a fazer.”

O julgamento de Adolf Eichmann (um dos principais organizadores do holocausto), já nos anos sessenta, de que Arendt fez a cobertura para uma revista americana e que deu lugar ao seu polémico livro “Eichmann em Jerusalém: uma reportagem sobre a Banalidade do Mal”, “falhou porque ele tecnicamente não violara nenhuma lei, pois cumpria leis que nunca deveriam ter sido feitas.” 

Durante o processo, em vez do monstro sanguinário que todos esperavam ver, surge um funcionário, um burocrata. É justamente aí que Hannah Arendt descobre a Banalidade do Mal (Wikipédia). 

Penso que o mal, em todas as ocorrências, é apenas extremo, não radical; não tem profundidade, portanto não tem em si nada de demoníaco.”

Esta frase de Arendt dá que pensar (o conselho é da própria…). No caso concreto de Eichmann, que Arendt considerava um palhaço, a afirmação é inteiramente compreensível, tendo em conta o carácter do personagem. Mas Arendt salta do particular para o geral “em todas as ocorrências”, implicitamente defendendo que o Mal não tem raízes na natureza humana, lá onde reside o símbolo satânico. Para a pensadora, o Mal seria então qualquer coisa que se passaria à superfície do comportamento humano, horizontalmente, desligado da sua condição natural, como se, em última análise, as relações sociais em que o Mal se concretiza (para não falar das patologias individuais) fossem, nos antípodas do pensamento de Marx, expressão da livre vontade dos homens. O que responderia ela a uma crítica deste tipo?

Nos finais dos anos 40 aborda o tema do totalitarismo político, de uma forma premonitória do que se passa nos dias de hoje: 

O súbdito ideal do regime totalitário não é o nazi convicto nem o comunista convicto, mas sim aquele para quem a distinção entre factos e ficção e entre o verdadeiro e o falso já não existem.” 

Esta é uma tese que, no entanto, carece de actualização, já que ninguém acusa um país como os Estados Unidos, onde grassam as notícias falsas e a confusão entre factos e ficção, de ser governado por um regime totalitário.

Este mundo dá muitas voltas, mesmo aos melhores pensadores…


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