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01/12/22

O MÉTODO JACARTA

Manuel Joaquim




Dr. Adão Pinho da Cruz, médico, pintor, escritor e poeta de reconhecidos méritos, aconselhou a ler o Livro “ O Método Jacarta”, de Vincent Bevins, norte-americano, jornalista e correspondente premiado, trabalhou para o Washington Post, Los Angeles Times e colabora com o New York Times, The Atlantic, The Economist, The Guardian, Folha de S. Paulo e outros, com o seguinte comentário “Se não conhecemos uma das maiores monstruosidades que mutilam a humanidade, temos a obrigação de ler este livro. De outra forma manteremos metade do nosso cérebro na escuridão, como a metade oculta da lua”.

Começando por referir que os EUA passaram a ser o país mais poderoso do mundo no fim da Segunda Guerra Mundial, cem anos após se terem constituído nas antigas colónias britânicas, integraram os territórios das antigas colónias francesas e espanholas, excluíram a população nativa, e construíram uma sociedade calvinista, fundamentalista, de supremacia branca, de desprezo pela população nativa, isto é, o genocídio. A escravatura dos negros vindos de África era o dia-a-dia. Como colonialistas e ocupantes tomaram os territórios do Luisiana, da Florida, do Texas e do Sudoeste, apoderaram-se do Havai, o controlo de Cuba, de Porto Rico e das Filipinas, na Guerra Hispano-Americana. 

Recorda que, em 1941, H Truman, futuro presidente dos EUA, entre 1945 e 1953, dizia: “Se virmos que a Alemanha está a ganhar a guerra, devemos ajudar a Rússia; se a Rússia estiver a ganhar a guerra, devemos ajudar a Alemanha e, dessa forma, eles que matem o maior número possível dos outros”.

O segundo país mais poderoso do mundo em 1945 foi a União Soviética, também vencedora da guerra, mas com a população completamente devastada. Os EUA só entraram na guerra passado um ano após a batalha de Estalinegrado, que ocorreu em 1943, um ponto de viragem na guerra. Mas até 1945, os soviéticos, quando entraram em Berlim, já tinham perdido mais de 27 milhões de pessoas. Por isso, os EUA tinham um poder industrial e militar superior a todos os outros e demonstrou-o com as bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasáqui. Assim se formou o “Primeiro Mundo” (países ricos da América do Norte, da Europa Ocidental, Austrália e Japão); O “Segundo Mundo” (União Soviética, países da Europa Oriental) e o “Terceiro Mundo” (todos os outros, a maioria da população mundial, que praticamente vivia sob o colonialismo), classificação estabelecida nos anos de 1950.

A cruzada anticomunista dos EUA já tinha começado muito antes da 2ª guerra mundial quando interveio na Rússia com outras potências para destruir a Revolução. Após a 2ª guerra mundial tornou-se fanática. A ideologia americana é o oposto ao comunismo, tendo como princípio o individualismo, inicialmente apenas os homens brancos com propriedade podiam votar. Moscovo apresentava-se como um rival ideológico, defendendo que os povos pobres podem e devem ascender a todos os direitos.

Logo após o fim da guerra, os EUA fizeram Intervenções nos processos políticos na França, e Itália, e directamente na Grécia, na Turquia e no Irão. Na Grécia foram utilizadas as primeiras bombas de napalm, recentemente desenvolvidas num laboratório em Harvard para combater os guerrilheiros gregos que tinham lutado contra o exército nazi. Na europa ocidental aplicou um plano de ajuda económica, o Plano Marshall, colocando os países beneficiados no caminho do desenvolvimento capitalista conforme os seus interesses.

No início da década de 1950, começou o macarthismo, derivado do nome do senador Joseph McCarthy, que começou uma verdadeira caça aos comunistas, mas, na verdade, iniciou-se muito antes, em 1938, com o Comité de Actividades Antiamericanas. Todas as pessoas que tivessem a veleidade de sugerir ou comentar algo suspeito era perseguido. Os EUA foi transformado na “fortaleza do anticomunismo” e passou a ser a fonte de legitimidade aos movimentos homólogos em todo o mundo.

Entretanto, em 4 de Abril de 1949, os EUA criaram m uma organização político-militar, a Nato, Aliança do Atlântico Norte, constituída por EUA, Canadá, Islândia, Reino Unido, França, Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, Noruega, Dinamarca, Itália e Portugal. É interessante registar que Portugal foi um dos países fundadores da Nato quando existia um regime fascista. Em 1952, depois das intervenções dos EUA, aderiram a Grécia e a Turquia. Em 1955, aderiu a Alemanha Ocidental, RFA. Em 1982, aderiu a Espanha. Em 1989 deu-se a queda do Muro de Berlim. Em 1990, a Alemanha Oriental, já unificada com a Alemanha Ocidental, passou a fazer parte da Nato. Em 4 de Dezembro de 1991 deu-se a desintegração da União Soviética. Em 1999, aderiram a Hungria, Polónia e a República Checa. Em 2004 aderiram a Letónia, Lituânia, Estónia, Eslováquia, Bulgária, Eslovénia e a Roménia. Em 2009, a Croácia e a Albánia. Em 2017, o Montenegro. Em 2020, a Macedónia do Norte. Em 18 de Maio de 2022 solicitaram a adesão a Suécia e a Finlândia. 

Em resposta à criação da Nato, a União Soviética, em 14 de Maio de 1955, constituiu o Pacto de Varsóvia com os países que na altura faziam parte da Europa Oriental. Com a Perestroika, movimento político de transformação da União Soviética, em 25 de Fevereiro de 1991 foi decidido pôr fim ao Pacto, com promessas dos norte americanos do fim da Nato, o que não veio a acontecer. 

Com o pretexto de luta contra o comunismo, os EUA, tendo como objectivo a conquista e domínio do mundo, desencadearam acontecimentos impensáveis nos países do chamado Terceiro Mundo, e que ainda perduram.

Indonésia, em 1965/1966, o maior país de maioria muçulmana com o segundo maior partido comunista do mundo, um milhão de mortos. O processo é muito bem relatado no livro “O Método Jacarta”, método usado pela CIA em muitos locais: Brasil, Argentina (onde faleceu recentemente uma grande lutadora pela liberdade, Hebe de Bonafini, com 93 anos, que organizou a luta contra o fascismo, "Mães da Praça de Maio”, mulheres que perderam os seus filhos, homenageada pelo Papa Francisco, também argentino, e pelo historiador Manuel Loff, com um belíssimo texto publicado no jornal Público de 29 de Novembro), Guatemala, Vietname, Coreia, Brasil, Cuba, Paquistão, (6º pais mais populoso do mundo), Nigéria (7º país mais populoso do mundo), Venezuela, Chile, Nicarágua, Granada, Sri Lanka, Sudão, Gana, Irão, Iraque, Síria, Filipinas. Milhões de mortos que a maioria das pessoas desconhece por falta de informação. 

A máquina da propaganda e o domínio da comunicação fazem com que “ninguém se importa com a colonização cultural, se toda a gente for colonizada ao mesmo tempo”, conforme palavras de Miguel Esteves Cardoso.

Um outro livro, editado no Brasil, São Paulo, pela editora “Expressão Popular”, em 2020, de Vijay Prashad, historiador e jornalista indiano, cujo título é ”Balas de Washington – uma história da CIA, golpes e assassinatos” é útil complemento ao livro "O Método Jacarta".

 “ Balas que assassinaram processos democráticos, que assassinaram revoluções e que assassinaram esperanças”, como diz Evo Morales no seu prefácio. 

Diz-se que os EUA é “O país que mais propaga os princípios democráticos." Há trinta anos que não cumpre aas deliberações da Assembleia Geral da ONU sobre o fim do bloqueio norte-americano a Cuba. Este ano, a deliberação da Assembleia Geral da ONU teve 185 votos a favor,  2 votos contra, dos EUA e de Israel,  2 abstenções, da Ucrânia e do Brasil. 

A ONU condena o bloqueio a Cuba pela 30ª vez. Mais palavras para quê?



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