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01/03/19

A CEGUEIRA

Mário Martins

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“As guerras entre povos serão mais terríveis do que as guerras de reis.” * 
Winston Churchill, em 1901

“Depois de qualquer guerra, as coisas ficam melhor.” 
Um parlamentar alemão, em 1911

“A Europa, na sua insanidade, deu início a qualquer coisa de inacreditável. É nestas alturas que percebemos a que triste espécie de animal pertencemos. Eu prossigo tranquilamente os meus pacíficos estudos e contemplação e nada mais sinto do que comiseração e repugnância.” **

Albert Einstein 19 Agosto 1914
(In A Primeira Guerra Mundial, de Martin Gilbert)

“As grandes nações sempre agiram como gangsteres, as pequenas, como prostitutas.”
Stanley Kubrick (1928-1999)


As próximas eleições para o parlamento europeu, a 26 de Maio, afiguram-se mais importantes do que as eleições de Outubro para a Assembleia da República. 

Elas vão realizar-se num tempo de forte pressão política - comandada por forças de extrema-direita, nacionalistas e populistas, mas em que participam, ainda que com diferente motivação, forças anti-capitalistas de esquerda - pelo “glorioso” regresso dos estados-nação.

É o caso do processo de saída do Reino Unido da União (seja ou não concretizada), como é o caso da retórica do governo italiano e de alguns governos da europa central, dos partidos de extrema-direita que  fazem parte do governo austríaco e do governo andaluz em Espanha, ou dos partidos da oposição de extrema-direita da Senhora Le Pen em França, da Alemanha, da Holanda e da Suécia, todos sob o impulso da ideologia nacionalista e populista veiculada pelo governo dos Estados Unidos. 

A União Europeia é acusada de pôr em causa a soberania dos estados-membros e de ser anti-democrática, mas, se por um lado a soberania dos países assenta (sem menosprezar a sua força militar) cada vez mais no seu poder económico-financeiro e no grau de domínio tecnológico, dificilmente se pode afirmar, por outro lado, que a União padece de um défice democrático quando os povos têm votado maioritariamente, pelo menos até à recente vaga nacionalista e populista, nos partidos claramente pró-europeus.

Em tudo isto é estranho e inquietante que não se dê  a devida relevância ao perigo de guerra - sobretudo por parte do povo inglês que bem conhece os seus horrores - que o eventual fim da União Europeia previsivelmente acarretaria entre nações historicamente caldeadas por séculos de hostilidades mútuas, de que, tragicamente, se destacam as duas grandes guerras nacional/imperialistas do século passado.

É certo que as condições objectivas, 70 anos depois do fim da segunda guerra mundial, não serão tão propícias à eclosão de uma guerra entre grandes nações europeias, já que a Alemanha perdeu o poderio militar de outrora e que a França e o Reino Unido são potências nucleares, mas não devemos subestimar os ressentimentos antigos, as disputas territoriais e de riquezas naturais, e o fervor patriótico.

Ao contrário, deveríamos ter presente que a ideia fundadora, em 1951, do que é hoje a União Europeia foi, a par da sinergia económica, a de evitar novos conflitos entre as nações europeias.  

O que está em causa nas eleições  de Maio é a opção entre o regresso a um nacionalismo serôdio e aventureiro e um europeísmo mais consentâneo com a concorrência de grandes potências político-económicas e com a crescente mundialização, empurrada pelo avanço das comunicações, dos problemas e das relações humanas. Nessa opção, em última análise, pode estar o regresso da guerra ou a manutenção da paz no espaço da União.   

*O livro “A Primeira Guerra Mundial”, de Martin Gilbert, é um horrível testemunho da validade desta predição.

**Apesar de esta frase sugerir uma completa inacção, a verdade é que o célebre físico assinou várias petições contra a guerra.

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