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01/08/17

A (EXTREMA) DIREITA

Mário Faria





A tragédia de Pedrogão deixou o país destroçado pela violência da catástrofe e pela incapacidade das autoridades em defender as pessoas e os bens. Acabado o luto, o governo foi atacado e responsabilizado pela falta de coordenação e capacidade para agir em momento de calamidade. Por iniciativa do PSD, uma equipa de sábios tomou a seu cargo o exame dos acontecimentos e da resposta das autoridades. A cabeça da ministra da Administração Interna foi exigida para lavar o sangue dos mártires. A demissão, numa hora difícil, seria uma covardia e a assunção de culpa, material e política. Tenho as mais sérias dúvidas da capacidade das forças de combate e dos seus dirigentes no ataque ao flagelo dos fogos. Dos bombeiros e dos outros. Mas, essa falta de confiança radica da brutalidade dos números que faz de Portugal o país que mais arde e tem comandos aparentemente pouco hábeis e insuficientemente rodados na intervenção no terreno. É muito importante que quem comande tenha essa experiência ou a tenha tido. Essa é uma condição que os comandados avaliam e muito influencia a acção do grupo. Mas, estas suspeições não têm qualquer fundamento e decorrem de uma certa facilidade como criticamos terceiros. Demais, tomar decisões no quadro catastrófico de Pedrogão foi seguramente complexo e deve ser medido em função do ritmo das ameaças e dos meios usados no combate. E se possível, concluir se houve falha humana. É bem provável que a cadeia de comando não tenha reagido com a mesma rapidez das chamas em fúria. Mas, a desvantagem foi evidente. E é muito fácil assumir, hoje, o que deveria ter sido feito. “Como prevenir e proteger sem destruir tudo? Não há nada pior do que os automatismos preventivos. A biopolítica das catástrofes é reactiva e funciona à medida do que acontece em tempos curtos. Não entende que no sistema ecológico os alarmes só disparam quando já é demasiado tarde. A grande catástrofe do fogo no centro do país suscitou imediatamente legítimas reclamações e todos os fantasmas de imunização, mas tais reacções ignoram as catástrofes lentas, o que aconteceu sem espectacularidade e de maneira mais serena.” 


A comunicação social tem feito uma recolha e um acompanhamento dos fogos florestais de forma esforçada. Porém, o tratamento das imagens foi aproveitado para criar um clima emocional que apela ao justicialismo e ao castigo. E ao terror. E como num filme de série tomou o titulou de “A estrada da Morte” e foi animado pela banda sonora de “Apocalypse Now”.Tudo lhes serviu para o efeito, encostando-se demasiado a noticiar factos sem recurso à investigação das fontes. Foi castigada por isso, e agora chora lágrimas de crocodilo e grita que querem acabar com a liberdade de imprensa. Mas a situação portuguesa tem as suas especificidades: sobre a ausência ou a rarefação de alguns géneros jornalísticos tradicionais, ergue-se a opinião e o comentário político, uma multidão de gente que transita da esfera política para o jornalismo e vice-versa, e começa o dia no jornal, passa à tarde pela rádio e está à noite na televisão. Este sistema conduz ao discurso histérico e à ausência de diversidade intelectual, muitas vezes confundido com a falta de pluralismo político, mas mais grave do que este porque está muito mais naturalizado e dissimulado. E é, além disso, responsável por uma esterilização de esfera pública mediática.”

O triste desempenho do PSD e do CDS sobre a publicação da lista dos mortos de Pedrogão, confirmou que estas forças políticas têm gente nos seus quadros e filiados, muita extrema-direita escondida com rabo de fora. Esta extrema-direita é superficialmente cosmopolita, mas não hesita em pegar no martelo e na moca para impor o seu ideário e os seus interesses. Ferro Rodrigues com aquele ar antipático que o caracteriza, deu conta desse evidência numa entrevista para a Antena 1. Fez bem. Lembrei-me dos tempos do PREC e das notícias que saiam todos os dias sobre o caos instalado no país e do sangue que corria pelas ruas de Lisboa. Por estes dias o alvo é diferente e o método menos musculado. A continuidade desta fórmula de governo é fundamental e, sendo assim, é imperioso que os actuais partidos que o sustentam se entendam entre si. O período eleitoral não favorece a prudência e os acordos a firmar e que constarão do próximo Orçamento, devem ser estabelecidos de forma sigilosa. A estratégia de os trazer para a rua como forma de pressão é uma ameaça: um tiro nos pés. Por favor sejam inteligentes e olhem menos para o umbigo.


Nota: os textos em bold são parte de um artigo de António Guerreiro no Público.



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