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01/11/11

O TEMPO DO DESASSOSSEGO

 Mário Faria

(somanywds.wordpress.com)



1 de Maio de 1975. Com alguns colegas, companheiros e camaradas dirigíamo-nos para o Sindicato para integrar o cortejo alusivo à data, quando nos cruzámos com uma série de manifestantes da “ferrugem” que, reconhecendo pelos cartazes, que éramos profissionais de seguros, nos disseram, mais em sinal de gozo que de acinte, qualquer coisa como: “ revolucionários ? burgueses é o que vocês são “.  As palavras não terão sido exactamente essas, a ideia sim. Na altura, fiquei chocadíssimo. Senti-me insultado. 

Passados estes anos todos, achei que os homens tinham razão. De facto, não era nem sou revolucionário, porque não era operário, nem antes e depois, mais tarde porque passei a relevar o direito à opinião, livre expressão e iniciativa privada como parte tangível de qualquer sistema político.  Acreditava e continuo a acreditar que o socialismo, concebido no passado, tem futuro, ainda que num quadro menos ortodoxo. Têm de ser as novas gerações (ou as velhas)  a descobrir o melhor caminho. Têm de ser intelectuais ou académicos a reescreverem o modelo e o método. Têm de ser os trabalhadores  a provocar, estimular e a constituir-se como a locomotiva de uma política diferente a caminho de uma nova ordem.  O Objectivo, esse não diferirá muito : chegar a  uma sociedade mais justa em defesa dos trabalhadores e oprimidos.  O trabalho não pode ser subjugado (em alguns casos escravizado)  em favor de uma minoria que detém o capital. Já os meios não podem acolher os erros cometidos no passado : políticos, sociais e económicos . A liberdade e a iniciativa privada, mais do que toleradas, têm de ser enquadradas mas,  nunca desvalorizadas.

Um dos problemas que se vive de momento é o facto de do “socialismo real” não se constituir como um modelo alternativo, depois do colapso da URSS.  De facto, mesmo os partidos de esquerda, como o PCP e BE,  combatem o sistema capitalista com a retórica dominante, e segundo as regras que estabelece. Diverge-se nas soluções do Governo actual  porque, sendo penalizadoras para os  trabalhadores, são más para a economia e causam recessão.  Fala-se mais do modus faciendi para a saída da crise do que atacar o sistema que a pariu. O problema, na minha perspectiva, não decorre apenas de erros de governação ou da banca. O capitalismo não é regulável: não faz parte do seu ADN,  como comprova a decadência das sociais democracias, nomeadamente  da 3ª. via de Tony Blair. 

Nada nasce ou morre,  tudo se transforma. O capitalismo foi capaz de vestir diferentes vestes para sobreviver e progredir. A iniciativa privada, a ciência e a tecnologia deram passos de gigante para a melhoria qualitativa dos povos. Mas, os recursos estão exauridos e as soluções saturadas.  O capitalismo se não está em vias de implosão, anda lá próximo. Será que, com  a tragédia à vista,  vai ser possível  um novo rumo e o ressurgimento do sistema ? Tenho dúvidas e entendo que as soluções possíveis (só) serão encontradas pela via do autoritarismo e do empobrecimento generalizado. Uma espécie de Patriot Act,  económico-financeiro, com leis e regras criadas para que se possa vencer uma situação pré-proclamada de verdadeira emergência nacional, como o nosso governo não se cansa de repetir. Não há alternativa, dizem. Salazar avisava: “… as ideias devem poder exprimir-se, sem obstáculos. As ideias e as doutrinas. Mas é preciso não pensar em conceder a mesma licença a certas estreitas discussões políticas e libelos polémicos, nas quais as injúrias substituem os argumentos. O meu país era e é ainda um doente. É indispensável, para seu repouso, poupá-lo : não se deve gritar inutilmente no quarto de um doente….”. A sentença de não haver alternativas à actual política de ataque à crise, não é mais do que uma forma suave de dizer o mesmo.

Não faço ideia do que se possa fazer neste tempo tão minguado de revolucionários e de novas ideias. Indignados, pois sim, estamos quase todos. O Maio de 68 foi um tsunami de protesto que acabou concedendo a maioria a De Gaulle.  Como unir essa maré de descontentamento, quando se sabe que uma boa maioria está muito mais contra os políticos e os partidos tradicionais e bastante menos contra o sistema.  Para muitos, talvez a maioria, não é uma questão de modelo é mais uma questão de (má)  gestão da coisa pública.

Quem poderá substituir os operários como motores de mudança. Tem a palavra a esquerda que, insisto,  tem recorrido à critica  às opções que são tomadas pelos governos, quase sempre num registo de soluções alternativas no quadro do sistema. O direito à indignação e à resistência são os meios à mão que não são dispensáveis, mas é preciso dar um passo em frente. Quando, como e com que pé, não sou capaz de minimamente definir. Espero, desassossegadamente !



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