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01/09/11

A VIÚVA

António Mesquita
Execução de Marie Antoinette, em 16 de Outubro de 1793



“Se bem que uma parte da Assembleia pedisse a votação imediata, a proposta de Guillotin foi adiada. Remetida para o dia da discussão do Código Criminal, Guillotin reaparece na tribuna no 1º de Dezembro seguinte, na altura em que se abre o debate sobre o antigo sistema penal. Desta vez, propõe: ‘O criminoso será decapitado, e sê-lo-á por efeito dum simples mecanismo.’”

“La guillotine en 1793” (Hector Fleischmann)


A simplicidade do mecanismo, quase como a da lógica, venceu o espírito dos revolucionários, e a medida foi decretada em 21 de Janeiro de 1790.

Paradoxalmente, foi como um progresso assinalável e como uma lei mais justa que se adoptou a máquina do Dr. Guillotin. Com efeito, as execuções no anterior regime deixavam muito a desejar e podiam ir muito além do castigo que se pretendia infligir. O Dr. Louis, Secretário Perpétuo da Academia de Cirurgia, lamentava que alguns suplícios se tornassem horríveis para o paciente e para os espectadores, por defeito dos meios empregues na execução. Não era raro  que, numa decapitação, a cabeça não ficasse, à primeira, separada do tronco e fossem necessários alguns golpes de sabre para acabar o trabalho.

Assistimos a uma espécie de asseptização da pena máxima. É nesse sentido que devemos interpretar a reivindicação dos carrascos junto do rei contra o costume de lhes chamarem… carrascos. Numa ordenança de 1787, o bom Luís XVI, dá-lhe provimento: “O rei é informado que acontece muitas vezes que os executores das sentenças em matéria criminal sejam, por erro, designados pelo nome de ‘carrascos’(…)”  

Mais tarde, o célebre carrasco Sanson  perseguiu alguns jornais culpados por terem concitado o opróbrio popular tratando-o por aquele nome infame. Matar alguém passou a ser um assunto administrativo, com direito ao bom nome, está bom de ver. Não é sem uma certeira intuição que o mesmo Sanson desabafa perante a “limpeza” da mais recente decapitação: “Bela invenção! Conquanto que não se abuse da facilidade!”

Sabemos como este funcionalismo macabro proliferou, fazendo cair cabeças com uma assinatura, prenunciando outras máquinas de extermínio em maior escala ainda.

Está visto que há algumas coisas que não devem ser tão simplificadas como alguns gostariam.


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