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01/12/08

O DIA EM QUE O (MEU) MUNDO MUDOU

Alcino Silva

http://www.everestspeakersbureau.com



Foi há dias atrás que fui sensível a um discurso apresentado face a esta crise do capitalismo – sim já não é desactualizado voltar a usar o termo -, a esta bancarrota total deste comboio que rodava alegremente para se espatifar contra um muro de betão. Pois diziam-me então que temos de ser consumidores e consumir, pois se não consumirmos as empresas não vendem e se não vendem encerram e encerrando, os trabalhadores, desculpem, os consumidores, ficam sem emprego. Pareceu-me uma teoria simples, acessível e perceptível, tão perceptível que costumando demorar algum tempo a compreender as realidades, desde logo aderi. Eu que durante tantos anos fui defensor de uma sociedade sem sumo, senti assim esse apelo a trazer-me até esta fantástica sociedade com sumo. Pensando bem, não fazia muito sentido, pois como saborear a vida, a beleza das coisas, os sentimentos das pessoas, numa sociedade em que se espreme e nada sai, absolutamente sem sumo, daí esta mudança que embora exija uma transformação do pensamento sempre poderá trazer alguma compensação material, dado que a sociedade com sumo, embora não dando nada, oferece tudo, inclusive essa espantosa liberdade que posso ter, tanto para obter tudo, como para não obter nada, pois uma das suas grandes maravilhas é permitir-me escolher e, portanto, poderei ser livre de nunca ter nada, mas caramba, liberdade é liberdade, enquanto na sociedade sem sumo, não dispunha desse instante mágico de ser livre sem nada ou ser, com muito, sobretudo com muito em cima da liberdade dos outros. Portanto, aí está a minha escolha pela sociedade com sumo, quanto mais não seja, por esses dois aspectos irrebatíveis, a minha liberdade e o contribuir para o trabalho dos outros, pois transformo-me num com sumidor. E, quem sabe, no futuro, talvez com um pouco de sorte, algumas cedências morais, na verdade, um homem que passa a ser um com sumidor não pode ficar inflexível, assim sem mover as ideias, sem lhes dar alguma elasticidade, não é uma questão de valores ou de dignidade como dizem os defensores da sociedade sem sumo, mas antes uma adaptação aos tempos, às circunstâncias, ao novo, ao moderno, e com essa flexibilidade, não poderei até obter um certo estatuto, encerrar-me até, quem sabe, no meu condomínio fechado, sair da garagem com um automóvel que se veja, fazer umas viagens espalhando os olhos por esse mundo admirável que se fecha para os que defendem a sociedade sem sumo. Sim, é verdade que nos exemplos que tivemos dessa sociedade sem sumo, se garantia direitos interessantes, como o do trabalho, o da saúde, o da cultura, o da educação, coisas assim, mas faltava o sumo, a minha liberdade individual. Para que serve ter saúde, educação, cultura, trabalho, se eu não sou livre, não posso escolher ir aqui e ali, mesmo que não vá a lado nenhum? Não serve para quase nada, daí esta minha adesão. É mil vezes preferível ter de mendigar trabalho, saúde educação, cultura e outras questões sem muita importância, mas ser livre. Caramba, ser livre, entendamo-nos. Até para ter fome é necessário ser livre, poder esticar os braços e gritar, gritar alto, não muito, que sou livre. E tendo decidido desta forma, achei por bem dar-vos conhecimento deste momento solene e tão significativo para mim. Hoje, dia 26 de Novembro deste ano que corre com o número 2008, decidi aderir à sociedade com sumo, ia a escrever aos valores da, mas lembrei-me que não tem valores, só tem sumo. Apesar desta minha decisão só não percebo porque razão lá no fundo do meu pensamento continuo a escutar a voz do cientista toscano a dizer, “no entanto ela move-se”.


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