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01/09/21

ORQUESTRAÇÕES

 Manuel Joaquim

Cuidado com publicidade enganosa! | Eighty


I

Há largas semanas que temos deparado com uma grande campanha publicitária a lentes para óculos, com tratamento antivírus, com a imagem de Catarina Furtado e do virologista Pedro Simas.

Esta campanha foi agora proibida pela Autoridade de Regulação Publicitária, por ter informações “enganosas”.

Pedro Simas é “investigador científico, virologista e professor universitário” é comentador em órgãos de comunicação, designadamente em TVS, sobre a COVID 19, pelo que está quase todos os dias nas nossas casas. Pode acrescentar-se que também é vendedor de lentes. E agora também é candidato a vereador à CM de Lisboa.

O semanário Expresso de 27 de Agosto, na página 4 do Primeiro Caderno, informa que Filipe Froes, investigador e coordenador da Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Pulido Valente, consultor da Direcção Geral de Saúde, coordenador do Gabinete de crise da Ordem dos Médicos e membro do Conselho Nacional de Saúde Pública, pneumologista, recebeu de farmacêuticas, designadamente de Pfizer e Astra Zeneca, 385 mil euros desde 2013.

Provavelmente haverá outros comentadores de serviço que também recebem de farmacêuticas dinheiros, directa e/ou indirectamente, para abrirem caminhos para a venda dos seus produtos.

A orquestra, com este tipo de músicos, está afinada para as pessoas aceitarem as terceiras e as quartas doses das vacinas, e para alargar o mercado de consumidores com o recrutamento de jovens e de crianças para a vacinação. São músicos (cientistas?) muito independentes dos grandes interesses comerciais.

Entretanto os trogloditas que votaram contra e sempre combateram o Serviço Nacional de Saúde, posições hoje escamoteadas, que pediram violentamente a demissão da Diretora Geral de Saúde, Graça Freitas, por ter admitido, no início da pandemia, que a infecção pudesse afectar mais de um milhão de portugueses, só falam no SNS em abstracto. Entretanto, mais de um milhão de pessoas já foram infectadas. Não falam que mais de um milhão de pessoas não têm médico de família, não falam na falta de médicos e de enfermeiros, de pessoal paramédico, de auxiliares e de equipamentos. Os hospitais privados e os centros de diagnóstico e de análises privados continuam a facturar em grande à custa dos bens públicos.

II


Lágrimas de crocodilo são vertidas diariamente na comunicação dita social sobre o Afeganistão, sobre a perda de direitos das mulheres e sobre os refugiados. Os papagaios de serviço choram desesperadamente pela derrota dos USA e da NATO, que é a mesma coisa, fazendo até analogias com a fuga de Saigão dos militares norte-americanos.

Não vejo notícias sobre a situação que existia no Afeganistão no tempo do governo que foi derrubado pelos terroristas criados e alimentados pela CIA, pela Arábia Saudita, Paquistão e Nato e com a intervenção directa dos USA a pretexto do 11 de Setembro de 2001.

Existia um governo progressista que apostou fortemente na educação, a presença maioritária de raparigas na universidade de Kabul, na laicidade, na reforma agrária e nos direitos democráticos e modernização da sociedade. A intervenção militar soviética aconteceu a pedido do governo legítimo para auxiliar na defesa e na integridade do país. Os militares soviéticos saíram em 1988 por ordens de Gorbachev, homem que veio a desmantelar a URSS. O governo legítimo do Afeganistão manteve-se em funções durante mais três anos, até 1992. O governo caiu quando a URSS cortou abastecimentos de petróleo e cereais. O exército soviético não foi derrotado como os papagaios de serviço pretendem fazer crer. Foram as questões políticas internas da URSS que levaram àquela decisão.

A situação geográfica do Afeganistão é estratégica. A proximidade com a China, Rússia, Paquistão e India, sempre aguçaram os dentes ao imperialismo com destaque para os USA e Inglaterra, antiga potência ocupante. Para o cerco à Rússia e China e para o controlo de toda a região o Afeganistão não podia escapar às suas garras. É bom ter presente que os USA têm mais de 800 bases militares à volta do mundo e os militaristas, homens que defendem a guerra para o domínio do mundo, não podiam admitir um Afeganistão democrático e socialista.   

Foram 20 anos de ocupação, de exploração desenfreada de pessoas e de riquezas. A produção de ópio, controlada pelo exército dos USA, aumentou largas dezenas de vezes. É o maior produtor mundial de ópio. As terras raras, metais altamente valiosos, existem em abundância, são obtidas a custo zero.

Os sucessivos governos formados por lacaios que viviam e trabalhavam nos USA serviam perfeitamente. A União Europeia nunca questionou nem nunca aplicou sanções por falta de democraticidade nos processos eleitorais como faz a outros países.

Mas a correlação de forças internacionais nestes últimos vinte anos tem-se alterado profundamente. E vive-se uma nova situação.

A entrega do Afeganistão aos Talibans foi decidida pelos USA há muitos meses. Foi Trump quem esteve nas negociações e isso é público. O calendário, alterado várias vezes, foi estabelecido. A formação de um exército afegão com mais de 300.000 militares, com equipamentos modernos, fez parte do processo de ocupação dos USA e do processo negocial. Tudo foi organizado para que com a saída dos USA e da NATO se caminhasse rapidamente para uma guerra civil entre o exército e os Talibans. Só que isso não aconteceu em virtude de o exército ter “desaparecido”. É bom meditar em algumas intervenções recentes de Biden. É da História que estes processos não são lineares. Os Talibans começaram a negociar com a Rússia, em Moscovo, com a China, em Pequim, com o Irão, em Teerão, com a India e com o Paquistão. Pretendem formar governo só depois das tropas estrangeiras abandonarem o país e não aceitam prolongar o prazo de 31 de Agosto, previamente acordado.

Entretanto a CIA tem transportado elementos do ISIS da Síria para o Afeganistão, fugindo à sua certa eliminação e colocá-los em novo teatro de terrorismo para provocar o caos como tem acontecido nestes últimos dias.

Muitos colaboracionistas das tropas ocupantes estão a ser retirados para outros países. Ninguém ouve falar nos mercenários contratados. Muitas pessoas, mulheres e crianças, que pretendem abandonar o país, não vão conseguir, estão a ser descartadas. Sabendo-se que existe a poligamia, o nosso ministro da defesa, não permite que venham as famílias completas, mais do que uma esposa, com todas as consequências que isso acarreta. Os papagaios da comunicação não dizem que muitos destes refugiados estão a ser levados para países fora da Europa e dos USA, para países da África e da América do Sul.

A Unicef tem alertado que 10 milhões de crianças precisam de ajuda para sobreviver. 1 milhão está em situação de fome. 20 anos de ocupação não foi suficiente para organizar o país, criar condições de subsistência para a população carenciada? Ou os 20 anos foi o tempo necessário para destruir todas as estruturas económicas e sociais que existiam? O senhor Biden disse há poucos dias que o objetivo foi acabar com o terrorismo. Verifica-se isso mesmo.

Os papagaios de serviço estão a ficar tartamudos com todos estes acontecimentos. Como vão reagir quando as tropas ocupantes do Iraque tiverem de sair até ao final deste ano? E quando forem corridos da Síria a toque de caixa? 

 

2 comentários:

Edi Show disse...

Obrigado por comentário com pontos importantes de reflexão.

Helena Isabel disse...

Bem visto... Dá que pensar.

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