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01/07/20

TEMPOS VIRAIS

Mário Martins


https://www.google.com/search?source=univ&tbm=isch&q=bairro+da+jamaic



“Mais de 3 mil pessoas terão morrido devido à gripe em Portugal na época 2018/2019”
Do relatório do Programa Nacional de Vigilância da Gripe, Instituto Ricardo Jorge, citado por DN/Lusa - 11Out2019

“Se não tivermos capacidade de controlar o surto junto dos mais desfavorecidos, todos seremos prejudicados. Isto não é uma questão apenas de bondade ou altruísmo, é uma questão de saúde pública e de agir para o bem de todos.”
Filipe Froes, pneumologista e coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos, citado pelo jornal Sol – 28Maio2020

Até 30 de Junho, oficialmente, morreram, ruidosa e diariamente noticiadas como se tratassem de acidentes mortais de viação, 1576 pessoas de Covid-19 em Portugal. Na época gripal de 2018/2019 morreram, silenciosamente como nos versos de Pessoa “A morte é a curva da estrada/Morrer é só não ser visto”, cerca de 3000. Estes números dão que pensar. Podem ser assim simplesmente comparados? Como teria sido se não tivesse havido confinamento obrigatório? Na gripe sazonal de 2018/2019 não houve confinamento mas havia a recomendação de vacinação do agora chamado grupo de risco. Pode-se considerar o confinamento equivalente à recomendação de vacinação? Mesmo os críticos do confinamento geral reconhecem que este novo coronavírus é mais contagioso e clinicamente mais agressivo do que os da gripe sazonal. 

Se há coisa que a Covid-19 pôs a nu foi a miséria e a pobreza por esse mundo fora, constituindo estes grupos sociais ditos, eufemisticamente, mais desfavorecidos, os alvos preferenciais do novo vírus. Na América, terra mítica das oportunidades, diz-se, pela força de um hábito linguístico de índole racista, ainda que, eventualmente, não consciencializado, que é a comunidade negra ou afro-americana (não se diz, simplesmente, os americanos mais pobres ou que não têm as mesmas oportunidades) a grande vítima da Covid. E nessa terra igualmente mítica da liberdade, um agente da lei e da ordem asfixiou, perante a passividade de colegas próximos, um negro ou um afro-americano, não um cidadão americano, evento que, com os excessos inevitáveis de uma revolta, se tornou justificadamente, como agora se diz, viral.

Por cá “descobrimos” o emblemático Bairro da Jamaica e o perigo de contágio que a miséria e a pobreza representam para os grupos sociais “mais favorecidos”.

Estes tempos virais impõem aos candidatos às próximas eleições presidenciais um compromisso político claro sobre a pobreza em geral e os “sem abrigo” em particular, bem como sobre a garantia da igualdade dos direitos e deveres individuais dos cidadãos (e não das comunidades), qualquer que seja a raça, sexo, origem ou religião, antes que, ultrapassada que seja a crise sanitária, volte tudo mais ou menos ao mesmo.  

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