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01/07/19

NO CORRER DOS DIAS

Marques da Silva
Mileva Maric Einstein


Hoje é dia de visita. Não que seja um dia especial, pois todos estes dias possuem uma característica própria, um sentimento acrescido, uma emoção recordatória. São visitas que se alargam no Inverno e se estreitam no Verão, pois a terra começa a secar e a endurecer à superfície e se nos atrasamos essa secura vai-se estendendo pelo interior podendo chegar até à raiz e tornar irreversível o fenecimento da planta que a água alimenta. De qualquer forma, é bom estar aqui, sentado nestes degraus de pedra, coberto pela imensa copa desta árvore grande, olhando a outra margem do rio e o silêncio de reflexão a ser interrompido alguns minutos pelo som abafado de uma composição ferroviária atravessando a ponte, num misto de sonho e nostalgia. Alimentar as plantas, é como alimentar as relações humanas, se nos descuidamos, vão secando, esmorecendo e se o tempo passar demasiado, podem até sucumbir a esse estado de hibernação que as torna uma recordação distante. Estar aqui a observar o horizonte é similar a quando paramos numa montra para apreciar o conteúdo que se guarda para além do vidro. Quando esta matéria transparente se encontra limpa, podemos ao mesmo tempo olhar para o presente e o futuro. O presente aparece-nos no que nos fornece o conteúdo exposto com que nos procuram seduzir o interesse, umas vezes útil, outras nem tanto. Mas no vidro espelhado, podemos também alcançar as imagens exteriores que aparecem na nossa retaguarda. Vemos a nossa composição humana, fisicamente falando. Uns gostam do que vêem, outros censuram a sua própria aparição. Mas atrás de nós, alcançamos o passado, desde o longínquo tempo dos nómadas embrionários ao pretérito recente, onde tribos minoritárias de saqueadores, vampirizam sem lei, uma humanidade tristemente empobrecida, na sua miséria esfomeada, na sua inibição cultural, nos horizontes perdidos de uma esperança que morre amordaçada, aprisionada e torturada por aqueles que se apoderaram do mando de Estados inteiros. Usam palavras doces, ou a agressividade dos ignorantes, conforme a estupidez do sátrapa que rege as instituições civis e armadas. A cultura, nos seus maís ínfimos pormenores é sequestrada em sótãos sem ar nem luz, amarrotada pela estupidez de arcontes de um poder bastardo. É verdade, que no meio deste horror, também nos aparece a beleza, material e humana. Quando atravessamos o lago Aisén, sentimos as emoções nessa impotência de se expressarem, esmagadas pela beleza inquietante, nessa mistura da água, da terra e do silêncio. As lágrimas correm-nos pela face perante o estonteante cenário de perfeição da natureza, num desses momentos que certamente levaram um dia Sophia a exprimir-se, «Obrigado Deus, por ter existido» e no entanto, quando desembarcamos e voltamos à realidade, surge-nos em esplendor diabólico a maldade humana e os seus intérpretes. Sorridente entre os «mordomos do universo todo, mandadores sem lei», surge o democratíssimo príncipe saudita, Salman de sua graça, a esquartejar jornalistas, o errático Donald, num dos seus momentos de imbecilidade esclarecida a perguntar, «quantos vão morrer? Cento e cinquenta? É muito, arranjem outro bombardeamento com menos mortos», como uma ementa que se apresenta, uma sobremesa que se serve. Ah!, depois descobrem que afinal Einstein batia na mulher. Afinal, o sábio, o génio, tinha as suas fraquezas, mas não sei se quem pretende agora ganhar dinheiro com esta revelação da maldade humana que se esconde também entre os melhores, não cometeu também a sua própria maldade, ignorando que a sérvia Milena Maric Einstein foi também ela um talento no estudo da Física. Numa madrugada de Abril, um soldado caminha sozinho entre o empedrado de uma rua da capital de um império que se desmorona, enquadrado pela enormidade de dois carros de combate que dominara com a palavra e a certeza da justiça. Trinca o lábio para não chorar, comovido pela grandeza do feito acabado de realizar. Sente o peso da história sem se aperceber totalmente do passo significativo que deu e ajudou um povo inteiro a libertar-se das trevas do mal. Já quase todos o esqueceram e muitos não o conhecem. Lembro nestas imagens que passam o tempo da nossa juventude, não com a auréola da melancolia, mas antes com a vontade de que as maldades não se repitam, não esfrangalhem este sonho que se ergueu, esta utopia que não deixamos de prosseguir, como amantes que resistem às adversidades, aos encontrões da vida, aos obstáculos que monstros de fato e gravata, vão semeando pelo chão do caminho. Fiquemos pela quimera do impossível, como uma caravela que procura entre o infinito azul, o porto onde residem, as células da alegria que não permitirão que a iniquidade espalhe o esterco da sua imundície. O sol declina, a tarde amaina no seu aquecimento o fim do dia aproxima-se de mansinho. É tempo de retirada. Havemos de chegar ao nosso porto de destino.

Após a audição de Joe Berardo na Assembleia da República, tive de rever a teoria de Marx sobre a existência de classes, pelo menos no caso português. A sociedade portuguesa divide-se em duas classes, os inteligentes e os espertos e entre estes uma sub-classe, a dos trafulhas. Há também um sub-grupo de gente honesta, mas não faz parte da história.

O comum dos portugueses sabe que as PPPs rodoviárias são um caso de polícia. Há semanas atrás, a chamada comunicação social, noticiava que os Linos, os Mendonças e os Campos iam ser constituídos arguidos, dez anos depois. Mas não foram e o crime vai ficar impune.

Quando a Esquerda reclama para a Lei de Bases do SNS, a gestão pública, é acusada de ideologia. Quando a Direita reclama que a ganância dos privados aceda também ao bodo de milhões que vale o SNS, dizem que é no interesse do país. 

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