StatCounter

View My Stats

01/06/19

A FÚRIA E O EFEITO BERARDO

Mário Faria


(Joe Berardo)


Começou em Paris, ou por lá perto, a contestação a Macron. Um grupo de descamisados desceu a terreiro, com alguma violência, para contestar as políticas do presidente e expressar, de forma contundente, que são gente e contam para o totobola. Os representantes dos donos disto-tudo chegaram-se à frente e tomem lá 100€ e vão na paz dos senhores que ditam as regras e guardam o ouro. Os Coletes Amarelos atenuaram a fúria mas a revolta não foi extinta. Prevejo novos impulsos e combates contra a ordem estabelecida. A raiva anda no ar e promete muita contestação. Os sindicatos tradicionais seguem à distância a revolta daquela gente sem cor politica que ameaça reagir de forma contundente e sem aviso prévio numa fase em que o poder ainda não encontrou um qualquer antidoto para combater as enormes desigualdades que alimentam a raiva que se vai instalando, esquecendo que essa gente de pé descalço tem, hoje, “condições para controlar cada parte das vossas vidas”. E o tsunami social aqui tão perto.

Neste jardim plantado à beira mar, muito arreliado pelas contestações vinda dos doutores, juízes, professores, enfermeiros e outros camaradas com direito a mais influência e reconhecimento social e prioritariamente do sector público, deu à costa um grupo de motoristas de transporte de matérias perigosas (associados ao SNNMP) que resolveu avisar com toda a força: queremos mais e ou comem todos, ou não há distribuição de combustíveis para ninguém. Os motoristas em causa vencerão baixos salários. O Governo decretou serviços mínimos que foram cumpridos. Percebo a raiva dos mais fracos e reconheço o direito a lutar por condições justas de trabalho. Os donos da coisa, como sempre, ficaram muito chateados com a desordem que abusivamente se intrometeu no serviço e nas vendas; enquanto isso, as populações demasiado dependentes dos combustíveis, sofrem para garantir a gasolina ou o gasóleo de que depende o seu trabalho.

De regresso à Pátria, tomei nota pormenorizada desta greve no táxi que me trouxe a casa. E fiquei incomodado. A calmaria da Suécia ficou para trás. No dia seguinte a TV dava conta das filas para chegar ao combustível e tanta gente sem lá chegar e outra já a caminho de outra gasolineira mais a Norte ou a Sul que um camarada lhe indicou. Por essa altura e depois de acompanhar os noticiários, deixei de ter qualquer dúvida quanto à justeza da luta. Não sei quem são, nem reconheço o Sindicato a que pertencem, mas esta luta acompanha a raiva que espoletou em França. Um grito que anuncia que são gente, têm poder e reclamam por respeito e salários condignos. E venceram.

Voltando a França recordo que depois de Maio de 68 e da enorme influência que teve nos jovens e nos trabalhadores que os acompanharam, De Gaulle ganhou as eleições com vantagem demolidora. Estamos muito próximos de eleições legislativas. A direita saiu derrotada das eleições para o Parlamento Europeu mas o governo de Costa está longe da maioria absoluta e tem dado muitos tiros nos pés. Continuamos (muito) dependentes dos bons ofícios europeus e a Geringonça tem aberto brechas. Fica por saber se a prioridade de combater a direita prevalecerá ou se uma qualquer desgraça mal combatida vai crucificar o PS.

Escrevi grande parte deste texto no vaivém de estar junto dos netos emigrantes e tive a oportunidade de acompanhar as eleições que ocorreram há dias e foram muito pobres em ideias e de combate a roçar o ódio por parte do PSD e do sócio CDS. No meio dessa pobreza, os representantes da CDU e do Bloco estiveram quase sempre bem e essa constatação cobriu um largo leque de personalidades e de comentadores. E de mim, para que conste. 

Mas, nem tudo correu bem à CDU. Diria mesmo que borraram a escrita quando se lembraram de convidar Filipe Vieira, o Kadafi dos Pneus, para estar presente no jantar de fecho da campanha. Ricardo Araújo Pereira montou, na TVI, uma rábula sobre a ocorrência e a similitude entre Berardo e Filipe Vieira e as dividas que não pagam porque não devem dinheiro a ninguém. Não havia necessidade, camaradas.




Sem comentários:

View My Stats