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01/04/19

MEMÓRIA E RESISTÊNCIA

Manuel Joaquim


Peniche, Museu Nacional da Resistência e Liberdade



O núcleo do Porto da União dos Resistentes Antifascistas Portugueses vai realizar uma excursão, no próximo dia 27 de Abril, ao Forte de Peniche para participar na inauguração do Museu Nacional da Resistência e Liberdade, “uma vitória alcançada de uma luta pela Memória e Resistência”.

Centenas de resistentes ao fascismo passaram pelas celas do Forte de Peniche. Em Janeiro de 1960 deu-se uma fuga histórica com repercussões mundiais. Falou-se de barcos e de submarinos que teriam participado no apoio à fuga dos fugitivos daquela prisão de alta segurança. Simplesmente a capacidade de organização e a inteligência daqueles Homens é que lhes permitiu tal proeza.

Devemos ter na memória outro local de terror que o fascismo manteve durante muito tempo a funcionar em Cabo Verde. O movimento de contestação que entretanto se desenvolveu a nível mundial obrigou os fascistas a fechá-lo. Mais tarde, durante a guerra colonial, foi novamente aberto para prender lutadores pela liberdade das ex-colónias. O responsável pela sua reabertura ainda está vivo e é uma alta personalidade política. 

Ary dos Santos escreveu um poema dedicado aos mortos-vivos do Tarrafal. O texto obtive-o das mãos da Dra. Fátima Silva numa aula de História. Pela sua importância faço a sua transcrição.

AOS MORTOS-VIVOS DO TARRAFAL – ARY DOS SANTOS

Ao cabo de Cabo Verde
dobrado o cabo da guerra
quando o mar sabia a sede
e o sangue sabia a terra
acabou por ser mais forte 
a esperança perseguida
porque aconteceu a morte
sem que se acabasse a vida.
Ao cabo de Cabo Verde
no campo do Tarrafal
é que o futuro se ergue 
verde-rubro Portugal
é que o passado se perde
na tumba colonial, 
ao cabo de Cabo Verde
não morreu o ideal.
Entre o chicote e a malária
entre a fome e as bilioses
os mártires da classe operária
recuperam suas vozes.
E vêm dizer aqui
do cabo de Cabo Verde
que não morreram ali
porque a esperança não se perde.
Bento Gonçalves torneiro
ainda trabalhas o ferro
deste povo verdadeiro
sem a ferrugem do erro.
Caldeira de nome Alfredo
fervilham no teu caixão 
contra o ódio  e contra o medo
gérmens de trigo e de pão.
E tu também Araújo
E tu também Castelhano
E também cada marujo
Que morreu a todo o pano.
Todos vivos! Todos nossos!
Vinte trinta cem ou mil
nenhum de vós é só ossos
sois todos cravos de Abril!
No campo do Tarrafal
no sítio da frigideira
hasteava Portugal 
a sua maior bandeira.
Bandeira feita em segredo
com as agulhas das dores 
pois o tempo do degredo
Mudava o sentido às cores:
O verde de Cabo Verde
o chão da reforma agrária
e o Sol vermelho esta sede 
duma água proletária.
Do cabo de Cabo Verde
chegam tão vivos os mortos
que um monumento se ergue
para cama dos seus corpos.
Pois se o sono é como o vento
que motiva um golpe de asa
é a vida o monumento
dos que voltaram a casa


José Carlos Ary dos Santos (poema feito aquando da trasladação para Portugal dos restos mortais dos 32 resistentes assassinados no Tarrafal)



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