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01/12/18

LIÇÕES PARA O PRESENTE

Mário Martins


http://www.elsinore.pt/livros/21-licoes-para-o-seculo-xxi



Os seres humanos pensam através de narrativas e não através de factos, números ou equações, e quanto mais simples a narrativa, melhor.”

“As políticas democráticas, os direitos humanos e o capitalismo de mercado livre pareciam destinados a conquistar o mundo inteiro; mas, como de costume, a História tomou um rumo inesperado, e, depois de o fascismo e o comunismo colapsarem, agora é o liberalismo que está em apuros.”

“Se o liberalismo, o nacionalismo, o Islão ou qualquer outro credo novo quiser moldar o mundo do ano 2050, terá não só de conseguir explicar a inteligência artificial, os algoritmos da Big Data* e a bioengenharia como também de os integrar numa nova narrativa com sentido.”
Yuval Noah Harari

Este novo livro de Harari anda à volta de uma preocupação central: “a crise ecológica iminente, a crescente ameaça das armas de destruição maciça e o surgimento de tecnologias disruptivas” tornam premente o debate sobre “as limitações da democracia liberal, e de que modo podemos adaptar e melhorar as suas instituições actuais”, já que, se não o fizermos, “a mão invisível do mercado vai impor-nos a sua resposta cega”. Explica o autor que “grande parte do livro analisa as falhas da mundividência liberal e do sistema democrático, não por julgar a democracia liberal particularmente problemática, e sim por pensar que se trata do modelo político mais bem-sucedido e versátil que os seres humanos já desenvolveram para enfrentar os desafios do mundo moderno.”

Harari preocupa-se, desde logo, com a questão do trabalho ou do emprego. Embora ironize - “quando fores grande, talvez não tenhas profissão” -, reconhece que não tem a menor ideia de como será o mercado de trabalho em 2050. Em todo o caso, defende que “para lidarmos com as disrupções tecnológicas e económicas inéditas do século XXI, há que desenvolver novos modelos sociais e económicos o quanto antes; estes modelos devem reger-se pelo princípio da protecção das pessoas e não dos postos de trabalho”, conceito que, segundo o autor, está já a ser posto em prática na Escandinávia. “E se apesar de todos os nossos esforços uma percentagem significativa da Humanidade for empurrada para fora do mercado de trabalho, podemos ter de explorar novos modelos para sociedades pós-trabalho, economias pós-trabalho e políticas pós-trabalho”. Com efeito, Harari admite que “em 2050 pode surgir uma classe ‘inútil’ não apenas devido a uma total falta de empregos ou de habilitações relevantes, mas também devido a uma falta de resistência mental (às mudanças abruptas e cada vez mais aceleradas a que as pessoas serão sujeitas)”. Neste quadro, profissões como as de psicólogo e de psiquiatra não correrão perigo de extinção…

Outra preocupação do autor é a vaga nacionalista em curso: “Hoje temos uma ecologia mundial, uma economia mundial e uma ciência mundial – mas ainda estamos presos a políticas nacionais (…) Não sendo possível desglobalizar a ecologia e a marcha da ciência, e dado que o desglobalizar da economia teria custos proibitivos, a única solução viável é globalizar a política. Isto não implica, no entanto, o estabelecimento de um ‘governo global’ (…) significa apenas que as dinâmicas políticas dentro dos países – e até cidades – deveriam colocar muito mais ênfase nos problemas e interesses globais.”

Harari alerta que “os algoritmos da Big Data  podem criar ditaduras digitais em que todo o poder se concentra nas mãos de uma pequeníssima elite, enquanto a maioria das pessoas sofre não devido à exploração, mas devido a algo muito pior: a irrelevância.”; e conclui: “Se o futuro da Humanidade se decidir na nossa ausência – porque estávamos demasiado ocupados a alimentar e a vestir os nossos filhos -, tanto eles como nós não ficaremos imunes às consequências. Isto é muito injusto; mas quem disse que a História é justa?”

O autor aconselha, enfim, que não entremos em pânico (que, para ele, é uma forma de soberba de quem “sabe” que nos espera o fundo do poço) e que, em vez disso, adoptemos uma atitude de perplexidade, própria de quem não compreende o que se passa no mundo. Afinal de contas, a crédito de uma razoável confiança no futuro, podemos convocar o extraordinário poder de adaptação da Humanidade revelado até agora e as previsões apocalípticas de todo o tipo que ficaram pelo caminho. 

*grande conjunto de dados que só as novas tecnologias da informação permitem recolher, armazenar a analisar.

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