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01/11/18

A APARIÇÃO

António Mesquita

"A APARIÇÃO"  (de Xavier Giannoli)

Um jornalista (Vincent Lindon) reputado pelas suas reportagens de guerra e que acaba de perder o seu melhor amigo numa missão de alto risco, responsabilizando-se por isso, enfrenta uma grave crise que o leva ao desespero e ao isolamento. É nesse momento que é convidado pelo Vaticano, para fazer parte duma comissão de inquérito aos acontecimentos numa povoação do sul da França que envolvem uma freira noviciada de 17 anos (Galatéa Bellugi) que alega ter tido um encontro com a Virgem. Essa aparição tinha se tornado em pouco tempo um fenómeno internacionial, arrastando multidões de crentes, e à volta da 'visionária' e do padre local (desautorizado pela hierarquia) multiplicaram-se os negócios e os oportunistas dispostos a explorar essa espécie de turismo  e a fé dos crentes.

Jacques Mayano entrega-se a essa investigação, com a mesma escrupulosa perseguição dos factos que o tornaram famoso, factos que desta vez se escondem por detrás da sinceridade comovente da heroína e do ilusionismo de alguns charlatães.

Uma empatia estranha se manifesta, entretanto, entre a freira e o jornalista. Ele, querendo fugir aos clichés, mas nunca satisfeito com as respostas 'toutes faites' que Anna lhe oferece. É o passado dela, sobretudo, que levanta mais questões, e do qual Jacques procura a revelação.

Este método, é escusado dizê-lo, é-lhe sugerido pelo interesse apaixonado em resolver o seu próprio impasse. Como viver com a culpa de termos falhado à pessoa que mais queremos e causado com isso a sua morte? É nas fotografias e cartas antigas de Anna que Jacques descobre o silêncio gritante sobre uma amizade especial (uma amizade 'fusional' diz uma testemunha). Meriem desapareceu da comunidade, com o bebé e um tal Pavel, depois de uma experiência traumática que a história nos leva a identificar com a alegada aparição. Terá sido Meriam a ter a visão (para ela assustadora) que não pôde 'racionalizar', nem, por outro lado', identificar com o 'sagrado', e que Anna, a orfã, chamou sua, como se tivesse visto com os seus próprios olhos. Quer dizer, tomou a experiência do outro no sentido que mais razão dava à sua própria existência, como um destino. A sua única dúvida era, como diz a Jacques, se seria digna de sofrer até ao fim.

Anna acaba por morrer 'em santidade', colocando a questão das provas ao nível da futilidade. E, no entanto, pode dizer-se que escondeu a verdade, porque ela não era Meriem.

A psiquiatra da comissão de inquérito não lhe encontrou nenhuma disfunção psíquica. De qualquer modo, não nos satisfaria um diagnóstico de loucura.

Jacques Mayano, depois da revelação do segredo de Anna e de Meriem, é capaz de vencer a sua crise existencial e de encontrar uma saída para o seu sentimento de culpa.

Mas o filme mostra que não foi a imparcialidade que lhe fez compreender a 'vidente', nem a sair do seu desespero.

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