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01/06/18

PRESENÇA TUTELAR

António Mesquita
"O pecado mora ao lado" (1955-Billy Wilder)




"Arendt era para ela uma referência intelectual permanente, uma via que lhe permitia penetrar na cultura europeia, uma presença tutelar, por vezes maternal, revestindo-se de um olhar de censura. É significativa a revelação de McCarthy na carta de 8 de Dezembro de 1954, na qual confessa sentir o peso da presença de Arendt enquanto escreve algumas cenas de sexo e de sedução no seu romance 'A Charmed Life'."

"Nas teias de uma amizade: Hannah Arendt e Mary McCarthy" (Maria Luísa Ribeiro Ferreira)

Pergunto-me se alguma vez se poderá descrever o que nos põe fora de nós mesmos, como os transportes de amor ou as guinadas com que o segundo cavalo de Platão põe à prova a firmeza da nossa mão, sem uma "presença tutelar", a que podemos chamar também consciência ou super-ego, mas que é muitas vezes, simplesmente, uma pessoa que admiramos, normalmente mais velha.

Sinal, por um lado, que o sexo (mas não só o sexo) não pode ser "libertado" (Eros era, afinal, um deus menor, se bem que poderoso) e que mesmo antes da moral cristã e do puritanismo vitoriano ou outro existia, na Antiguidade, um limite chamado pudor.

E, por outro, que a pornografia não é a ultrapassagem desse limite, mas outra coisa. A sua natureza é a duma destruição da linguagem (esse podia, aliás, ser o critério para a distinguir do erotismo).

A "presença tutelar", sob qualquer das suas formas, é justamente o que liberta a linguagem. Nunca somos mais imaginativos como quando temos de contornar uma regra. Veja-se a maravilha daquela cena de "The seven year itch".

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