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01/05/17

MUROS



Manuel Joaquim



(Papo de Homem-37 muros que separam o mundo)

Notícias muito recentes dizem que o muro que os EUA estão a construir na fronteira com o México já não vai ser finalizado, não só por falta de dinheiro, mas também pelas crescentes contestações internas e externas e por alteração das posições do presidente Trump, que hoje já não é novidade. De facto o presidente, com cem dias de mandato, tem dito e feito o contrário do que prometeu no decurso da campanha eleitoral.

Reclamou a existência de duas Chinas, a China continental e Taiwan, mas passou a reconhecer uma só China, depois das palavras públicas desta. Pretendeu revogar os acordos de livre comércio, mas já declarou que são para manter. Tentou revogar o serviço de saúde criado por Obama, o ObamaCare, depois de derrotado internamente, vai mantê-lo. Pretendeu revogar os acordos de comércio com o México, mas já desistiu da ideia. Disse que tomava a iniciativa de resolver sozinho o problema da República Popular Democrática da Coreia. Fez deslocar para as suas costas, para a Coreia do Sul, para o Japão e outros países da região, uma quantidade enorme de material de guerra, incluindo três porta-aviões, mas até agora, aparentemente, não aconteceu nada. Ou, por outra, aconteceram “conselhos” da China e da Rússia, para não se meter em alhadas. Muito recentemente a China aconselhou a RPDC a não fazer mais testes nucleares para não dar pretextos e aconselhou os EUA a suspender simultaneamente os exercícios militares que estão a realizar com a Coreia do Sul e Japão para não serem considerados uma provocação. Se as partes em conflito aceitarem esta proposta, poderá resultar a Paz. Se não, é a guerra com consequências imprevisíveis para toda a humanidade.

São assuntos que se discutem superficialmente na comunicação social, acrescentados com as palavras polémicas de um ilustre dirigente da EU, com o terrorismo e com as eleições francesas, neste caso distorcendo a realidade social e política da França com o objectivo de servirem determinado candidato. 

Falou-se no referendo na Turquia, não dizendo claramente o que estava em causa e os resultados foram notícia de momento. Não se falou nem se fala nas dezenas de milhares de turcos que estão nas cadeias, sem julgamento, no encerramento de dezenas de jornais, revistas e outros, nos saneamentos nas forças militares, nas escolas, na função pública, etc. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Santos Silva, veio dizer que com o referendo estava em causa a adesão da Turquia à EU. Palavras tristes, esquecendo que Portugal fascista aderiu à Nato e à EFTA. 

Deixou-se de falar nos refugiados, no cemitério que é o mar Mediterrâneo. Omite-se quanto dinheiro recebe a Turquia da EU para bloquear a passagem de refugiados e emigrantes para a Europa. 

Nada se diz sobre quanto recebe Marrocos pela prisão de refugiados e emigrantes que tentam passar e o destino que dá a essas pessoas. Marrocos é aqui à nossa porta e muito pouco sabemos. Marrocos mantém a última colónia de África que é o Sahara Ocidental. Este território foi abandonado pela Espanha em 1976. Três anos antes a população fundou um partido político, a Frente Polisário, para obter a independência da Espanha. Mas Marrocos e Mauritânia repartiram o território entre si. A Frente Polisário foi para a guerra. Dezenas de milhar de pessoas exilaram-se e criaram acampamentos junto à fronteira com a Argélia. O rei de Marrocos iniciou a construção de um muro que tem 2.700 quilómetros de comprimento, com postos militares na sua extensão e todo o terreno armadilhado, pelo lado saharaui, dizem 7 milhões de minas. Milhares de presos políticos torturados e assassinados. Homens, mulheres e crianças. Em 1991 a Frente Polísário e Marrocos efectuaram um acordo de Paz com o apoio da ONU e um compromisso para organizarem um referendo de autodeterminação. Mas nunca foi cumprido e a comunidade internacional foi-se esquecendo. O muro continuou. É o chamado “Muro da vergonha”. Depois da muralha da China é o maior. Tanto barulho foi feito por um muro que não tinha 20 quilómetros de comprimento mas que certamente, na altura, evitou uma terceira guerra mundial. Tanto barulho tem dado o muro do Trump iniciado por anteriores presidentes. Sobre o “muro da vergonha” ninguém sabe. As grandes riquezas existentes, designadamente fosfatos, pesca, leva a muitos esquecimentos. António Guterres tem este processo para resolver.


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