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01/05/13

O SISTEMA DESLIGADO

António Mesquita

 

"Poderá haver alguma dúvida de que os omnipresentes retratos do líder nacional em sociedades ditatoriais não só transmitem a sensação de que o 'Big Brother Está a Ver' mas que também conduz a uma efectiva redução do pensamento espontâneo e da acção independente?"

(Daniel Kahneman. "Pensar, depressa e devagar")


Parece que Kim Jong Un é considerado um semi-deus pelos seus compatriotas. Não é que as pessoas realmente pensem isso. O segredo está em que o ambiente circundante 'desliga' o pensamento crítico (do eu consciente, ou 'Sistema 2'), quanto mais não seja por economia de forças, e o 'Sistema 1', como Kahneman lhe chama, isto é, a intuição e os processos 'automáticos', fornece todo a 'regulação' necessária aos indivíduos.

Não é uma novidade das ditaduras modernas. A Idade Média viveu mil anos nesse condicionamento. Porque, na verdade, pensar não é o natural, o que é natural é procurar-se uma vida sem problemas. A Idade Média tinha todas as respostas e vigiava com zelo inquisitorial as perguntas 'políticas'. E o modelo da polícia política deve procurar-se na religião prepotente.

Por isso é que esses regimes se fecham sobre si mesmos. Formam o seu 'todo' (totalitário vem daí) e a sua imunidade à influência exterior. Ora essa prática e essa mentalidade são incompatíveis com o mundo da instantaneidade e da comunicação global.

Não deixam de ser o exemplo vivo de que é sempre possível condicionar os homens através do seu ambiente. Não se duvida que as atitudes mais irracionais possam parecer justificadas num ambiente de complexidade artificialmente reduzida.

O pensamento crítico e o culto da razão pertencem à tradição de uma elite e só alcançaram uma espécie de superstição popular através dos 'milagres' da ciência e, sobretudo, das suas aplicaçōes práticas. Não é coisa profunda, nem garantida. Como se viu no colapso da Alemanha, no século passado.

 

 

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