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01/08/11

MUROS RELIGIOSOS (3) - A Igreja Católica

Mário Martins
Basílica de São Pedro em Roma (Wikipédia)



“A Igreja Católica sabe que o que disse e fez no decurso da história nem sempre é conforme ao que há de mais autêntico na sua própria tradição.”
Jean Rogues *


No seu uso corrente (sociológico), que data do século XVI, a palavra “católico” designa os fieis ou as instituições ligadas a Roma, isto é, apenas uma parte da Igreja de Cristo (…) O catolicismo é, portanto, concretamente, o conjunto dos cristãos e das comunidades cristãs que reconhecem a jurisdição do bispo de Roma, a quem chamam papa. Assim entendido, ele constitui no seio da realidade cristã uma história e, ao mesmo tempo, uma maneira de compreender o cristianismo: a história da instituição chamada Igreja Católica e a maneira de compreender o cristianismo constituída por inflexões doutrinais características, relativamente às quais as outras famílias cristãs guardam, em maior ou menor grau, as suas distâncias. *

A partir de que época podemos falar de catolicismo? No essencial, aquilo que é propriamente a sua vida tem origem, evidentemente, nas primeiras Igrejas, quando as testemunhas imediatas da vida e da pregação de Jesus ainda estavam presentes. Mas, no que o distingue das outras Igrejas cristãs, não se pode verdadeiramente falar de catolicismo senão após a cisão entre Oriente e Ocidente (Roma e Constantinopla), habitualmente datada de 1054. *

De um modo que certamente surpreenderá alguns leitores, achamos que podemos definir a cultura “teológico-espiritual” que assinala o catolicismo como uma antropologia “confiante”, poderia até dizer-se optimista. *

(…) podemos falar sem dúvida de um consenso da comunhão católica quanto às afirmações seguintes:

    -  o pecado, ao falsear a imagem de Deus no homem, não a destruiu completamente; ao ferir a sua liberdade, não lha retirou completamente;
    -  a afirmação da gratuitidade da salvação não nos impede de falar dos méritos do homem, desde que se entenda que as acções boas que ele pode praticar são também elas fruto da graça; é de certo modo a ideia de uma gratuitidade em segundo grau, em que Deus dá ao homem a capacidade de merecer;
    - a obra dos homens - crentes ou não - contribui para a edificação do Reino na medida em que é conforme ao desígnio de Deus tal qual é explicitado no Evangelho;
    - introduzida, após a morte, no Reino de Deus, a pessoa humana tem acesso à plena estatura da sua humanidade e, nela, os frutos do Espírito são plenamente fecundos. *

Uma estrutura de Igreja garante da fidelidade às origens é, com esta antropologia “confiante”, a segunda característica específica do catolicismo entre as confissões cristãs. Na estruturação da Igreja é preciso distinguir o escalão local - as comunidades cristãs e os ministérios diferenciados que têm o encargo de as animar - e a vasta organização mundial, hoje fortemente estruturada em torno do bispo de Roma. *

A evolução do catolicismo, em especial no decurso do último milénio, seguiu uma linha constante, apesar de alguns altos e baixos. O poder do patriarca do Ocidente aumentou: um ministério de vigilância ao serviço da comunhão das Igrejas locais foi substituído a pouco e pouco por um ministério de autoridade directa sobre essas Igrejas; por outras palavras, o poder foi cada vez mais centralizado. *


* “As grandes religiões do mundo”, Jean Rogues, Direcção de Jean Delumeau, 1993, Editorial Presença, 2002.

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