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01/04/11

O HUMOR COLECTIVO


António Mesquita


“Aquilo que começou por um movimento de trabalhadores precários começa a parecer-se com um Tea Party.”

(Vitor Malheiros no “Público” de 15/3/2011)



Serão as manifestações espontâneas que podem ser, de facto, enormes, como se viu, um movimento de humor colectivo, sem ideias e por isso sem futuro?

A imagem do colectivo como um Grande Animal, mais movido pelo ventre do que pela cabeça (ou não fosse filha desta teoria a da hidra de mil cabeças) vem de Platão.

Não podemos ficar indiferentes a estes movimentos (que podem representar uma ameaça para todos quando um demagogo se põe à frente do cortejo), mas estamos habituados aos canais habituais para a transmissão de ideias e  nunca vimos uma multidão pensar. É sintomático do vazio ideológico propor a substituição dos partidos por coisa nenhuma e reivindicar um modelo económico alternativo sem ter ideia do que isso possa ser.

O movimento revela uma atitude singularmente acrítica em relação ao funcionamento do capital, dos mercados financeiros e das empresas em geral. E a defesa dos trabalhadores aparece mais associada a ataques aos políticos e ao Estado que a críticas aos patrões.” (ibidem)

Como expressão do descontentamento é evidente que o movimento “Facebook” de 12 de Março é um fenómeno novo e nenhum governante o pode deixar de ter em conta. Os partidos, de resto, procuraram “puxar a brasa para a sua sardinha” e ampliar o fundado das suas críticas de oposição. Mas o que isso representa em termos de acção política é pouco mais que atmosférico. É natural que ninguém goste de fazer sacrifícios, a não ser os masoquistas. E esses sacrifícios parecerão necessários enquanto alguém não disser como poderão ser evitados, dentro ou fora do quadro político-económico actual. Além disso, é sabido que, numa sociedade desigual, os sacrifícios nunca representarão o mesmo para todos e que uma revolução (se se soubesse em que direcção) poderia ser o caminho mais curto para diminuir as desigualdades, mas seria o mais doloroso em termos de sacrifícios.

É assim que o 12 de Março surge como um fenómeno conjuntural, inspirado nas revoltas árabes contra a ditadura e nos seus novos métodos  e numa espécie de hino lançado nem há dois meses por um grupo musical de segunda ordem. Fenómeno que anuncia, talvez, o que pode significar uma “democracia” electrónica com testes imediatos à popularidade das políticas e dos políticos e que não se compadece com os prazos constitucionais, nem com quaisquer direitos de representação, para exigir mudanças.

Ficamos com uma ideia, depois do incrível sucesso do 12 de Março, do que pode o humor do colectivo, mesmo se não há uma ditadura para derrubar, nem existe a sombra duma ideia política. 


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