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01/05/25

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OS ANÕES DA POLÍTICA

Manuel Joaquim

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Num tempo em que anda muita gente perturbada sem compreender o que se está passar quer por deficiente informação quer por mentiras publicadas, a vida das pessoas, tal como a conhecemos, está a atravessar sérios riscos. As dificuldades crescentes em muitos sectores da economia, com as muito pequenas e médias empresas e as grandes a entrarem em declínio económico e financeiro com tendência a agravar-se rapidamente, vai provocar muitas falências e o aumento consequente do desemprego com tudo o que ele arrasta.

A tentativa de manter a economia através de gastos no militarismo só responderá aos interesses dos grandes grupos económicos dos países mais importantes, particularmente dos EUA, da Alemanha e da França. Os restantes serão apêndices. Esses gastos não terão efeitos reprodutores, serão para queimar, para destruir.

O Secretário-Geral da Nato, Mark Rutte, veio a Portugal, para dizer que é preciso cortar nas pensões, nos salários, na saúde para gastar em armamento. O ministro da defesa, Nuno Melo, acusou todos aqueles que dizem que vai haver cortes nas pensões, nos salários, na saúde são demagogos e não sabem o que dizem porque não vai haver quaisquer cortes por causa dos gastos no armamento. Depreende-se das palavras do ministro da defesa, Nuno Melo, que o Secretário-geral da Nato é um demagogo e um grande mentiroso.

O que se sabe desde já é que o governo já apresentou ao Comité Económico e Financeiro do Conselho da União Europeia a intenção de activar a cláusula de escape nacional para aumentar o investimento no valor de 1,5% do PIB, sem comprometer o cumprimento da regra da disciplina orçamental do Pacto de Estabilidade e Crescimento, conforme pediu o executivo comunitário, no âmbito do armamento da Europa. O reforço em gastos com a defesa de 1,5% do PIB obrigará o governo a orçamentar mais 4.500 milhões de euros ao longo de 4 anos. Esse dinheiro não será contabilizado como défice excessivo. Mas mais cedo do que tarde terá que ser pago a quem emprestar com os inerentes juros. Mesmo com muita propaganda a realidade acabará por se impor e a narrativa ficará cheia de buracos. Os anões da política devem ser desmascarados.

Quando o valor passar para 2% ou mais como vai ser?

NO CORRER DOS DIAS

Marques da Silva



Vladimir. Caminho para a estação no alvorecer do dia. A cidade acorda com lentidão e um silêncio harmonioso plana sobre as ruas e os jardins arbóreos da cidade. O grande edifício de verde esmeralda sobre o claro domina o espaço envolvente e o longo comboio estende-se pelo cais como se acordasse há momentos. Atravessamos o Ob com vagar, escutando os rodados a vencer cada união dos trilhos com um plac, plac cuidadoso. Os rios siberianos são largos, lentos e volumosos na primavera. Assim é este rio, o Ob que atravessa Novosibirsk a caminho do mar de Kara no Árctico. As pontes ferroviárias que atravessam estes cursos de água são semelhantes, equilibradas por amplos semi-círculos de ferro e os pilares maciços em pedra dura. Será assim nas travessias do Volga do Irtich e do Kama, nas cidades que vou olhar desta janela onde encosto a cabeça numa mistura de curiosidade e de sonolência, mas resisto em sair para viajar pelas suas ruas e jardins. Umas de criação recente, do século XVIII, outras de idade longínqua nos primórdios da Idade Média. Em Omsk ao atravessar o Irtich não podemos deixar de pensar no exílio de Dostoievski. Esta cidade era então o centro urbano de maior relevo na Sibéria, mas estava longe ainda de conhecer a expansão subsequente. Na sua obra “Recordações da Casa dos Mortos” apercebemo-nos do rigor que era então viver na taiga siberiana, mas quando hoje atravessamos estas planícies e tentamos penetrar na alma destas aldeias, apercebemo-nos que a realidade está para além da vivência que colhemos do relato da sua leitura. Continua a não ser fácil viver nestas paragens, mesmo com o bem-estar que é possível obtermos neste século XXI, caracterizado por ondas de violência que assustam a humanidade. O caminho até à próxima grande cidade é longo e as locomotivas que rebocam estas 11 carruagens entram numa cadência que amolecem a vontade e incitam o pensamento. Às extensas rectas, seguem-se curvas abertas para ambos os lados, a linha em certos locais está pousada sobre aterros elevados e as suas margens enchem-se de árvores e arbustos, por vezes distribuídos em florestas densas e impenetráveis ao olhar. Exige esforço pensar na vivência humana nestas paragens, mesmo quando no meio do nada, se aqui faz sentido esta expressão, nos surge uma aldeia de casas baixas de madeira e os apeadeiros mostram-se tão isolados que não é possível atribuir-lhe nome de lugar, assumem como indicativo o número quilométrico da linha. Observando e pensando, bate-nos no rosto com violência a enorme contradição que em todos os tempos se vive, entre a beleza, o sonho e a maldade, a infâmia e a perfídia humanas. Quando levamos já milhares de anos de História, a humanidade chega a este tempo, subjugada por uma quadrilha de criminosos fanáticos, supostamente religiosos que não apenas se apoderaram de um território, como submeteram o colectivo humano planetário a aceitar como banalidade o extermínio de um povo em directo. As democracias coloniais contemplam o massacre num campo de concentração a céu aberto com a placidez e a bonomia de quem assiste a uma corrida de gansos num lago ajardinado. E esse auto-denominado «Ocidente colectivo», estende passadeiras vermelhas e recebe nos seus palácios os responsáveis dessa horda, pese embora o estrume que irradiam do seu vocabulário infesto e infame. Tocamos no fundo do horror, da violência à solta de uma escumalha que se acredita dona do planeta. As elites europeias mergulhadas na sordidez de um poder monstruoso que erigiram sobre o que denominam, «os nossos valores», navegam na estupidez da burla com que brindam os povos. Os povos na sua infinita sabedoria, chupados, zurzidos e largados na margem da vida, refugiam-se nos antros da extrema-direita, como um náufrago que não sabendo nadar, deita fora o colete salva-vidas convencido que fica com os movimentos mais livres. É o estertor melífluo de cinco séculos de colonialismo que geraram um estado de vida em cima da pilhagem e do roubo. Acordamos deste torpor ao pararmos em Ecaterimburgo. Estamos do lado oriental dos Urais. No fulgor da revolução aqui foi morta a família dos Romanov que pouco antes ainda eram senhores e proprietários de todas as terras da Rússia. Pese embora não se conheçam na totalidade todos os factores que levaram à sua morte, seria hoje impensável que tal pudesse ocorrer. Não que fosse pensável em qualquer época mas a grandeza da fractura  que abrangeu todo o território do império czarista gerou ondas de violência de ambos os lados que permitiram que tal pudesse ter ocorrido. Naturalmente que a morte dos Romanov tal como terá acontecido, não apaga os imensos crimes do reinado deste, e não só este, czar, mas não convém esquecê-los porque a História não apaga registos. A locomotiva, após dois toques breves e um longo, movimenta-se numa lentidão evolutiva, enquanto se mantém a nossa dúvida se devíamos atravessar os Urais em direcção a Perm ou seguir pela Linha do Ural para visitar Cazan, a capital do Tartaristão nas margens do Volga com o seu complexo do Kremlin como Património da Humanidade, a beleza da Catedral da Anunciação ou a sublime formosura da sua Mesquita. Cazan é História, o fluir da história, a passagem dos tártaro-mongóis. Este postal é pequeno para tanto movimento humano. Mas já é tarde para voltar atrás, saímos já da cidade e contornamos os Urais pelo Sul, entramos, pois, na Europa, mas ainda com tanta Ásia, nos costumes, na cultura, nesses elos que ligam a humanidade em qualquer lugar que se encontre. Vencida pelo cansaço, não vi a passagem por Perm nem a longa travessia do Kama. O amanhecer encontrou-me com a composição a atravessar o Volga e a entrarmos em Nijni-Novgorod. Estamos agora a penetrar no espaço da Rússia milenar, nos seus séculos XII, XIII. Foi a partir de Nijni que entre 1611 e 1612, um exército comandado pelo príncipe Dmitri Pojarski e Kuzma Minin se dirigiu a Moscovo e expulsou as tropas polacas que ali se haviam instalado à boleia do usurpador Dmétrio. Em Moscovo sempre se pôde entrar, mas não se pode demorar. Tem sido uma lição repetida, tanto faz que tenham sido os Tártaros-Mongóis, os polacos, Napoleão ou as hordas nazis. Não fosse a nossa vontade de rumar a Norte e esta cidade onde nasceu Maximo Gorki merecia uma longa visita. Ao início da tarde, este comboio que me trouxe subitamente para Oeste, deixa-me na estação de Vladimir. O que aqui vou ver e apreciar fica para outro postal.       

CRENÇAS E CRENDICES

António Mesquita


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Um leitor do Expresso diz  que "não sendo religioso, dos papas que conheci, este é o único que me faz falta" e num artigo do  Público de há dias, diz-se que Francisco era o  papa favorito de católicos e ateus. Porquê esta "unanimidade"?

Os ateus de que acima se fala não são menos crentes do que os verdadeiros católicos. É verdade que não aceitam os dogmas da doutrina nem os ensinamentos da Igreja, mas não deixam de acreditar em coisas como a ciência, no melhor dos casos, ou na opinião pública, no pior. Em quase todos os casos, acreditam em valores comuns que são coisas impalpáveis e não sujeitas a discussão,  mas a afirmação ou negação peremptórias.

A Enciclopédia Britânica, por sua vez, diz que o ateísmo é a crítica ou negação  da crença metafísica em Deus ou em seres divinos. O primeiro materialismo aconteceu na Grécia, com Demócrito e Epicuro. O agnosticismo estaria fundado numa série de sistemas filosóficos e Hume e Kant, no século XVIII, sem serem ateus, contestariam as tradicionais provas da existência de Deus. No século seguinte, Feuerbach e o marxismo, exemplificam o moderno materialismo, explicando a religião como uma projecção humana e Nietzsche proclamou a morte de Deus e a liberdade dos valores. O resumo da EB termina com o Positivismo Lógico e a sua ideia de que as afirmações sobre a existência ou não existência de Deus não têm sentido.

Entretanto, chegou-me às mãos, um livro de 2023, editado pela Relógio de Água,  "Morte e Democracia".   Nele, José Gil diz  diz que a morte está na origem de todas as nossas representações metafísicas. E a morte, muito mais do que qualquer credo religioso,  afirmação ou negação de Deus, com provas ou sem provas,  é-nos intrinsecamente familiar. Ninguém, por mais beócio que se possa imaginar, a desconhece, embora sempre a dos outros. Esse é o ponto.

Há, evidentemente um curioso paralelismo entre a concepção da imortalidade, sob todas as formas possíveis, queremos dizer, a negação do fenómeno da morte  (para aqueles que acreditam na sua fenomenalidade) e qualquer declaração sobre Deus.

Para José Gil, a morte não pode ser pensada (e a dos outros não é a morte, quando muito é a dor e o luto) porque é o nada. E, no  entanto, todos a pensamos sob uma ou outra forma. O filósofo vai mais longe, dizendo que essa operação de pensar o nada e a sua reversão  na linguagem está na origem  da possibilidade de pensar 'tout court'.

O que são as pirâmides do Antigo Egipto, ou os túmulos de Fayum, a oeste do Cairo, como os túmulos dos Azetecas ou as lápides e as inscrições de qualquer  cemitério dos nossos dias? O senso comum vê nisso a memória e o monumento. Assim, erguendo a estela  conferimos uma espécie de segunda vida aos finados, para melhor nos esquecermos deles, sem nos rendermos  ao nada.  Nenhuma civilização conhecida fez outra coisa.

É essa capacidade de dar vida ao símbolo que é mais do que pensamento que nos permite converter o nada em espírito, isto é, o que está por detrás das nossas ideias e dos nossos sistemas,  que graças a isso não são meras abstracções. José Gil, mais uma vez: "Pensar de uma certa maneira numa cadeira supõe que a cadeira não é um banco, uma mesa, etc., isto é, uma não-cadeira. É esta diferença entre um ente e um não-ente que o pensamento concebe como "não sendo nada" de pensável. Eis o grande paradoxo do nada: não é nada, pois não é pensável senão como impossibilidade de ser pensado, e, no entanto, é este nada (e não outro, do género "ausência" ou "privação") que permite todo o
pensar, todo o movimento de pensamento."

No filme de Fritz Lang, "Le Mépris" (1963), citado  por Jacques Drillon, recita-se um poema de Brecht: "Todas as manhãs para ganhar o meu pão/ Vou ao mercado onde vendem mentiras/ E cheio de esperança/ Ponho-me ao lado do vendedor."  O poema chama-se 'Hollywood'.
Passo a palavra a Drillon: "Eis o que eles querem e sempre quiseram; Hollywood. O cinema recria aos nossos olhos um mundo que concorda com os nossos desejos." E Hannah Arendt: "Hoje é quase universalmente admitido que temos de fabricar automóveis para alimentar o emprego e já não para assegurar o transporte das pessoas." O que andamos a fazer e as razões para tal nunca são as que pensamos se deixarmos de crer nisso.

Para não cairmos no cinismo, temos de concluir que não só não fazemos o que queremos, como queremos, mas a imagem que alimentamos sobre nós próprios é, de certeza, a que melhor convém às nossas ilusões.

Ateus? Ou crentes no 'Sunset Boulevard'  e na Economia  Política?

Ora, voltando a Francisco. Não é a sua figura, o seu exemplo, neste  tempo de descrença programada, de 'fake news' como lhes chamam, de cinismo sem trela,   a melhor demonstração de que precisamos de boas crenças, tão ameaçadas pelo mundo 'profano' como a cidade humana pela catástrofe climática?

E como acreditar quando se sabe  que é uma crença, mesmo sendo a melhor? É o diabo. Sobretudo as perguntas certas são por ele inspiradas, mesmo se não se acredita nele nem na ideia do pecado. 

O diabo é simplesmente a fadiga. Já dizia Émile Chartier que nos cansamos de ser sempre platónicos (ou católicos, islamistas ou ateus consequentes)  e que isso explicaria o aparecimento de Aristóteles. "É preciso  viver; e isso, todavia, foi o que Platão nunca disse."

POESIA

Helena Serôdio




CONSUBSTANCIAÇÃO


 


Criei-te belo,
Viril,
Perfeito.
E voaste do meu pensamento
Com possantes asas de condor,
Garras de águia com dedos de flores,
Olhos de abismo,
Corpo e alma livres como o vento!

Não sei se tu existes
Ou se vives só dentro de mim.
Mas o meu olhar é espelho da tua imagem,
Na minha boca fala o teu silêncio,
Nas minhas mãos vibram os teus gestos!

Em ti começa e acaba o que não tem fim... 

Tu só és real quando te corporizas em música 
E dela se evola a tua presença.
Quando
Os teus braços se estendem para a minha fragilidade
E a firmeza dos teus pulsos me sustem.
Quando
O teu sorriso se enflora como um jardim
E num cântico de ave
A tua voz incendeia os meus ouvidos.
Quando
O sonho é uma fuga para o espaço
Que nos leva a um paraíso interdito
E tu trazes o perfume da noite
Em que hei-de morrer contigo.
Quando
Há uma pausa esquecida no tempo
E num breve interlúdio de amor
A tua sombra se une à minha.
Quando,
Subitamente,
O teu beijo perpetua esse instante
E o instante eterniza a minha vida!...

REFLEXÕES À SOLTA

Mário Martins

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“(já que) as reflexões são os acontecimentos da vida moral.”

Honoré de Balzac , “Ilusões perdidas”


Segundo a Cáritas, em Portugal há meio milhão de pessoas na situação de extrema pobreza, e a população sem abrigo continua a aumentar. A crueza desta realidade, objecto de cíclicas notícias e de misericordiosa caridade, parece, no entanto, ser estranha à política do costume. A pobreza tem futuro.

A atitude de quase toda a Oposição, de exigir mais e mais esclarecimentos sobre a “empresa de consultoria de gestão, orientação e assistência operacional a empresas ou organismos”, anteriormente criada pelo Primeiro-Ministro é, certamente, a que mais convém a Montenegro, porque relega para segundo plano o facto de, através da sua família mais chegada, não se ter desligado dela, pelo menos aquando da sua posse como chefe do governo. Que autonomia poderá ter o Primeiro-Ministro nas decisões do Governo relativas ou abrangentes aos clientes da sua empresa oportunamente transferida para a esfera familiar? Esta é a questão central à qual não é preciso nenhuma comissão parlamentar de inquérito para responder.

O programa e o modus operandi da actual administração americana colocam na ordem do dia a velha questão de saber se a política seguida é objectivamente determinada pelas condições existentes, ou se é resultado subjectivamente definido pela nova liderança. Se é certo, na crítica do democrata Bernie Sanders, que o partido azul se esqueceu da classe trabalhadora, parece, no entanto, claro que o programa radical e voluntarista que está a ser executado a todo o vapor, está muito para além de constituir uma resposta aos problemas. Um misto de carisma e narcisismo do líder, desprezo pela verdade factual, ideologia e propaganda, sobrepõe-se, de uma forma errática e perigosa, a roçar a autocracia, às condições objectivas.

Paradoxalmente, o namoro yankee com o urso russo poderá diminuir a turbulência actual das relações internacionais, ainda que à custa da soberania de nações mais fracas. E se em plena vigência da guerra fria, os americanos procuraram tirar partido do diferendo sino-soviético, cativando os chineses para enfraquecer o rival, agora tentam separar os russos do gigante económico chinês; tudo se passando entre as três superpotências nucleares, à semelhança do que acontece no futebol português, em que há um campeonato dos três grandes e outro dos pequenos. Nas palavras de Armando Marques Guedes, professor catedrático jubilado, especializado em Direito e Segurança, na entrevista ao canal Now de 2 de Abril passado, “O que as superpotências buscam são esferas de influência. O resto é cascalho...”

A corrente de opinião que defende a paz contra a guerra, é apelativa mas simplificadora. Perante as invasões napoleónica e nazi, o que fizeram os russos? E o que se esperava que fizessem os ucranianos face à invasão russa e ao ataque declarado à sua soberania? Que opção tomar, numa terra apelidada de santa, reivindicada por dois povos que, contra todas as resoluções, não querem partilhar, e perante o morticínio de Gaza que mesmo um ataque terrorista a civis não pode justificar? E se Portugal fosse invadido, o que deveria fazer?

Salvo no domínio científico, as sociedades humanas não aprendem com os erros, sejam eles os mais trágicos, repetindo-os, sob novas roupagens, ao longo das épocas.

A rematar, um problema filosófico que tem tanto de interessante como de intrincado. Na coluna semanal da Revista do Expresso, de 14 do passado mês de Março, Pedro Mexia (antes de lhe dar o “tranglomanglo”, descrito na Revista em 28 do mesmo mês) cita o filósofo holandês Bento de Espinosa (1632-1677): “Pedro, por exemplo, é algo de real; porém, a verdadeira ideia de Pedro é a essência objectiva de Pedro e, em si, algo de real e totalmente diverso do próprio Pedro. Sendo, portanto, a ideia de Pedro algo de real, com a sua essência peculiar, será também algo de inteligível, isto é, será objecto de outra ideia, a qual terá em si objectivamente tudo o que a ideia de Pedro tem formalmente e, por sua vez, a ideia, que é a ideia de Pedro, tem igualmente a sua essência que pode também ser objecto de outra ideia.” “Quanto às restantes coisas relacionadas com o pensamento, como o amor, a alegria, etc., não me detenho; pois, nem interessam ao nosso presente propósito, nem tão-pouco se podem conceber, a não ser que se perceba o entendimento.” Mexia, confessando que ficou “preso nesta gincana três quinze dias” (a teoria, em cascata, de Pedro), conclui: “E assim, se mal estava, pior fiquei.”  

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