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01/08/23

A SONDAGEM

Mário Martins

(https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=sondagem+imagens)


“A esmagadora maioria dos portugueses está insatisfeita com a vida no país”
Expresso, 9Junho2023



No Dia de Portugal, comemorado, como habitualmente, em 10 de Junho passado, o Semanário Expresso deu à luz uma sondagem, que decorreu entre 13 e 28 de Maio, sobre o Estado da Nação, tal como é visto pelos portugueses.

No momento em que algumas potências mundiais, na assanhada batalha por uma nova “ordem” global, afirmam o seu desdém pelos regimes democráticos e a liberdade política (sem a qual a democracia é uma farsa), considerando-os anquilosados face aos seus regimes centralizados, cada um à sua maneira, mas todos sem liberdade individual e separação de poderes, supostamente mais funcionais e representativos do “interesse” do povo, é publicada em Portugal, um dos países com “problemas nas articulações”, uma sondagem que dá o “Retrato de um país profundamente insatisfeito”. Em que regimes isto é possível senão nos “anquilosados”?

Os sub-títulos do Expresso são reveladores da percepção do estado das coisas:
Habitação, distribuição da riqueza e impostos lideram descontentamento.
-  Portugueses confiam na Polícia, Forças Armadas, Presidentes de Junta e em Marcelo.
-  Desconfiam mais dos partidos, Governo, Parlamento e Igreja.
-  Pedem mais participação na política e mais referendos.
-   Eleitores de esquerda são os menos pessimistas.

Estas matérias merecem alguns comentários:
Se quanto à habitação e à distribuição da riqueza o descontentamento é perfeitamente compreensível, já quanto aos impostos a questão é mais complexa, sabido que a fuga aos mesmos é um “desporto nacional”, e que, sem eles, o Estado não pode assumir cabalmente o seu papel na Saúde, Educação, Habitação, Justiça e nos diversos serviços públicos. Seria expectável, aliás, uma descida dos impostos se boa parte dos que escapam à malha fiscal fosse apanhada.

E se a percepção é (para variar…) a de um país em crise, é natural que os portugueses queiram mais músculo, corporizado na Polícia e nas Forças Armadas, estas enquanto último reduto dos valores nacionais e tradicional viveiro de “salvadores da Pátria”.

É igualmente compreensível, por outro lado, que os portugueses confiem mais nos Presidentes de Junta, mais próximos das populações, do que nos Presidentes de Câmara, mais sujeitos a processos de corrupção, embora também confiem nestes, mas menos (5 pontos percentuais).

Quanto ao actual Presidente da República a proximidade diária do povo explica tudo, para lá da desconfiança no Governo.

Por seu lado, a nossa partidocracia, que nenhum partido quer alterar, espelha-se num parlamento sem tribunos à altura (como já teve), que dá uma imagem, porventura um tanto distorcida, de pouco ir além de alimentar os noticiários da televisão, para lá de gozar da má fama de o interesse público se encontrar, muitas vezes, ausente da sua produção legislativa. 

E o mínimo que se pode dizer do actual governo de maioria absoluta, é que transmite a imagem de um governo trapalhão, sem timoneiro à altura, o que não quer dizer – sublinhe-se – que se houvesse eleições antecipadas, o actual líder socialista fosse derrotado, tal dependendo, essencialmente, da credibilidade da alternativa.

Quanto à desconfiança na Igreja, esse último baluarte de refúgio, digamos que ela vive o seu calvário pelas razões escandalosas, mas não surpreendentes, de todos conhecidas.

O desejo de mais democracia directa, nomeadamente na forma de referendos, afigura-se, por seu turno, como consequência directa da desconfiança na democracia representativa, tal como está a ser praticada.

Por último, o Expresso subtitula que “Eleitores de esquerda são os menos pessimistas”, mas seria mais correcto, em consonância, aliás, com o que é referido no corpo do artigo, que subtitulasse “Eleitores socialistas são os menos pessimistas”

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