Em 1912, Sidónio Paes era Ministro de Portugal em Berlim
CORRESPONDÊNCIA ENTRADA NO GOVERNO CIVIL NO ANO DE 1912
AO DELEGADO DO GOVERNO DA REPÚBLICA NO DISTRITO DO PORTO
"Vae decorrido o período de agitação e entramos emfim numa época normal. Sem vigílias nem trabalhos estenuantes de defeza da Republica, ás lutas e ás convulsões sucedáneas duma mudança de regímen vae seguir-se um período de ordem, de paz e de trabalho:
Consequentemente dentro da ordem e do trabalho, a coberto da mais perfeita legalidade vem, o “ Grupo Defeza da Republica”, apresentar-vos duas espécies de notas reclamativas, cujo teor espera comunicareis ao Governo da Republica , convencido de que as defendereis no que elas tem de nobre e de justo!
Estas reclamações interessam - uma diretamente ao Grupo - e as outras- á cidade do Porto, egualmente concorrendo para o prestigio e consolidação do Regímen.
Não vos faremos, por demasiadamente a conhecerdes, a istória desta corporação composta na sua quasi totalidade pela classe proletária, embora um núcleo bastante numeroso da chamada classe média , lhe tenha dedicado o melhor dos seus esforços! Vós, como o vosso antecessor inexquecivel, o Dr.Rodrigo José Rodrigues, com a maior atenção tendes tratado esta instituição que, por isso, como áquele, vos professa superior consideração!
Mas o caso é que, tanto vós, como o Dr. Rodrigo Rodrigues, não tendes encontrado nos poderes legislativo e executivo, o necessário apoio para demonstrar práticamente que a Republica, irradiando da capital já chegou ao Porto, porque, sejamos sinceros e verdadeiros - na Cidade que a Portugal deu o nome - ainda se não fez Republica!
Os processos políticos, são ainda os mesmos dos tempos ominósos! Politica de interesses, de favor, de empenho protecionista, a situação económica das industrias e do comércio estão estacionárias e a da classe proletária e da classe média agrava-se em virtude do encarecimento dos géneros de primeira necessidade e do aumento do custo dos alugueres, em contraste ao estacionamento dos proventos e salários auferidos!
Medidas de fomento, se fôram promulgadas em dezasseis meses de Republica, o seu bafejo beneficiador ainda não foi sentido no Porto; o estabelecimento de Bairros Operários, a creação de Cooperativas de Crédito e Consumo, a proteção aos menores e mulheres nas fábricas, a estética da Cidade, o melhoramento do tráfego marítimo, a edificação de caes acostáveis , a dragagem do rio Douro , as obras do Porto de Leixões, as reformas da Policia, do Socorro Mutuo, da magistratura numa orientação de equitativa justiça, continua tudo na massa do impossíveis!
A Viação Elétrica, os fornecimentos de Àgua e de Iluminação , entregues a companhias que constituem verdadeiros estados dentro do estado e parecem apostadas em tornar cada vez peores os seus serviços!
O estado das ruas, como ainda há pouco sentiríeis por ocasião da visita ao local da catástrofe de Miragaya , ao passardes no lodaçal que se chama Rua da Alfandega, é simplesmente primitivo!
Alem disto a atmosfera politica é orrivel; o antigo cacicáto, apelidado de DONOS DO PORTO continua a imperar directamente sobre todas as forças vitaes da população citadina, agravando-se essa pressão pela junção de novos caciques que, pertencendo ao Partido Republicano, numa anciã interesseira, formaram essa plêiade autocrática que o vulgo já crismou de NOVOS DONOS DO PORTO!
È neste momento que o GRUPO DEFEZA DA REPUBLICA, que não segue homens mas luta e sempre lutará pela comsecussão dos fins estabelecidos no programa do antigo partido Republicano, resolve entregar nas vossas mãos as referidas notas reclamativas:
(a continuar)
PORTO 28 FEVEREIRO DE 1912
GRUPO DEFEZA DA REPUBLICA
(Dois nomes ilegíveis) "
( RESPEITAMOS A GRAFIA DA ÉPOCA)
QUALQUER SEMELHANÇA COM O ANO 2007 É MERA COINCIDENCIA.
Júlio Soares
Sem comentários:
Enviar um comentário