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30/10/07

O RESPEITO

Dina La-Salette

"Zéro de Conduite" (1933-Jean Vigo)


Como deverá ser ensinado a uma criança o respeito pelos pais (ou avós)?

O que é para nós o respeito?

Penso que esta palavra é geralmente sinónimo de receio, como se pode observar nas crianças que “respeitam” professores severos (ainda os há nos primeiros anos de escolaridade). No dicionário, respeito quer dizer sentimento de estima devido ao mérito. Mas se as crianças não acharem os pais (os ou avós) dignos de estima, poderemos forçá-los a crer que estes merecem o seu respeito ?

Há qualquer coisa de infantil nos pais que exigem respeito dos filhos, porque é evidente que não conseguiram inspirar a sua afeição, e por essa razão tentam obter deles algo parecido com amor. Os pais que são francos e justos para com os seus filhos não precisam de exigir-lhes respeito. E o mesmo se passa com os avós.

Como é que uma criança pode respeitar uma mãe que ralha continuamente com ela, ou um pai que está sempre a gritar ? Como é que essa mesma criança pode respeitar pais que mentem? Ou como é que essa criança pode respeitar uma mãe que se deixa agredir física ou psicologicamente pelo marido?

Quanto aos avós, geralmente há dois tipos: os que dão demasiados mimos aos netos, com o pretexto que os pais não os sabem educar, e os que vêem neles uma ameaça às suas convicções. Estes últimos detestam ver os jovens de cabelos compridos ou com penteados “esquisitos”, que usam uma linguagem pouco convencional (incompreensível para eles), que só pensam em festas e em música pop (ou hip-hop...) Por sua vez, os jovens não apreciam as suas interferências e as suas lições de moral.

Ainda há um fosso considerável entre um avô de 70 anos e um neto de 10 ou 12. Não vale a pena iludirmos esta questão: os velhos e os jovens não falam a mesma linguagem e não têm os mesmos interesses. A maior parte dos avós estão amarrados aos pontos de vista da sua geração e ajustam-se mal aos costumes e modas novas.

Voltando aos pais, quando o diálogo com os filhos se reduz aos estereótipos como “hoje está bom tempo”, “veste o kispo porque está frio”, “como é que correu hoje a aula?”. etc., os jovens acabam por rejeitar cada vez mais qualquer tipo de conversa. Mais tarde estes pais irão sentir um imenso sentimento de culpa por acharem que não foram suficientemente afectivos e atentos para com os filhos. Sentir-se-ão também imensamente defraudados e frustrados pela falta daquilo que consideram o respeito que os filhos lhes devem.

Talvez a solução esteja no saber rir, tolerar, comunicar a tempo com os filhos (e os avós com o netos) porque o humor e o ódio ou a indiferença não conjugam entre si. Em vez de exigirem “respeito”, ralharem ou castigarem um filho que chamou “bruxa” à mãe ou “idiota” ao pai, não esquecendo que tal não significa, na maioria dos casos, que esse filho deixou de amar os pais.



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