Haverá uma fisiologia da política?
As nossas adesões estarão de algum modo condicionadas pelo nosso temperamento, pela nossa constituição física? Um mau fígado ou um estômago fraco imporão certas escolhas?
Nem me refiro sequer à conhecida influência da idade em tomadas de posição mais conservadoras (chega sempre um dia em que o inconformista e o rebelde têm de lutar pelo "seu" mundo em declínio).
Também não estou a pensar na mais que certa inclinação (geralmente no sentido contrário, por afirmação própria) que os que chegam à política trazem do ambiente familiar.
Parece-me não restarem dúvidas que, para simplificar o que de outro modo seria extremamente complicado, recorremos, mais ou menos todos à caricatura ou à fábula.
Poderíamos ver então a política dos nossos dias como um cenário com grandes e pequenos animais, uns que voam, outros que rastejam, que são ungulados ou não, mas que, sobretudo, falam como a gente?
Se pensarmos bem, há certas ideias sobre a política que funcionam no sentido da fábula, como simplificações expeditas. De tal modo, que uma classificação aparentemente mais sócio-política adquire, pelas suas formas diferenciadas e hierarquizadas, ou pelo seu contorno moral, uma consistência zoológica.
Encontramos logo, muito convenientemente, a forma do animal, sem ter de lhe descobrir o carácter, nem sondar o pensamento (ou os rins).
Assim, sabemos que um porco há-de sempre pensar em bolota e que um chacal pensará obviamente em carne podre.
É muito curioso como as ideias mais abstractas e altamente teóricas da filosofia política, vieram rolando pela encosta da vulgarização até chegar ao solo da Esopeida.
Não é preciso dizer que este mundo da fábula tem também a sua moral, senão não serviria de muito.
O mais baixo da escala é o réptil, pelo menos na nossa cultura, se bem que, noutras paragens, possa ser considerado um deus.
Não há, contudo, sistema perfeito. O problema do ornitorrinco impede-nos de considerar Lineu como o maior dos filósofos políticos.
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