StatCounter

View My Stats

01/12/25

POESIA

Helena Serôdio




CONTRADIÇÃO

Idealizo teu rosto
De límpidas feições
Desenhadas no vento.
Os teus cabelos cinza,
Revoltos,
Que o sol incendeia,
Rolando em ondas de luz sobre a tua cabeça.
Os teus olhos escuros,
Profundos,
Serenos, como noites estivais
Em que o céu e o mar se fundem como duas gotas de chuva!

E não sei compreender que estranha pureza
Modelou as formas do teu corpo,
Que música suave escorre dos teus gestos,
Me embala
E me faz cativa dessa tua beleza!

Aventuro-me no abismo do teu olhar,
Tentando devassar o enigma do teu íntimo.
Debruço-me sobre o mapa complexo da tua anatomia,
Estudo todos os ângulos dos teus movimentos,
Analiso cada gesto e cada átomo,
Cada célula do teu ser,
Penetro em todos os teus órgãos,
Navego nas tuas veias,
Caminho nessa floresta virgem dos teus nervos,
Revolvo as tuas entranhas,
Mas não desvendo o secreto lugar onde se esconde a tua alma…
Inacessível,

Intacta,
Muralha de silêncio e de mistério,
Tua alma indecifrável
É umbral que eu não transponho.

E eu estarei sempre só,
Presa a um mito,
Perdida num labirinto de dúvidas
Buscando em vão a verdade…

( A alma é um rio sem margens
Em que nós ousamos singrar
Através das neblinas,
Escolhos
E águas revoltas,
Sem nunca encontrar um horizonte.
É uma longa travessia sem rumo,
Em que todos naufragamos…).

Mas se és tão único e singular
E tens em ti a poesia,
A música,
O céu ,
E o mar,
Para que quero eu a tua alma?


Sem comentários:

View My Stats