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01/12/19

PERIGO À VISTA

Mário Martins



https://www.google.com/search?q=partido+chega

                                                                  “Daqui a oito anos seremos o maior partido de Portugal”
                                                                   André Ventura, líder do Chega



No jornal Expresso de 19 de Outubro passado, Francisco Louçã aconselhava que não se leve a sério o novel deputado André Ventura, líder do partido “Chega”, antes o tratemos como, há muitos anos, a poetisa Natália Correia tratou o colega parlamentar João Morgado, ridicularizando com o célebre poema do “truca-truca”* a sua posição de defesa das relações sexuais exclusivamente para fins de procriação, no quadro da discussão do aborto. A ideia, compreensível, de Louçã, é não fazer o jogo do “emproado carreirista”, dando-lhe importância e publicidade desproporcionadas.

No entanto, se Morgado estava sozinho na sua peregrina cruzada, não é o caso de Ventura, que, em entrevista ao jornal Público, apesar de negar ter recebido financiamento de movimentos ligados a Steve Bannon (ideólogo populista americano) ou a Jair Bolsonaro, reconhece ligações a partidos populistas, se não de extrema-direita, como o espanhol Vox, que recentemente teve uma espectacular subida eleitoral, a Liga italiana e os partidos dos governos “musculados” dos países do Grupo de Visegrado, como a Hungria e a Polónia. E o seu discurso “anti-sistema” fará as delícias dos órgãos de comunicação, sempre ávidos de novidade e escândalo, a bem do negócio. Ventura sabe que quanto mais básico, radical e escandaloso for, maior publicidade e “alertas CM” terá.

O populismo, entretanto, está a ser estudado. Duas semanas antes da edição do jornal Expresso, em que Louçã dava a táctica política para lidar com Ventura, podíamos ler, na revista do mesmo jornal, um excelente artigo sobre o populismo, da autoria de Lourenço Pereira Coutinho, doutorado em História Institucional e Política Contemporânea. Nele, define-se que “populismo e populista são conceitos que partilham uma retórica demagógica, uma visão maniqueísta da sociedade, uma lógica de confronto e, sobretudo, o apelo directo às massas”. Não custa imaginar que Ventura, que ambicionará ser o Salvini português, e o Chega vão seguir esta receita para tentarem atingir o objectivo proclamado de serem o maior partido em duas legislaturas. Para já, e visando seduzir o eleitorado moderado, Ventura diz, na entrevista ao jornal Público, que não gosta de ser intitulado de extrema-direita e afirma defender a democracia liberal. 

A ascensão deste partido populista só poderá ser travada de duas maneiras: com uma governação que transmita o sentimento de resolução dos problemas e de diminuição da corrupção e das injustiças, e com uma recuperação da direita institucional. Sobretudo se esta última falhar, o Chega estará nas suas “sete quintas”.

Ventura não aparenta ter convicções políticas sinceras, mas, se as tiver, tanto pior. Salazar foi, indubitavelmente, um político de convicções…

*Truca-Truca


Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o órgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

2 comentários:

Unknown disse...

Novel é acentuada na última sílaba, logo, não leva acento...
(:-) G.M.

José Ames disse...

Obrigado.

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