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01/02/17

BERLUSCONI, BENNY HILL E TRUMP

Mário Faria
https://www.youtube.com/watch?v=2RMX6yiqvbs


1) Travar os comunistas, foi sempre a motivação maior de Sílvio Berlusconi. Era, na altura, um empresário de sucesso, um dos homens mais ricos de Itália, dono do clube de Futebol Milan, de canais e de vários outros negócios. No Outono de 1993 – quando a classe política italiana se desmoronava na sequência da operação anti-corrupção que ficou conhecida como “Mãos Limpas” – Berlusconi achou que tinha chegado a altura de entrar em campo. Tinha dinheiro, tinha um poderoso grupo de comunicação, tinha carisma, acreditava que era preciso pôr um travão à extrema-esquerda e, sobretudo, aos “juízes vermelhos”. Decidiu avançar. Força Itália, assim batizou o novo partido que imediatamente foi caracterizado como o “partido empresa”. Arrancou em 18 de Janeiro de 1994, mas foi a 26 que o acontecimento foi formalmente anunciado aos italianos, através de uma cassete de vídeo enviada para as televisões. “A Itália é o país que amo”, dizia Berlusconi e que serviu de slogan de lançamento do novo partido e assinatura das campanhas que se seguiram. Ninguém sabia o que esperar de um partido que era afinal, um homem. Berlusconi era o financiador, o ideólogo, a imagem, a força, a energia de “Força Itália”, nome inspirado no futebol, claro. O partido não tinha ideias, não tinha políticos, e sobretudo, não tinha base social. No entanto, em dois meses a Força Itália vencia as eleições, com 20% dos votos e três meses depois de ter decidido entrar na política, Berlusconi era o novo primeiro-ministro de Itália. As técnicas de marketing, a ideia de que um empresário de sucesso transformaria o país numa “empresa” de sucesso” tinha cativado os italianos. Mas também é evidente que mutos se reviam no discurso do medo nomeadamente da intromissão dos comunistas e dos sindicatos para travar as reformas estruturais a que se propunha. A euforia durou muito pouco e o primeiro-ministro vê-se forçado a demitir-se, devido aos desentendimentos entre os seus aliados, os pós-fascistas Gianfranco Fini, e o federalista e xenófobo Umberto Bossi. São muitos os que previram aí o fim da carreira política de Berlusconi. Enganaram-se. O político-empresário aguentou a travessia do deserto e regressou. A 13 de Maio de 2001, Berlusconi ganhou as eleições e foi novamente primeiro-ministro. E a saga continua.

2) Um jornalista associou Trump a um velho actor cómico inglês que dava pelo nome de Benny Hill e que há uns largos anos a nossa TV deu a conhecer. Loiro, extravagante, disparatado, corrosivo e um penteado semelhante ao do actual presidente dos EUA, poderia fazê-lo passar como seu sósia, ou vice-versa, melhor dizendo. As semelhanças acabam aí. O facto de Trump ser ridículo na sua expressão corporal não diminui a séria ameaça que representa para o mundo. E sim: deve ser levado a sério. O Benny Hill era um notável comediante que soube aproveitar os temas de escárnio e mal dizer para deles nos rirmos como se nada fosse connosco. E foi brilhante, à sua maneira. Gosto de pensar que não pouparia Trump se fosse vivo.

3) José Pacheco Pereira escreveu no Público: “Pois deitem salvas e foguetes, uma personagem destas chegou a Presidente dos EUA. É um populista e um demagogo clássico? Também é, mas é mais moderno do que clássico, mais novo do que antigo. Esqueçam a senhora Le Pen (não, não esqueçam), um produto reciclado da extrema-direita francesa, uma das que têm maior história na Europa, porque Trump é outra coisa, com outra história, outros know-how, outros riscos enormes para a democracia e a paz do mundo. Trump é um populista e um demagogo, mas também é um revolucionário, quer realmente mudar as coisas, nem que para isso tenha de levar tudo à frente.”

4) Basta ler o perfil, o projecto e a caminhada de Berlusconi para concluir que o plano de Trump lhe segue as pisadas ao nível macro, pois assenta no imenso sucesso pessoal e empresarial e que dele se serve como legitimação para o programa e modelo de governação. E os medos, anseios, oportunidades, riscos e promessas, constituem o cimento que serve para consolidar um poder que se estima tenha escassa regulação. Hoje, o perigo do comunismo está controlado e emerge a ameaça do terrorismo islâmico, a instabilidade em consequência da onda de emigrantes, exilados e refugiados que procuram o ocidente e provocam severas políticas anti-imigração a roçar a xenofobia. Trump vai seguir o seu programa sem hesitações. Para além dos anos que os separam, a grande diferença entre Berlusconi e Trump é de escala. Um primeiro ministre de Itália não tem o poder do presidente da superpotência e isso marca toda a diferença. Os tiques e o tom ordinário também os aproximam. Por tudo isso e bastante mais, considero Trump um perigoso reacionário. Afinal, ele pretende regressar ao passado ainda que seja um hábil manipulador das redes sociais.

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