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Tinha uma grande paixão pela pintura que ganhava expressão nas aguarelas. De uma beleza e transparência quase divinal. Mas era e é preguiçoso. Foi perdendo a vontade de viver a cor. Foi aprofundando mais a utilização da paleta do cinzento claro ao preto. E intensificava a geometria que punha nas suas criações livres, claramente influenciado pelo curso que concluíra e que lhe assegurou o ganha-pão. Integrou uma equipa de arquitectos. Gabinete de prestígio na cidade do Porto.
Tinha uma grande paixão pela pintura que ganhava expressão nas aguarelas. De uma beleza e transparência quase divinal. Mas era e é preguiçoso. Foi perdendo a vontade de viver a cor. Foi aprofundando mais a utilização da paleta do cinzento claro ao preto. E intensificava a geometria que punha nas suas criações livres, claramente influenciado pelo curso que concluíra e que lhe assegurou o ganha-pão. Integrou uma equipa de arquitectos. Gabinete de prestígio na cidade do Porto.
Um pequeno círculo de amigos sustentava as suas fobias, medos, exaltações e momentos, muitos, de grande introspecção. Foi assumindo uma atitude marginal. A guerra azedou-lhe o ser. A dor de ver amigos partir e regressarem para lágrimas serem carpidas fizeram-no escolher o lado escuro da vida. E aí foi assistindo com ironia e mordacidade à maldade do Homem. O veneno ia-se instilando e ele deixava que lhe fosse penetrando nas veias. Esteve indiferente às transformações que a sociedade nova foi construindo, destruindo e reconstruindo. Abandonou a dádiva ao outro. Poucos se lhe aproximavam e os que o conseguiam notavam-lhe a frieza de alma.
A sua figura em termos estéticos, visíveis, vinha assumindo uma certa singularidade. Desde há muito que passara a andar de boina basca, que lhe escondia uma cabeleira forte e grisalha, deixando à mostra um rabo-de-cavalo muito bem arranjado. Roupa larga e cores lúgubres. A tiracolo, trazia uma bolsa, em ganga, forrada a flanela aos quadrados vermelhos e pretos. Uma bonita peça de artesanato puro que tinha sido pertença do amigo Diogo, seu condiscípulo.
Com quem partilhou um apartamento na zona das Fontainhas, com amplas quatro assoalhadas. Numa delas, com vista para o Douro, tinham montados os seus estiradores onde davam largas à sua criatividade mas também onde executavam algum trabalho fora do circuito normal das suas responsabilidades profissionais. Espaço de grandes tertúlias, grandes farras e de expressão pura e dura de emoções. Também de consumos e hábitos fora dos cânones. O amigo finou-se, cedo. Corroído pela doença, de que não interessa saber a origem, mas que deu paz a uma certa rebeldia incontrolável por opção consciente. Desde que Diogo partiu manteve-se no mesmo apartamento. Mas agora o espaço era imenso e sombrio. Muitas vezes, mesmo de dia, angustiado, saía de lá com medo. Assustava-o o vazio da sua ausência. Olhar para o rio já não lhe dava sossego e paz interior.
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