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01/07/08

TEMPOS DIFÍCEIS

Manuel Joaquim

José de Almada Negreiros


As primeiras cinco décadas do século passado foram muito difíceis para a maioria da população portuguesa por falta de trabalho, de alimentação, de habitação, de saúde e de tudo o resto.

No período da 2ª guerra mundial, alguns produtos alimentares, como as farinhas, o azeite e o açúcar, eram racionados, através da atribuição de cadernetas e de senhas de racionamento. Os combustíveis também eram racionados. As pessoas com mais dificuldades vendiam os produtos comprados com as senhas de racionamento para comprar, com o dinheiro conseguido, outros produtos alimentares mais necessários para as suas famílias. Alimentavam e alimentavam-se do mercado negro. Em muitas casas foi o tempo em que uma sardinha era para três pessoas. A carne estava praticamente ausente das refeições. Comia-se o caldo de unto, com couves do quintal, produtos duma produção doméstica. Uma parte significativa da população andava descalça, especialmente as crianças e as mulheres. Os socos, as chancas e as alpercatas passaram a ser usadas com a proibição de andar descalço na via pública, sendo a infracção sujeita a aplicação de multa pela polícia.

Com a instauração da república o ensino em Portugal evoluiu significativamente. Mas com a instauração do fascismo o ensino obrigatório não era tão obrigatório quanto isso. Nos primeiros tempos a grande maioria da população trabalhadora era analfabeta e quando os seus filhos frequentavam a escola não passavam do 1º grau da instrução primária que correspondia à 1ª e 2ª classes, primeira fase do ensino obrigatório, ensinada em grande parte do território por regentes escolares. Os portugueses só precisavam de saber ler, escrever e contar….

Com oito e nove anos e às vezes com menos idade, muitas crianças entravam no mercado de trabalho, abandonando a escola e às vezes a própria família, pois tinham de produzir para o seu próprio sustento. Enveredavam pelas profissões dos pais e de outros familiares por ser mais fácil. Quando havia um pouco mais de desafogo financeiro da família e alguns conhecimentos, procuravam uma profissão de maior qualificação mas não raras vezes tinham de pagar para aprender.

Os rapazes quando pretendiam uma féria para entregar à mãe para governar a casa, o mais certo era irem para moços de trolha. Começavam por carregar tijolos e a gamela da massa à cabeça. Os que eram oriundos das zonas da Maia, dos Carvalhos, Avintes, Perosinho e Sandim vinham muitas vezes a pé trabalhar para a cidade do Porto e regressavam a casa ao fim do dia pela mesma forma, com bom ou mau tempo.

Nos anos 50, muitas semanas só tinham três dias de trabalho em consequência da crise que se vivia e os operários só recebiam os dias que trabalhavam pois não beneficiavam de subsídio de desemprego, apesar de já estar institucionalizado e existir a respectiva tributação a que estavam sujeitos os trabalhadores e os patrões.

É evidente que com os filhos das classes abastadas nada disto se passava. Os grandes colégios internos e externos floresciam. O ensino primário era ministrado particularmente no próprio domicilio dos alunos. Tocar piano e falar francês ou alemão era sinal de classe social.

A existência, hoje, de concorridas escolas estrangeiras, evidencia condições de aprendizagem e de educação muito diferentes para as nossas crianças e jovens.

Uma parte significativa da actual população activa portuguesa conheceu directa e indirectamente estas condições de vida. São estas camadas sociais que estão agora a sofrer as consequências da crise que presentemente estamos a viver, que não é só económica e financeira.

Em que condições são instruídos e educados os seus filhos? Qual será o seu futuro?


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